Roberto Policiano

10 de jul. de 2006

Fotografias

Entrou no escritório. Estava muito diferente desde a última vez que o vira, há cinco anos atrás. Foi até a estante. Já estudara muitos livros daqueles. Olhou as pastas de arquivo. Os assuntos eram os mesmos, mas as pastas eram novas. Em matéria de organização, poucas mudanças. Numa outra estante, uma moldura de mesa com uma foto sua. Pegou-a. Comparou a foto consigo. Fora tirada há cerca de quinze anos. O tempo fizera seu trabalho! Tirou a foto da moldura, pois tivera uma vontade inexplicável de apalpar o cartão que retratava seu passado. Virou-a. Para sua surpresa havia um poema seu escrito no verso. Nem se lembrava mais dele! Leu. Releu. Leu novamente. Tornou a ler. Emocionou-se com o que lera, como se aquele poema fosse escrito por outra pessoa. Sentira realmente tudo aquilo? Mentira? Não, não mentira. Sentira realmente o que escrevera. Os sentimentos externados ali foram reais, muito reais. Sentiu saudades. Uma emoção estranha veio acompanhada com ela. Não sabia precisar o que era, mas sentiu-a. Engraçado, pensou, é como rever uma emoção! Sim, era isso. Os versos fizeram com que ele sentisse novamente o que sentira no passado. Descobriu então que um poema nada mais é do que uma fotografia das emoções. Aquelas palavras descreviam exatamente as emoções que experimentara quando as escreveu. Não tivesse escrito aqueles versos, jamais sentiria o que acabara de sentir. Sorriu. Não foi um sorriso de alegria. Nem tampouco um sorriso de tristeza. Saudade? Talvez. “É, filosofou, acabei de ver uma fotografia do meu interior, daquilo que sentira há quinze anos atrás”. Colocou a foto na moldura. Saiu. Na mesa, no canto esquerdo, uma flor solitária, num pequeno vaso, implorava, através de suas pétalas murchas, um pouco de água fresca.
Roberto Policiano