Roberto Policiano

29 de jan. de 2007

Tio Lalá

Tio Lalá era estranho, muito estranho! Pelo menos era assim que eu o via. Nos dias de folga ele levantava às quatro e meia da madrugada, fazia café e tomava uma xícara, preparava um cigarro de fumo de corda, e ficava sentado na cama pitando até os demais da sua casa acordarem. Que desperdício de sono! Ora, eu me lembro que eu, nos fins de semana e feriados, quando levantava às 10 horas da manhã, levantava cedo! Eu queria mais era descansar depois de trabalhar por uma semana todinha, sendo obrigado a levantar às seis horas da manhã! Outra coisa que eu achava estranho nele era o fato dele ir trabalhar a pé todos os dias, mesmo se estivesse chovendo. Era uma caminhada de cerca de uma hora. Uma hora andando no frio da madrugada! Era muito estranho para mim. Quando eu o questionava, argumentava que era melhor andar a pé um pouco do que ficar socado nos ônibus levando pisada no pé, cotovelada na testa, e respirando o mesmo ar que todos. Mas minha opinião era - se havia ônibus para nos carregar, por que gastar a sola dos sapatos? Por que será que eu fui lembrar disso agora? Não sei! Talvez seja porque eu, não tendo muito que fazer quando levanto nos finais de semana às seis horas da manhã por não conseguir dormir mais, visto que meu corpo já está acostumado a levantar nesse horário, fico pensando no passado. Se pelo menos mais alguém levantasse um pouco mais cedo! Mas essa meninada de hoje é muito mole. Eu tento argumentar com eles que levantar cedo, além de fazer bem para a saúde, alonga o dia. Quem não quer um fim de semana prolongado? Eles! Meus fins de semana duram oito horas a mais que o deles. Essa meninada é muito estranha. Além do mais, Com as comodidades da vida moderna, ninguém mais quer fazer exercícios. Eu me esforço em colocar nas cabecinhas duras deles o valor dos exercícios. Fazer exercícios contribui para uma vida saudável, argumento. E eu não fico só no verbo, não! Estou sempre fazendo caminhadas para unir as palavras às ações. Inclusive, já há alguns meses tenho ido trabalhar a pé. Uma horinha de caminhada todas as manhãs e outra horinha todas as tardes contribuem muito para a nossa saúde. Além do mais, é melhor caminhar tranqüilo do que ser pisoteado dentro de um ônibus lotado. É melhor respirar o ar puro da manhã, do que o ar que já passou por vários pulmões dos usuários dos ônibus. Eu tento falar isso com eles, mas eles não entendem. Preferem a comodidade da condução, mesmo que esteja lotada. Essa juventude de hoje é estranha, muito estranha!
Roberto Policiano

22 de jan. de 2007

Tempo Certo

Eu
Tento
Um
Tempo,

Um
Lance,
Uma
Chance,

Em
Que eu
Possa

Sem
Que eu
Torça.

Roberto Policiano

15 de jan. de 2007

O que estão fazendo com os idosos?

Seis horas e quarenta e cinco minutos da manhã. Desceu do ônibus. Enquanto se encaminhava para o prédio onde trabalhava, viu uma senhora de meia idade ajudando uma senhora idosa a entrar no mesmo ônibus que ele descera. Não sabe o por quê, mas aquela cena chamou-lhe a atenção. De repente uma pergunta povoou seus pensamentos – será que aquela senhora queria ir para onde estava sendo levada? Passou o dia pensando nisso. Essa pergunta levou-o a refletir em como os idosos são vistos por outros. E chegou à triste conclusão que, em raríssimas exceções, os idosos perdem a sua identidade. Chega-se a uma idade em que ninguém mais acredita no que a pessoa diz ou faz. E, quando eles se arriscam a dizer ou fazer alguma coisa, ou é tolice ou cômico. Lembra daquela festa que seu avô resolveu dançar? Todos (ou quase todos) riram! Por que é normal para os jovens ou adultos dançarem em uma festa, mas para os idosos é engraçado? Será que eles não têm mais esse direito? O que há de engraçado nisso? Quer ver outra situação onde todos ficam apavorados? Quando uma pessoa idosa revela que está apaixonada! Parece que o coitado (ou coitada) falou a coisa mais absurda do mundo! Por que? Será que é proibido para uma pessoa idosa se apaixonar? Será que, quando ficamos velhos, perdemos a capacidade de gostar de alguém? Talvez possamos ouvir alguém, depois de contar entre risos a assombrosa revelação, perguntar - Para quê? Com uma proposital e maliciosa ênfase na pergunta, terminada com um sorriso no canto da boca; um olhar de quem disse a coisa mais sabia do mundo; os ombros encolhidos; as duas mãos torcidas com as palmas voltadas para cima e os olhos correndo por todos os olhos presentes, como que os interrogando insistentemente, enquanto balança a cabeça de baixa para cima, com o queixo empinado para frente, que, traduzidos, querem dizer: “Hein? Hein? Hein?” E o que dizer quando o assunto é finanças? Um batalhão de benfeitores entra em ação para que seus queridos idosos sejam protegidos e recebam bondosas instruções para o melhor uso do seu dinheiro! E a proteção é tão insistente que os coitados perdem a liberdade de gastar sua aposentadoria ou pensão, chegando numa situação absurda de ter que pedir autorização para usar seu próprio dinheiro! Como que num passe de mágica, aqueles que nos orientaram durante um bom período de nossas vidas, tornam-se, para muitos, velhos tolos que não sabem a diferença entre a direita e a esquerda! Só nos resta torcer para não ficarmos velhos!

Roberto Policiano