Roberto Policiano

25 de fev. de 2015

Mar é...



Mar é...
Marés;
Ondas;
Praias;
Peixes;
Pescas;
Redes;
Barcos;
Navios;
Portos;
Mercadorias;
Turistas;
Banhistas;
Brincadeiras;
Esportes...
Mar é tudo.
Mar é vida.
Mar e a vila.
Maravilha!



Roberto Policiano

18 de fev. de 2015

Óculos de ver a vida



A mamãe levou a filhinha ao shopping a fim de fazer algumas compras. O motivo real, porém, era apaziguar um pouco o espírito que andava um pouco perturbado. Algumas coisas andavam a incomodar e nada melhor do que um passeio para refrigerar as ideias. A garotinha, alheia à aflição materna, gozava da oportunidade de ver aquele mundo maravilhoso de cores, luzes, pessoas, sons e aromas. Cada detalhe a enchia de entusiasmo que era externalizado por uma enxurrada de perguntas e observações. Uma vitrine chamou a atenção da senhora. Dentro em pouco ela estava sentada diante de um balcão experimentando vários óculos de sol. A menininha não foi esquecida, pois uma das funcionárias colocou à disposição dela uma coleção infantil a fim de que a jovenzinha imitasse a compradora em se olhar no espelho com o novo visual. A cada prova a criança ficava encantava com o colorido das lentes que deixava o ambiente cor-de-rosa, lilás, azulado... Tomada de emoção com tais experiências incríveis, a clientezinha olhou para sua mãe e lhe perguntou:

- Mamãe com que óculos você vê a vida?

A garota não percebeu, mas a pergunta inquietou profundamente sua mãe.


Roberto Policiano

11 de fev. de 2015

Aconchego



Domingo de manhã;

O corpo busca proteção sob o cobertor;

O frio encontra uma brecha,

Entra encrespando a carne

E provocando arrepios

Até morrer no calor do agasalho.

A alma reclama por outro aconchego.

O espírito flutua no vácuo da carência.

A sensação de abandono dói

Mais do que a invasão do ar gelado.

O castigo do inverno interior é maior

Do que o clima da estação do ano.

O ser procura – mas não encontra –

Uma razão para se levantar.


Roberto Policiano

4 de fev. de 2015

Poucos passos para se alcançar a felicidade



Dona Lourdinha estava atarefada com as encomendas de costura, mas nem por isso deixou de parar com os trabalhos quando chegou a hora de preparar a refeição de Ticão, seu marido. Ela conseguiu uma sintonia espetacular entre o fogão, o tempo, os alimentos a ser preparados e a chegada do seu homem para o almoço. Não era incomum ela apagar o fogo do último alimento e ouvir, logo a seguir, o giro da maçaneta indicando que o companheiro chegara para comer.
 Enquanto ele se dirigiu ao lavatório ela montou a mesa, tirou o avental, e sentou-se em sua cadeira preferida. Era o momento em que ele chegava para assumir o seu lugar a mesa. A refeição seguia sempre animada com os dois conversando sobre as atividades de ambos. Naquele dia, porém, ela só foi perceber que a farinha preferida dele havia acabado quando não dava mais para sanar a falha. Acreditou na sensatez dele e esperou que ele não fizesse caso do assunto, mas não foi o que aconteceu. Depois de montar o seu prato foi atrás do farináceo a fim de regar o alimento com ele. Não se conformou quando foi avisado pela mulher, com voz trêmula e baixa, que não dera pela falta daquele alimento. Acabou o dia para ele e, consequentemente, para ela. Fez um discurso lamurioso e exaltado, onde ficou clara sua decepção de ter que ficar sem sua iguaria. Comentou que, em sua vida, havia poucos motivos para felicidade e, um deles era exatamente poder almoçar com sua preciosa nevinha sobre a comida - como ele costumava dizer. E, para o desgosto da companheira, deixou o prato montado na mesa e saiu batendo os pés. Trancou-se em seu quarto e passou o dia com fome. A mulher também não comeu, porque o choro impediu a comida de descer. Como naquela casa não se consumia alimento requentado, tudo foi parar no lixo, inclusive a tarde de ambos. O que mais impressiona é que a casa do casal ficava ao lado de um armazém onde podia se comprar o tão desejado acompanhamento da refeição. A felicidade estava bem perto, mas o orgulho ferido e a incompreensão ergueram uma muralha entre ela e o comensal amargurado.


Roberto Policiano