Modernidade
A equipe técnica estava reunida para discutir os novos produtos que brevemente seriam lançados no mercado pela empresa. Olegário, o engenheiro eletrônico com especialização em telefonia, não conseguia disfarçar sua ansiedade. Diante dele, sobre a mesa, uma embalagem guardava a sua mais nova invenção aguardava para ser exibida aos técnicos e executivos da empresa. Levou um leve susto quando foi convocado a expor o engenho. Com as mãos trêmulas e nervosas abriu a embalagem com todo o cuidado possível e exibiu sua criação. Embora de pequeno porte e leve o aparelho era capaz, conforme falou entusiasticamente seu inventor, de mostrar imediatamente muitas informações para seu proprietário. Com dedos rápidos mostrou para os observadores presentes, tudo que era capaz o pequeno aparelho. Calendários dos últimos quinhentos anos e infinitamente no futuro; acesso a notícias dos principais jornais de mais de trezentos países; sistema GPS que indicava onde o aparelho se encontrava e informava os vários caminhos possíveis para qualquer destino no planeta terra, inclusive horários de aviões e vagas e preços dos hotéis no entorno dos aeroportos das principais nações; situação do trânsito do momento em mais de cinco mil cidades do mundo; valores das moedas principais do mercado internacional; vídeos das partidas de finais disputadas nos últimos cinqüenta anos dos principais esportes do mundo; previsão do tempo, bem como o clima do momento em mais de setecentas cidades; consultas à Internet; acesso a mais de dois mil canais de televisão; sintonia rápida de mais de cinco mil estações de rádio; sessenta mil jogos diferentes; milhares de músicas; oitocentos e cinqüenta filmes, campeões de bilheteria de todos os tempos; informes de lançamentos em vários campos do entretenimento; cinco mil livros e enciclopédias para consultas. Após sua exultante demonstração esperou pelos comentários dos colegas. Um deles fez a inocente pergunta:
- Como faz para fazer as ligações?
Fechando os olhos e batendo nervosamente na testa, confessou:
- Então a sensação de que eu havia esquecido alguma coisa era isso!
Roberto Policiano
2 Comments:
Bom, só sonhando é que o mundo pula e avança...
Aqui, porém, faltava o cerne da invenção, mas era somente um pormenorzito sem grande importãncia, ora não?
Um final que surpreende os leitores bem ao gosto do seu autor.
Um abraço chuvoso da invicta.
É verdade, Ana. Quantas vezes o essencial é deixado de lado pela preocupação com os periféricos! Abraços!
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