Roberto Policiano

14 de jan. de 2013

Ano 2027


Numa rua qualquer de uma cidade movimentada, multidões cruzam-se nos largos calçadões que substituíram as ruas, já não mais necessários com os novos veículos de locomoção, tanto de pessoas como de cargas. Os postes, com seus infindáveis fios, também deixaram de fazer parte da paisagem depois que energia e dados passaram a ser transmitidos via tubos de luz subterrâneos. As pessoas agora são coloridas, no sentido literal da palavra. Por exemplo, uma moça, usando uma bermuda caqui e uma camiseta lilás caminha tranquilamente por um dos calçadões. O lado direito de seus cabelos são loiros e lisos, ao passo que os do lado oposto são encaracolados e castanhos. Seu rosto também é bicolor. Do lado dos cabelos louros é moreno e do outro lado é branco. Seu pescoço é negro, assim como seu braço esquerdo e sua perna direita. O braço direito é amarelo oriental e a perna esquerda é vermelho indígena. Os dois pés, calçados por sandálias vermelhas, são brancos. Usa óculos escuros com armações amarelas de hastes grafite. Em cada uma de suas narinas há piercing que contém correntezinhas douradas que estão ligadas no outro extremo na haste dos óculos. Em seus lábios também há piercings. Um em cada canto da boca, outro  no centro do lábio superior, logo embaixo do nariz e ainda um quarto no centro do lábio inferior. Estes, do mesmo modo com os anteriores, estão ligados nos óculos em lugares diferentes dos primeiros. As partes superiores das lentes dos óculos são, na verdade, monitores. As correntezinhas que ligam todos os piercings nos óculos são na verdade estratégia para se controlar o nano computador acoplado nos óculos, como, por exemplo, escolha de estação de rádio, escolha de sites, entre outros. É claro que, para isso acontecer, exige-se verdadeiros contorcionismos faciais, em movimentos sincronizados entre nariz e boca. Existem também as conexões “sem fio”, mas a garota em questão, como muitos outros, prefere usar tais adereços. Os fones de ouvido são acoplados diretamente nas hastes dos óculos.  Sem notar o mundo em sua volta a moça caminhou absorta no que via e ouvia naquele momento na parte superior das lentes de seus óculos até desaparecer da visão de seu observador.

Roberto Policiano