Roberto Policiano

20 de out. de 2008

Reação II


Depois que o planeta se livrou da espécie que o destruía tratou de curar as espécies remanescentes. Lembram-se daquelas florezinhas lilases? Uma espécie aquática cobriu todos os corpos de água, tanto salgada quanto doce. Seu perfume atraiu toda espécie de animais, inclusive voadores, que se banquetearam sofregamente delas. Até mesmo crustáceos nunca antes visto na superfície vieram para participar da refeição. Aquelas flores continham uma bactéria que conseguia digerir o plástico, de modo que todos os animais que estavam com os estômagos cheios de plástico engolidos por terem sido confundidos com alimentos, puderam se livrar do que engoliram e foram salvos. E, por mais que engolissem aquelas flores, elas eram tão numerosas que continuaram a cobrir terras e águas, a ponto de, por um período de tempo, o planeta, se visto do espaço, lembrava uma imensa bola lilás. Consequentemente, todos os plásticos, no solo ou nas águas, foram digeridos pelas bactérias que se encontravam nas flores. Uma vez cumprido o seu papel, as florezinhas lilases desapareceram tão depressa quanto o seu surgimento. Imediatamente uma planta aquática, de proporções gigantescas, surgiu dos mares, rios e riachos, e lançou seus ramos, como a imensos tentáculos, que, do mesmo modo como a planta anterior, recobriu a terra com um verde brilhante e escuro. Tais tentáculos eram providos de uma espécie de ventosas que, uma vez coladas em alguma superfície, liberava um estranho líquido espesso de uma cor entre o vermelho e o ferrugem. A planta, como que sabendo o objetivo de seu crescimento, só grudava suas ventosas em objetos que não eram naturais. Assim, todas as construções, maquinários, veículos, e qualquer outro objeto criado pelos humanos, foram encontrados pela planta que, ao ‘tateá-los’ e ‘reconhece-los’, literalmente cobriam-nos de ventosas que, imediatamente, começavam a expelir o tal líquido. Em poucos anos todo trabalho humano foi dissolvido pela planta que, uma vez terminada sua missão, murchou e se desintegrou, deixando seu pó para enriquecer o solo.
O planeta, depois dessas operações de limpeza, voltou ao seu estado natural, as espécies sobreviventes, como que se sentindo aliviada e segura, guinchou, assobiou, piou, latiu, grunhiu, miou, coaxou, silvou, relinchou, zumbiu, baliu, cacarejou... Todos uniram suas vozes como que num canto de vitória.
O dia seguinte nasceu com um imenso arco-íris que coloria o céu de um novo planeta e contribuía para a sensação de paz que pairava em cada recôndito da terra.


Roberto Policiano

3 Comments:

At 10:05 AM, Anonymous Anônimo said...

Nenhuma das espécies sobreviventes falou, sentiu, amou. Que aconteceu à Humanidade, Roberto?
Um abraço portuense.

 
At 10:33 AM, Anonymous Anônimo said...

Pelo que eu entendi, a humanidade desapareceu! Sorte dos peixes, anfíbios, répteis, aves, mamíferos, vegetais, minerais e o planeta terra! Gostei do resultado.

 
At 5:37 PM, Anonymous Anônimo said...

Ana, mas uma vez fiquei surpreso por tua preocupação com a humanidade. Mais do que supreso, fiquei emocionado. Parabéns por não desistir de nós! Brutus, não o culpo por ser tão radical. A resposta aos dois eu faço no próximo texto Reação III. Um brande abraços aos dois.

 

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