Roberto Policiano

5 de nov. de 2012

VIDA






O menino passeava em sua bicicleta na ciclovia do parque quando deparou com um ciclista que vinha em sentido oposto. Chamou-lhe a sua atenção os seguintes dizeres que havia na camiseta dele:
"A vida é..."
Assim que o ciclista passou por ele, o garoto virou a cabeça imediatamente e percebeu que na parte de trás da camiseta estava a continuação da frase. O rapazinho desceu imediatamente da bicicleta, virou-a na direção oposta, montou-a novamente e pedalou o mais rápido que conseguiu. Depois de rodar por alguns minutos, desistiu de cansaço. Foi então que teve a ideia de virar-se outra vez, pois assim encontraria o outro mais rápido. funcionou, pois, cerca de três minutos depois os dois se cruzaram novamente. O menino só esqueceu que o encontro seria na mesma posição anterior, de modo que só pode ler o que já sabia. Antes de desanimar, no entanto, deu outra meia volta e continuou a pedalar normalmente.
- Quando ele passar de novo conseguirei ler os dizeres nas costas da camiseta, pensou.
O plano foi perfeito, mas o que ele não sabia é que aquela era a última volta do ciclista. Quando rodou na ciclovia sem encontrá-lo percebeu o que acontecera.
Aquela frase havia atiçado a curiosidade do garoto, de modo que, assim que chegou em casa, guardou sua bicicleta no lugar apropriado e informou a sua mãe que queria visitar o avô.
Depois de cumprimentar os avós com abraços e beijos, como sempre fazia, disse ao nono:
- Vovô Róbson, eu preciso da ajuda do senhor.
- Vamos até a sala onde poderemos conversar melhor.
Depois de se acomodar em sua poltrona preferida o ancião dirigiu-se ao neto:
- E então Paulo Henrique, em que posso ajudá-lo?
- Vovô o que é a vida?
O senhor se maravilhou com a pergunta. Como pode uma criança de apenas nove anos de idade se preocupar com isso?
- Uma pergunta muito interessante, Paulo Henrique. Desde quando você pensa nisso?
- Desde quando eu vi uma camiseta onde estava escrito: “A vida é...” na parte da frente, mas não consegui ler a resposta que estava na parte de trás. Fiquei curioso e pensei que o senhor poderia ter uma resposta.
- Compreendo. Vai até a escrivaninha, por favor, e me traga duas folhas de papel.
- Pois não.
De posse das folhas o ancião ficou com uma e deixou a outra com o neto.
- Peque a margem menor do papel e junte-a com a margem da outra ponta da folha.
- Pronto vovô. E agora, o que faço?
- Faça a mesma coisa, agora com a margem maior.
- Assim?
- Isso mesmo. Agora pega um dos cantos do papel e junte-o no canto na ponta oposta e também no canto oposto.
- Devo cruzar na diagonal?
- Muito bem, é isso que eu quero.
- Olha como ficou.
- Perfeito! Agora faça o mesmo com os outros dois cantos.
- Ficou parecido, vovô.
- Parecido, mas não idêntico.
- O que faço agora?
- Faça um canudo pelo lado mais comprido.
- Veja vovô; consigo ver o senhor pelo canudo!
- Parece com uma luneta. Agora faça um canudo mais curto.
- É só enrolar a folha pelo lado menor. Pronto. Continuou uma luneta, só que menor.
- Ótimo! Agora imagina alguma coisa diferente que pode ser feito com a folha.
- Já sei! Vou fazer um canudo enrolando a folha na diagonal. Olha vovô, ficou um canudo maior do que o primeiro.
- Percebeu quantas coisas diferentes foi possível fazer com a mesma folha de papel?
- Percebi sim, e foi muito divertido.
- Pois então, Paulo Henrique, isso ajuda a responder a sua pergunta.
- Como assim, vovô, não entendi nada.
- A vida, como a folha de papel, é bastante flexível. Podemos fazer dela o que bem entendemos.
- Continuo não entendendo, vovô.
- A vida será aquilo que fizermos dela, essa é a lição que podemos aprender da folha de papel. Por exemplo, quem encarar a vida como sendo uma droga, é exatamente isso que ela se tornará. Por outro lado, quem achar a vida uma aventura, a vida será, para essa pessoa, uma aventura. Se alguém encarar a vida como algo triste, ela será simplesmente isso – algo triste. Para os que encaram a vida como enfadonha, ela jamais será excitante. Assim, Paulo Henrique, a vida será exatamente como a enxergamos e não há nenhuma possibilidade de ela ser diferente a não ser que mudamos o nosso modo de encará-la. Onde está sua folha de papel?
- Está aqui, vovô.
- Amasse-a o tanto que você conseguir e depois a aperte-a bem.
- Ficou como uma bolinha.
- Abra a folha novamente e tente alisá-la.
- Não consigo, vovô. A folha ficou um lixo.
- Exatamente, Paulo Henrique, esta é a palavra certa – lixo. Assim, se encararmos a vida como lixo, ela não será algo diferente disso. Conseguiu entender o que pretendi te ensinar?
- Mais ou menos, vovô.
- Então vamos lá. Responda-me o que é a vida.
- Pelo que eu entendi, não existe uma resposta única. É isso?
- É isso mesmo. E quem vai definir se a vida será boa ou ruim?
- Pelo que o senhor falou é a própria pessoa.
- Muito bem! Podemos dizer então, sem sombra de dúvida, que cada um é responsável pelo resultado de sua própria vida.
- Será que era isso que estava escrito na camiseta daquele homem?
- Talvez ele volte lá amanhã.
- Boa ideia! Amanhã voltarei lá. Obrigado, vovô.
- Por nada, Paulo Henrique, por nada.
- O que faço com esta folha amassada, vovô?
- Faça com ela o que você quiser.
- Até mais, vovô.
- Só mais uma coisinha, por favor.
- Sim, vovô.
- Quero que leve essa folha de papel nova.
- O que o senhor quer que eu faça com ela?
- Quero que a guarde como recordação dessa nossa conversa. Nunca se esqueça que o resultado da sua vida está em suas mãos.

Roberto Policiano

4 Comments:

At 10:43 AM, Blogger Cecilia Cardoso da Silva said...

Gostei muito.

 
At 10:48 AM, Blogger Roberto Policiano said...

Olá, Cecília! Obrigado pela visita e pelo comentário. De fato, a vida está em nossas mãos, mas é comum esquecermos disso e culpar outros pelos resultados que obtivemos. Um grande abraço! Volte sempre.

 
At 7:56 PM, Blogger Renata Policiano said...

Li na hora certa.
Muito obrigada
Abraços

 
At 9:06 AM, Anonymous Roberto Policiano said...

Oi Renata! Que bom que o texto foi útil. Cada um de nós tem o poder de fazer de nossa vida uma "obra de arte". Obrigado pela visita e volte sempre. Um grande abraço!

 

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