OSÓRIO E ONÓRIO
Quem os visse pela primeira vez, não conseguiria perceber nenhuma diferença entre Osório e Onório, ‘gêmeos univitelinos’, faz questão de frisar a mãe deles. Na verdade, mesmo quem conhece os dois e convivessem com eles, não tinha certeza, assim que um deles chegasse, quem era ele, tamanha a semelhança física. Mas a semelhança pára por aqui. Nunca vi duas pessoas idênticas serem tão diferentes. Enquanto Osório era extremamente preocupado com a sua saúde, Onório quebrava todas as regras nesse respeito. Nem sempre foi assim, tanto é que os dois eram parceiros de mesa, boteco, bebidas e comidas, as mais gordurosas que alguém possa imaginar. Até o dia em que Osório conheceu a Etelvina. Em pouco tempo tudo que fosse bebidas alcoólicas, refrigerantes, doces, alimentos gordurosos, carnes de qualquer espécie, peixes, e tantas outras coisas que, dizia Etelvina, envenenava o corpo, deixou de fazer parte do cardápio do Osório. Sedentarismo nem pensar, pois o homem corria seus sete quilômetros recomendados para aqueles que tinham juízo e cuidavam de sua saúde, todos os dias, fosse dia útil, fim de semana ou feriado; frio ou quente; seco ou molhado. Em pouco tempo sua alimentação ficou reduzida quase que a folhas, legumes e frutas, cuidadosamente combinadas, acompanhadas de grãos, sempre consumidos com 75ml de água mineral sem gás e numa temperatura entre 18°C e 28,3°C. Além do mais, era necessário dormir exatas oito horas de sono, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Também era preciso educar o corpo e sempre deitar na mesma hora e, conseqüentemente, levantar na mesma hora a cada dia. No entanto, por mais que ele se esforçasse e comesse literalmente tal qual um pássaro cativo, que passa o dia comendo alpiste, Osório não chegava nem aos pés de Etelvina, essa sim disciplinadíssima, que conseguia, sabe-se lá como, passar o dia com um punhado de grãos e três goles e meio de água. Enquanto isso Onório se empanturrava com torresmo pingando em óleo, macarronada nadando em molhos poli-multi-hiper-super-saturados. E tome caipirinha, cachaça, vinho, cerveja, vodka, e quaisquer outras bebidas que lhe oferecessem, terminando sempre com uma porção generosa de sobremesa, que ele nunca dispensava. Quanto a horários de deitar e levantar, bem, a ocasião ditaria o momento certo. Osório, no início, tentou convencer Onório da sabedoria da mudança de hábitos para garantir um futuro saudável. O último, no entanto, sempre respondia que queria viver - e viver bem - o presente. Quanto ao futuro, estava muito longe para ser levado em conta. Apesar da diferença de estilo de vida, os gêmeos permaneciam idênticos fisicamente, inclusive quanto à massa corpórea!
Vinte anos se passaram nessa diferença até que Etelvina, certa manhã, apesar da rigidez da dieta, teve um mal súbito e precisou ser socorrida às pressas, o que lhe salvou a vida! Uma de suas artérias estava entupida, o que exigiu uma intervenção cirúrgica.
Um mês depois do incidente, quando a rotina tomara seu curso normal, nosso amigo Osório, numa de suas refeições, que era feita num ambiente sereno e agradável, como mandava a cartilha de uma vida saudável, comparou, enquanto quebrava alguns grãos crus com os dentes, sua vida com a do Onório. De repente pareceu-lhe que passar a vida a mato, sementes e água, era uma tremenda de uma idiotice. Quem no mundo era mais disciplinada do que Etelvina? Quem mais indisciplinado do que Onório? Levantou de repente, foi até o banheiro, cuspiu os grãos que mastigava, lavou a boca com água da torneira mesmo e saiu em direção ao restaurante do Polenta, pois sabia que o Onório e a turma estavam lá. Pegou uma cadeira extra, sentou entre os amigos, e pediu:
- Uma feijoada, por favor! Mande também uma porção dupla de torresmo e uma caipirinha grande.
Os demais à mesa, sabendo que o acontecimento merecia uma comemoração, brindaram a volta do amigo com uma branquinha da boa!
Vinte anos se passaram nessa diferença até que Etelvina, certa manhã, apesar da rigidez da dieta, teve um mal súbito e precisou ser socorrida às pressas, o que lhe salvou a vida! Uma de suas artérias estava entupida, o que exigiu uma intervenção cirúrgica.
Um mês depois do incidente, quando a rotina tomara seu curso normal, nosso amigo Osório, numa de suas refeições, que era feita num ambiente sereno e agradável, como mandava a cartilha de uma vida saudável, comparou, enquanto quebrava alguns grãos crus com os dentes, sua vida com a do Onório. De repente pareceu-lhe que passar a vida a mato, sementes e água, era uma tremenda de uma idiotice. Quem no mundo era mais disciplinada do que Etelvina? Quem mais indisciplinado do que Onório? Levantou de repente, foi até o banheiro, cuspiu os grãos que mastigava, lavou a boca com água da torneira mesmo e saiu em direção ao restaurante do Polenta, pois sabia que o Onório e a turma estavam lá. Pegou uma cadeira extra, sentou entre os amigos, e pediu:
- Uma feijoada, por favor! Mande também uma porção dupla de torresmo e uma caipirinha grande.
Os demais à mesa, sabendo que o acontecimento merecia uma comemoração, brindaram a volta do amigo com uma branquinha da boa!
Roberto Policiano
3 Comments:
Mulher só complica! :)
Uma narrativa cheia de humor e... muito mais.
Abraços.
Bom, eu admiro muito as Etelvinas que se privam de tudo para apresentar sempre um toque de esbelta elegãncia... às vezes, também sofro desses sintomas mas, infelizmente, basta uma caixa de Mon Chèri para as minhas boas intenções se evaporarem.
Sabe que mais, amigo Roberto, CARPE DIEM!
Ana, o que posso responder?
CARPE DIEM!
Até fevereiro.
Boas Férias!
Um abraço amigo
Roberto
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