Aposta
Como toda sexta-feira após o expediente ele se encaminhou para o supermercado a fim de fazer as compras para a próxima semana. Além das mercadorias costumeiras, levava consigo uma lista de materiais de limpeza que a faxineira diarista deixara na semana anterior. Ficou contente quando percebeu que as filas dos caixas não estavam muito longas. Escolheu uma que lhe pareceu a mais vantajosa e esperou a sua vez de ser atendido. Olhou a esmo em algumas direções do ambiente que, por lhe ser tão familiar, não chamava muito a sua atenção. Enquanto isso repassava na mente o que havia planejado para o final de semana: No sábado de manhã levaria a roupa para a lavanderia e, aproveitando a viagem, deixaria o carro no lava rápido. Depois disso deveria fazer a visita ao seu tio Laércio, conforme prometera por telefone, a fim de ajudá-lo no conserto do vazamento que apareceu no cano da pia da cozinha. Logo após almoçaria no “Almôndegas” e então levaria os livros que emprestara na biblioteca há duas semanas. Na volta passaria no... ficou um longo tempo perdido em seus devaneios até sentir um toque em seu ombro direito. Era uma senhora simpática que estava atrás dele na fila avisando-o que o caixa estava vazio e a funcionária esperava por ele. Agradeceu timidamente e se dirigiu com certa pressa a fim de compensar a distração. Só então reparou na moça do caixa. Percebeu que ela era funcionária nova ou mudou de horário de trabalho, pois teve a impressão de nunca tê-la visto antes. Sua fisionomia chamou-lhe a atenção a ponto de, indisfarçadamente, não conseguir parar de admirá-la, chegando ao ponto de, às vezes, ficar tateando a fim de apanhar alguns dos produtos do carrinho para colocar na esteira, fato este que não foi despercebido pela senhora simpática atrás dele que, atraída pela cena, esboçou um leve sorriso. Após registrar todos os produtos do rapaz, a funcionária, cumprindo seu papel, fez a pergunta costumeira:
- Deseja mais alguma coisa, senhor?
- Não... quero dizer, sim.
- Pois não, o que mais o senhor deseja?
- Você.
- Desculpe-me, mas não entendi direito, poderia repetir, por favor?
- Foi o que você entendeu mesmo, eu disse: você.
- O que o senhor quer dizer com isso?
- Dê uma olhada em tudo que estou comprado, por favor. É só para mim. Acho que não conseguirei consumir tudo isso em uma semana. Assim, o que eu quero mesmo, é compartilhar tudo isso com você, o que me diz?
A senhora, que era a única que aguardava na fila atrás do rapaz, não se incomodou com a demora que o diálogo provocou, antes, surpreendida com a atitude inesperada do cliente, prestou muita atenção em cada palavra da conversa, mais do que isso, estava atenta às comunicações paralelas entre os dois, feito apenas com as expressões corporais. Mas voltemos ao diálogo a fim não deixarmos a boa senhora aflita, pois ela não sossegará até saber o desfecho desta pequena história.
- Isso é uma brincadeira?
- Nunca falei tão sério em minha vida! Quero levá-la comigo junto com as compras.
- Mas você nem me conhece.
- Não sei se eu lhe falei ainda, mas eu adoro surpresas.
- Parece-me um convite um tanto arriscado, para não dizer ousado. O me que diz?
- Para falar a verdade, estou precisando movimentar um pouco minha vida e, estando com você, não me importo nem um pouco em correr altos riscos por ser ousado. E então, qual a sua resposta?
- Não se tira uma resposta tal como esta da manga. Preciso pensar.
A gentil senhora, cada vez mais admirada com a conversa, sorriu animada com esta resposta.
- Quando termina o seu expediente?
- Trabalho até o fechamento da loja?
- E quando é isso?
- À meia-noite.
- À meia-noite estarei esperando no estacionamento. Se interessar pela proposta é só se dirigir para lá. Meu carro estará na vaga B-7.
- É assunto sério ou é só uma aventura?
- Nunca falei tão sério.
Passava dez minutos da meia-noite quando a funcionária se encaminhou para o carro estacionado na vaga B-7. O rapaz, sentado no capô do veículo, já a esperava. Logo uma conversa, que parecia interessante, aconteceu entre os dois. Na vaga A-8, que ficava próxima, a boa senhora assistia a tudo com um sorriso enfeitando seu rosto e só lamentava não poder ouvir o que eles diziam.
Absurdo! Improvável! Loucura! Inconcebível! Delírio! Alguém poderá dizer. Eu sei, e concordo plenamente com todas as expressões de descrença anterior. Uma história assim poderia acontecer na proporção de uma em um bilhão! Ou até menos do que isso. Mas, sabe o que é? Hoje eu acordei ousado! Deixei a minha costumeira atitude conservadora de lado e resolvi arriscar tudo. De repente me deu uma vontade incontrolável de, mesmo sem conhecer as cartas, lançar todas as fichas na mesa e fazer uma grande aposta de que esta história vai dar certo.E então, aceita a aposta?
- Deseja mais alguma coisa, senhor?
- Não... quero dizer, sim.
- Pois não, o que mais o senhor deseja?
- Você.
- Desculpe-me, mas não entendi direito, poderia repetir, por favor?
- Foi o que você entendeu mesmo, eu disse: você.
- O que o senhor quer dizer com isso?
- Dê uma olhada em tudo que estou comprado, por favor. É só para mim. Acho que não conseguirei consumir tudo isso em uma semana. Assim, o que eu quero mesmo, é compartilhar tudo isso com você, o que me diz?
A senhora, que era a única que aguardava na fila atrás do rapaz, não se incomodou com a demora que o diálogo provocou, antes, surpreendida com a atitude inesperada do cliente, prestou muita atenção em cada palavra da conversa, mais do que isso, estava atenta às comunicações paralelas entre os dois, feito apenas com as expressões corporais. Mas voltemos ao diálogo a fim não deixarmos a boa senhora aflita, pois ela não sossegará até saber o desfecho desta pequena história.
- Isso é uma brincadeira?
- Nunca falei tão sério em minha vida! Quero levá-la comigo junto com as compras.
- Mas você nem me conhece.
- Não sei se eu lhe falei ainda, mas eu adoro surpresas.
- Parece-me um convite um tanto arriscado, para não dizer ousado. O me que diz?
- Para falar a verdade, estou precisando movimentar um pouco minha vida e, estando com você, não me importo nem um pouco em correr altos riscos por ser ousado. E então, qual a sua resposta?
- Não se tira uma resposta tal como esta da manga. Preciso pensar.
A gentil senhora, cada vez mais admirada com a conversa, sorriu animada com esta resposta.
- Quando termina o seu expediente?
- Trabalho até o fechamento da loja?
- E quando é isso?
- À meia-noite.
- À meia-noite estarei esperando no estacionamento. Se interessar pela proposta é só se dirigir para lá. Meu carro estará na vaga B-7.
- É assunto sério ou é só uma aventura?
- Nunca falei tão sério.
Passava dez minutos da meia-noite quando a funcionária se encaminhou para o carro estacionado na vaga B-7. O rapaz, sentado no capô do veículo, já a esperava. Logo uma conversa, que parecia interessante, aconteceu entre os dois. Na vaga A-8, que ficava próxima, a boa senhora assistia a tudo com um sorriso enfeitando seu rosto e só lamentava não poder ouvir o que eles diziam.
Absurdo! Improvável! Loucura! Inconcebível! Delírio! Alguém poderá dizer. Eu sei, e concordo plenamente com todas as expressões de descrença anterior. Uma história assim poderia acontecer na proporção de uma em um bilhão! Ou até menos do que isso. Mas, sabe o que é? Hoje eu acordei ousado! Deixei a minha costumeira atitude conservadora de lado e resolvi arriscar tudo. De repente me deu uma vontade incontrolável de, mesmo sem conhecer as cartas, lançar todas as fichas na mesa e fazer uma grande aposta de que esta história vai dar certo.E então, aceita a aposta?
Roberto Policiano
2 Comments:
Talvez dê... talvez não dê. De qualquer forma, estou a torcer por um happy end.
Bela narrativa onde o humor, a subtileza e a vivacidade se unem de mãos dadas.
Dê-lhes lá o tal final feliz, Roberto. É que a vida é tão cheia de dificuldades e marasmo que, de quando em vez, é bom sonhar.
Um abraço para si e para as suas personagens.
Concordo, Ana, SEMPRE é bom sonhar! Se temos que viver a vida real, pelo menos na ficção podemos chegar ao paraíso! Abraços
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