Roberto Policiano

18 de mai. de 2012

Auditoria


Domingo à tarde. Chovia torrencialmente. Desistiu de sair, mas o que fazer? Sentou-se na poltrona da sala de estar; estirou as pernas; esticou os braços longa e demoradamente; bocejou à vontade; largou o corpo relaxado na poltrona e deixou-se ficar assim por vários minutos. Sentiu a necessidade de fazer uma auditoria de sua vida. Tirou o baú do recôndito de seu cérebro; eliminou as teias de aranha; espanou a tampa a fim de se livrar do pó e, com o coração acelerado, abriu o móvel bem devagar. Resolveu contar as lágrimas estocadas. Foi um trabalho doloroso e corajoso. Ao término da contabilidade teve uma triste surpresa – havia mais lágrimas do que as que derramara. Cruzou as pernas, apoiou um dos cotovelos no braço da poltrona, pousou o queixo na mão do braço apoiado, e deixou-se levar em pensamentos. Os olhos, tristes e embaçados, logo ficaram cheios de água, acrescentando lágrimas à sua coleção, pois concluíra que as excedentes foram as lágrimas que causara em outrem. Refletiu um longo tempo sobre a descoberta. Tentou reviver cada situação onde as lágrimas nasceram e participou do longo jogo de autoabsolvição e autocondenação. Suspirou profunda e demoradamente e tomou uma resolução – a mais significativa de sua vida: daquele dia em diante se esforçaria para não acrescentar nenhuma lágrima alheia ao seu baú. Objetivara que, no futuro, ao fazer nova auditoria, se encontra-se algumas lágrimas adicionais, que sejam apenas as suas!
Roberto Policiano