Roberto Policiano

29 de abr. de 2008

Venha sem mágoas

Sim, eu quero que venhas. Desejo intensamente estar sempre ao teu lado. Só peço que venhas sem mágoas. Eu sei que é difícil, mas só pode ser se for assim. Vamos traçar uma nova linha de partida a começar de agora. Por favor, não me compare com ninguém que já conheceste, pois eu - como qualquer outra pessoa - sou singular. Venha com a alma e o coração desarmados. Esqueça o que leste em mensagens de correios eletrônicos que dão a idéia de que o homem e a mulher têm que se gradear a cada minuto da vida, como se os dois estivessem num campo de batalhas e fossem inimigos mortais. Se a maioria estiver agindo assim, vamos fazer parte da minoria! É possível, ao invés de participar duma guerra, unir nossas forças e nossos sonhos e, de mãos unidas, caminharmos numa mesma direção.
Roberto Policiano

22 de abr. de 2008

Contraste

Hoje eu olhei no espelho e vi refletir
O mundo em que vivemos, como que por mágica.
Vi um mundo que o homem não soube repartir;
Vi um grande contraste, uma imagem trágica.

Vi, naquele espelho, imagens contrastantes.
Uma retrospectiva do que fizemos até aqui.
Vi coisas bonitas, coisas impressionantes;
Castelos, mansões, iates lanchas, Jet ski...

Pessoas contentes, conversantes, bonitas,
Parecia até uma festa de artistas!
Bem cuidadas, bem produzidas, bem trajadas,
Era como um sonho, um conto de fadas.

E as crianças então? Bem cuidadas, rosadas.
Dava gosto de ver todas elas contentes
Envolvendo o ambiente de alegrias e risadas
Imaginando ser esta a sorte de todas as gentes.

Mas o espelho que é fiel em refletir a verdade,
Ia mais além do que mostrar as coisas belas,
Deixava-me ver tudo, toda a realidade,
Mostrava-me também miséria; cortiços; favelas...

Vultos que, reparando bem, também eram gentes.
Maltratados, malcuidados, maltrapilhos, indigentes,
Cabisbaixos sem esperanças, sem caminhos nem atalhos,
Era como um pesadelo, um desfile de espantalhos.

E as crianças então? Famintas, esquecidas
Por uma sociedade pela ganância entorpecida.
Dava pena de vê-las totalmente sem esperanças,
Não tendo nem o direito de serem apenas crianças.

Estas vidas contrastantes, no espelho refletidas,
Tocaram fundo em meu peito, calaram fundo em minha mente.
Fizeram-me refletir no contraste desta vida,
Fazendo-me, de repente, ter vergonha de ser gente!

Roberto Policiano

14 de abr. de 2008

Travessia

Era um domingo de manhã. O dia estava ensolarado. Eu estava sentado num banco duma praça pública observando a vida acontecer. Crianças enchiam o ambiente com seus folguedos barulhentos. Algumas soltavam pipa, outras jogavam bola, ainda outras andavam de bicicleta. Chamou-me a atenção um senhor parado do lado oposto da rua que margeava a praça. Sua intenção era atravessá-la. Parecia assustado. Olhava de um lado para o outro esperando o momento apropriado para executar a travessia. Fiquei torcendo por ele. Umas quatro ou cinco vezes eu esperei que ele atravessasse a rua, mas ele ainda achava que não era o momento apropriado. Está com medo, pensei. Depois de mais de dez minutos de espera, quando ele sentiu segurança, arriscou a travessia. Só então percebi o motivo de toda aquela demora, pois ele não andava, apenas arrastava os pés centímetros a centímetros. Temi por ele. Torci para que nenhum carro aparecesse em nenhuma das extremidades da rua. Ele continuava resoluto na sua travessia. Não consegui desgrudar meus olhos deles, a não ser para vigiar o movimento da rua. Ele alcançou o meio da rua. Olhou para mim. Parece que adivinhava minha torcida. Seu arrastar vagaroso afligia-me. Três quarto da rua estava vencida. Meus músculos estavam tensos. Aquilo foi pior do que um filme de suspense! Fui um alívio quando ele alcançou a calçada da praça. Ele sorriu. Seus olhos encontraram com os meus. Sua expressão de vencedor parecia querer dizer-me: Você viu o que eu fiz? Atravessei a rua sem ajuda de ninguém! Seus olhos sorriam! Já viu um par de olhos sorrindo? Eu vi. É lindo!
Roberto Policiano

8 de abr. de 2008

Não tem problema

Vai, não tem problema.
Não me lembrarei que era eterno.
Vou esquecer que seria infinito.

Vai, não se preocupe.
Eu darei um jeito
Nesta dor que invadiu o meu peito.

Vai, não se incomode, pode ir.
Eu estanco a fonte das lágrimas
Que ainda insistem em cair.

Vai, pode partir sem trauma.
Eu me farei de surdo
Para os gritos que ecoam em minha alma.

Vai, não se preocupe comigo.
Curta esse seu novo amor
Que eu fico aqui de castigo.

Vai, não dê ouvido a estes pensamentos inquietos.
Eu engaveto os nossos sonhos
Eu rasgo os nossos projetos.

Vai, siga seu novo caminho,
Que eu, fingindo que vivo,
Ficarei morrendo sozinho!

Roberto Policiano