Roberto Policiano

8 de fev. de 2013

Distração



Paulinho passava pela praça do lugar em direção ao ponto de ônibus. Amanhecia e o sol, que enviava seus primeiros raios ao céu, coloria as nuvens com um dourado suave, espetáculo que não foi percebido pelo garoto que, precisando pegar o próximo ônibus para chegar à escola no horário, andava apressado sem notar nada em sua volta.

Já em sala de aula o educador tentava transmitir aos alunos uma informação complexa sobre o tema do dia, mas Paulinho, preocupado com um teste que faria no clube de natação na tarde daquele dia, não conseguia prestar atenção às explicações do professor.

Mais tarde, já à beira da piscina onde ouvia as orientações do instrutor sobre as técnicas necessárias que deveriam ser usadas para se conseguir atingir o mínimo de tempo necessário para prosseguir na competição, o atleta não percebia um par de olhos deitados ternamente sobre ele.

À noite, em seu apartamento, o estudante, absorto nos exercícios que deveriam ser resolvidos para a aula do dia seguinte, nem percebeu a chuva que caiu naquele entardecer, nem no belo arco-íris que se formou no céu e que poderia ser apreciado se tão somente ele se chegasse à janela de seu quarto.

E seguiu o menino neste mesmo ritmo, sempre tendo algo para planejar para depois, o que lhe roubava a oportunidade de viver os momentos que passaram despercebidos.

Algumas décadas depois o Doutor Paulo, eminente cidadão que se tornou uma referência na área de sua atuação, enquanto descansava numa cadeira de praia, refletia sobre sua vida e, por mais que progredira em seu campo de atuação, não obstante o reconhecimento profissional e a generosa recompensa financeira por suas contribuições para a ciência, sentia um vazio imenso que ele, embora sábio, não sabia encontrar uma explicação.
 
Roberto Policiano