A amazona de Ébano
A caravana avançava devagar com o sol castigando seus membros. A rainha seguia mais ou menos no centro do comboio, de onde suas diretrizes podiam ser ouvidas por todos. Cavalos e cavaleiros sentiam o cansaço da viagem. De repente um galope ao longe foi ouvido por todos. O príncipe que estava à frente da caravana sorriu, pois conhecia, pelo som do galope, de quem se tratava. Quinze minutos depois a amazona alcançou os últimos membros dos viajantes e continuou galopando em seu alazão ao lado da caravana. Ao chegar ao centro do comboio a rainha, ao notar a cavaleira, ordenou-lhe, sem dizer qualquer palavra, apenas erguendo seu braço esquerdo, que a recém chegada deveria tomar sua posição junto aos demais, mas ela continuou em seu galope até alcançar os primeiros cavaleiros e, numa franca desobediência à ordem da rainha, prosseguiu na mesma velocidade que chegara e, ultrapassando a todos, continuou avançando. A desaprovação era evidente no semblante da rainha. Todas as atenções dos viajantes se voltaram para a amazona que continuava determinada em seu empreendimento. Quanto estava a cerca de cem metros da caravana, parou em frente a um caminho estreito. Hesitou por algum tempo, o que permitiu a chegada dos cavaleiros perto do local. O príncipe percebeu que a amazona chorava. Não era um choro de medo, tampouco de tristeza ou de incerteza, mas era um choro de coragem de alguém que, contra todas as expectativas, tomara uma atitude resoluta e imutável. O cavalo resfolegava enquanto aguardava a ordem da cavaleira. Esta, depois de suspirar significativamente, pressionou levemente a barriga do animal com os seus dois calcanhares. Imediatamente o alazão deu um pulo para frente e, por alguns segundos, os dois, cavalo e cavaleira, voaram suavemente até que a pata dianteira do animal alcançasse firmemente o solo dum caminho que terminava num estreito riacho que fora vencido pelo impulso conseguido pelo pulo do alazão. A cavalgada da amazona continuou por aquele caminho sinuoso e íngreme num terreno frágil e escorregadio. Enquanto isso a caravana mantinha a sua viagem pela estrada, mas a atenção de alguns fora desviada para a escalada espetacular daquele alazão conduzido pela cavaleira de Ébano. Em apenas alguns minutos o pico do morro foi alcançado pela amazona e seu cavalo. Por alguns instantes ela parou e, continuando montada, fitou o céu que ganhara uma cor alaranjada do sol que se preparava para se pôr. A viajante já não chorava. Seu semblante evidenciava uma paz interior. Não havia traços de raiva, revolta ou vingança, mas aquela sensação de ter feito a coisa certa. O príncipe percebeu, apesar da distância, o significado de toda aquela emoção e começou a aplaudir a amazona de Ébano. Inicialmente só se ouvia o som do bater de suas palmas, mas, pouco a pouco, para o desgosto da rainha, mais e mais cavaleiros juntaram a ele nesse gesto de apoio. A figura daquela amazona em seu cavalo confrontando o Oeste, com sua postura e semblante pacífico, tendo como fundo uma cadeia de montanhas atrás de si encimada por um céu alaranjado e os caminhos sinuosos vencidos na subida, acrescida com o som dos aplausos, só pode ser descrito por uma palavra – VITÓRIA!
Roberto Policiano