Anacleto está eufórico. Não cabe em
si de tanto contentamento. Precisa extravasar a emoção e, ao encontrar um
ouvido atento, comenta com entusiasmo o excelente final de semana que tivera a
felicidade de usufruir ao participar de uma pequena viagem planejada por uma
agência de turismo. Confessou que não era sua intenção passear, mas, para
apoiar sua prima, novata na agência de viagem, comprou o pacote. Nada poderia
ter sido melhor! O contato com a natureza, experimentar novos pratos e novos
temperos, apreciar uma estância que até então não conhecia, o convívio com
novas pessoas, o aconchego do local que, embora modesto, foi muito agradável. Caminhadas,
novidades, amizades, enfim, foram tantos os retornos que valeu cada centavo
aplicado no empreendimento.
A mesma sorte não teve Braulino, que
mora no lado oposto da cidade. Chegou ao local do trabalho emburrado, com um
cara deste tamanho e um péssimo humor. Reclamou do horrível fim de semana que
tivera e amaldiçoou o momento que decidira participar da excursão que o levou a
uma espelunca de hotelzinho miserável. O calor insuportável, a má qualidade dos
serviços, o despreparo dos serviçais, a comida sem graça, a falta de imaginação
dos organizadores, foram alguns dos temas abordados por ele àqueles que
suportaram ouvir tantos descalabros. Esbravejou, praguejou, xingou, blasfemou,
ou seja, despejou todo seu ódio pelo insuportável e mesquinho fim de semana que
tivera. Fez questão de fornecer o nome da agência de viagem e o local onde
estivera para que nenhum de seus amigos tivesse o desprazer de cair na mesma
cilada que ele caíra.
O mais difícil de acreditar nestes relatos é que o Anacleto e o Braulino
participaram do mesmo evento turístico!
Roberto Policiano