Encontrei-os numa viagem de trem. Calculo que ele tinha cerca de oitenta anos. Sua expressão era singela. Seus olhos transmitiam um certo ar de inculpabilidade. Pareceu-me, também, ingênuo, e, por isso mesmo, a impressão que se tinha era que ele não levava uma consciência que o incomodava. Ao seu lado uma mulher que ele fazia questão de mantê-la agasalhada em seus braços. Aparentava cerca de sessenta anos. Tinha um aspecto sério. Transmitia uma certa rudeza em suas expressões. Naquele momento estava entretida com uma revista de caça-palavras. O seu homem não cansava de demonstrar-lhe afeto. Ora afagava seus cabelos, ora acariciava um de seus ombros, ora passava as mãos gentilmente por sua cabeça. Ela, aparentemente indiferente a tudo, continuava absorta no passatempo. Ele não percebia, ou não se incomodava, com tais detalhes. Parecia dominado por um prazer incomum ao ter aquela mulher junto de si. Permaneceu inquieto em quase todo o trajeto da viagem. Era como se não coubesse em si de tanto contentamento. Saí do trem com uma agradável impressão de que aquele homem era feliz.
Roberto Policiano
