Reação III
Todos os animais estavam sossegados quando, de repente, ouviram um som diferente. O antílope ergueu a cabeça, fungou em direção ao vento e espetou suas orelhas. Um coelho pulou assustado e correu para a toca. Um bando de maritaca alçou vôo e foi posar num coqueiro mais alto. O som ficava mais alto a cada segundo. Um grupo de jacarés deixou a pedra onde estava e entrou no rio. Um gato miou, pulou num galho de árvore, caminhou até a copa e ficou olhando lá de cima. Um casal de caranguejos se escondeu no lodo. De repente um grupo de pessoas saiu da floresta em direção à praia. Como pode ser? Os humanos não haviam sido dizimados? Era o que parecia, pois, por um longo período de tempo, nenhum deles foi visto pelos animais. Então como se explica isso agora? E o veneno das flores lilases? Acontece que esse grupo de humanos era um daqueles grupos que viviam isolados do restante dos humanos. Talvez, fizesse parte de suas dietas algumas raízes amargas que contenha alguma substância que fosse capaz de neutralizar o veneno da flor lilás. O fato é que grupos de humanos, de diversas etnias diferentes, passaram a serem vistos em várias partes do planeta terra. O que eles têm em comum? Além do fato deles consumirem as mesmas raízes neutralizantes do veneno fatal, todos, sem exceção, mantinham-se afastados dos humanos chamados modernos, aqueles mesmo que devastaram o planeta. Dá até para desconfiar que o planeta, ao planejar sua reação, achou por bem preservar esses grupos étnicos que sobreviveram. Quem sabe os mesmo não foram considerados inculpes pela devastação ocorrida? Quanto ao barulho mencionado no início, que fora ouvido pelos animais, era apenas uma festa tribal pela união marital de seus jovens que ocorre a cada quatro luas. Os sons do tambor, da gaita, do pífaro, e de outros instrumentos desconhecidos por nós, uniram-se com os sons dos sorrisos e gritos de alegrias e tomou conta no resto daquela tarde desde a primeira visão que tiveram da lua até seu desaparecimento, no início do dia seguinte, onde as novas famílias foram para suas tendas e os demais da tribo voltaram para suas redes para se refazer do cansaço da noite de festa, porque, afinal, ninguém é de ferro!
Roberto Policiano