Roberto Policiano

16 de fev. de 2009

Linhas Cruzadas


Adalberto?
Já colocou água na gaiola do canário?
Emengarda?
Mas já são onze horas da manhã.
Pronto!
É claro que é o Ditão. Não foi para ele que você ligou?
O carteiro já passou?
Mas o canário só toma água fresca.
Fala gata!
É da lavanderia?
Não se esqueça de lembrar o Godofredo de lavar o carro.
Oi Dendê.
Queria saber se minha roupa já está pronta.
O Júnior já foi para a escola?
Água de ontem não é fresca, Adalberto.
Estava pensando em você.
São três camisas e um terno.
Mário.
Não se esqueça de limpar a gaiola e colocar alpiste.
O que você quer?
Depois das quatro.
Quer ir ao Maresias hoje?
O número do pedido?
Se a Beth passar por aí diz a ela que eu não vou hoje à noite.
Espere um pouco que eu vou pegar.
Antes não vai dar.
À tarde vá até o mercado e compra um frango para o jantar.
Já falei que eu vou depositar hoje.
To cheio de trampo.
25.736.
Se eu não lembrar você não faz, pois eu lhe conheço.
Obrigado.
Não gosto de pressão.
Vê se consegue dar um jeito.
Estou com uma saudade imensa.
Assim não vai dar mais para negociar com você.
Que horas são agora?
Não vai deixar seu coquinho na mão, vai?
Daqui a vinte minutos.
É por isso que ele está sem água até agora.
Não deixa o Júnior dar banho no Pingo.
A que horas você vai ter a resposta?
Não vai tê jeito, não.
Pode deixar que eu ligo.
Não posso mesmo.
Exigente não, Adalberto, o canário é um ser vivo.
Até mais...
Que horas eu prometi que o dinheiro estaria na conta?
Leve a roupa para a lavanderia só depois das quatro.
Também te amo.
Pode ficar tranquila.
Claro!
Faz uma forcinha.
Então, cara!
Claro!
Até mais, amor.
Din! Don!
Próxima estação Santo Amaro
No desembarque cuidado entre o vão entre o trem e a plataforma.


Roberto Policiano

3 Comments:

At 7:07 PM, Anonymous Anônimo said...

Cena curiosa esta... Alimentamo-nos de stress e de falta de tempo para as coisas essenciais.
Um texto muito bem conseguido.

 
At 3:57 PM, Anonymous Anônimo said...

Eu já havia reparado nisso também. Nos vagões dos trens pessoas conversando normalmente ao celular como se estivesse num lugar reservado. De repente a vida privada é exposta ao público na maior naturalidade.
bjs

 
At 1:16 PM, Anonymous Anônimo said...

Ana e Betinha. Embora as conversas são fictícias, a situação foi realmente observada num vagão do metrô. Aliás, tornaram-se comuns cenas como estas. Como comentou a Betinha, há uma confusão entre privado e público atualmente. Abraços

 

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