Papo cabeça
Segunda-feira; seis horas da manhã; ônibus lotado; garoa. O que mais poderia acontecer para temperar o início da semana? Dois ‘malucos’ se encontrarem bem do meu lado.
- E aí maluco? Firmeza?
- Firmeza.
- Cê num pega esse busão. O que tá rolanu?
- Acordei tarde, tá ligado?
- Acordar tarde em plena segunda-feira ninguém merece!
- Com busão lotado e garoando!
- Podis crê. Ninguém merece.
- E do jeito que tá o trânsito, vou chegar atrasado e levar a maior ralada do chefe.
- Pára com isso maluco! Segunda-feira; garoa; busão lotado; ralada do chefe... ninguém merece!
- Só!
- Cê trampa do quê?
- Tá ligado no bagulhu do telemarketing?
- Tipo assim aquele papo de ficar telefonando?
- É isso aí.
- Cara, telemarketing ninguém merece!
- Maluco! Cê nem sabe o que rola.
- Imagino que deve ser tipo assim cada bagulhada daquelas.
- Só é.
- Ninguém merece!
- É mesm... Aí meu pé, meu. Pega leve.
- Que qui tá peganu?
- Um maluco pisou no meu pé
- Pisão no pé em busão lotado, ninguém merece!
- Cê viu a do cara, mermão?
- Tô ligado. Uma conduça dessa ninguém merece!
- Tipo assim, até desanima, tá ligado?
- Só tô!
- O pior é que depois do trampo ainda vô pra facu.
- Facu depois do trampo ninguém merece!
- E eu que num trouxe nem blusa e nem guarda-chuva!
- Ninguém merece isso, meu. Dá cano na facu.
- Num posso. Hoje tem prova de estatística.
- Prova de estatística em plena segunda-feira feira chuvosa ninguém merece, tá ligado?
- Que remédio? Pobre, se quiser ser alguma coisa, tem que, tipo assim, se ferrar.
- Só tem. Maluco, vô tê que escorregá pra conseguir descer. Tô indo nessa, firmeza?
- Podis crê.
Segunda-feira; ônibus cheio; vidros fechados; ar viciado; garoa; trânsito parado; papo cabeça no pé-do-ouvido, ninguém merece, fala aí!
Roberto Policiano
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