Roberto Policiano

27 de set. de 2009

Neurofisioamor



De repente me percebi diferente.
Senti meu coração bater acelerado.
Meus pulmões pediam mais ar.
Notei que minhas pupilas se dilataram.
Desconfiei que a adrenalina estivesse no pico.
Decidi investigar e, como o Hipotálamo regula tudo, fui até lá.
Fiquei surpreso quando cheguei até eles.
Eles sim, porque eram dois!
Como eu poderia ter dois Hipotálamos?
Subi até o Tálamo para, de lá, visualizar melhor o panorama.
Encontrei três Tálamos em meu cérebro.
Com dois chefes no comando era preciso se tresdobrar!
Subi pelo Trato Cerebelo - Tálamo – Córtex e fui investigar as áreas corticais.
Cheguei até o giro pré-central, de onde todos os movimentos são controlados.
Que susto eu levei ao encontrar a área trinta e oito ali!
Não deveria encontrar a área quatro?
Fui até o lobo frontal, pois é dali que se comanda os movimentos automáticos.
Cadê a área seis? Onde está a área oito? Sumiram.
Encontrei novamente a área trinta e oito!
Fui até o giro pós-frontal a fim de verificar se alguma coisa sensível me desse uma pista do que estava acontecendo.
A movimentação estava intensa, havia muita sensibilidade em jogo!
Mas ali eu não consegui nada, pois havia área trinta e oito em todos os lugares.
Dirigi-me ao giro parietal superior, onde as sensibilidades são mais definidas.
Antes, porém, fui até a área vestibular a fim de ver o meu rosto.
Meu coração acelerou ainda mais, pois não vi o meu rosto e sim o teu!
No giro parietal, como nos giros anteriores, só encontrei área trinta e oito.
Comecei a ficar preocupado.
Desci até o lobo occipital e descobri que tudo que chegava até lá eram as tuas imagens!
Tive medo, mas precisa continuar com a investigação.
Contornei as gnosias visuais, que mais pareciam uma avenida cercada por cartazes, onde cada um deles exibia a tua imagem em vários ângulos diferentes.
Cheguei até o giro temporal superior e tentei achar as áreas quarenta e um e quarenta e dois a fim de tentar ouvir alguma coisa.
Sabe que área eu achei por lá? A área trinta e oito!
A única coisa que ouvi ali foi a tua voz, nenhum outro som era captado.
Compreendi que meu cérebro estava totalmente dominado pela emoção!
Achei melhor consultar o Sistema Límbico para resolver esta questão.
Contornei o circuito de Papez e passei pelos corpos mamilares, pelo Giro do Cíngulo, pelo Hipocampo, pelo Corpo Caloso e pelo Fórnix.
Havia um trabalho tão intenso ali que não consegui ficar por muito tempo.
Foi até o Sara a fim de entender toda esta trama, toda esta rede de acontecimentos, mas não pude ser atendido porque havia muito trabalho a ser feito.
Só me restava recorrer à razão, assim, foi até o lobo pré-frontal.
Passei pelas áreas de Broca onde a única palavra que se articulada era o teu nome.
Ao chegar ao meu destino não fui atendido pela turma psíquica superior.
Todas as atenções estão voltadas para ti.
Concluí, perplexo, que me fizeste perder a razão!


Roberto Policiano

20 de set. de 2009

sossego



Eis o velho Damasceno em sua cadeira de balanço. Também pudera, aquele lugar é o seu ninho. É assim desde menino. Foi lá que estudou matemática. Ali aprendeu história e geografia. Embora achasse cansativo, foi naquele lugar que leu todos os livros obrigatórios. Só saiu dali quando, já moço, arrumaram-lhe um trabalho. Mas no final do expediente voltava para o seu lugar preferido e, aninhando-se contente, passava várias horas descansando. Só se casou porque Marianinha, moça também sossegada, aconchegou-se ao seu lado e dali não arredou pé.
Hoje vivem sossegados. Os filhos já estão casados, Damasceno se aposentou e, junto com ele, Marianinha, pois, visto que os dois comem pouco, quase não se suja a cozinha. Roupa então nem se fala. É que tanta serenidade não gera gota de suor nenhuma!
Essas vidas sedentárias, hoje por demais condenadas, é uma pedra no sapato da turma do agito. Eu não te falei ainda, mas esse casal sossegado já passou dos cento e trinta! E não é a soma das idades deles não, é mais de cento e trinta para cada um!
Muitos já foram buscar, nesse casal centenário, qual era o segredo deles. E o Damasceno, sorridente, diz a cada um deles que aprendeu o segredo do seu amigo Bitura.
- Mas quem é Bitura? perguntam curiosos.
- Nosso jabuti, responde Marianinha sem esconder o seu sorriso de orgulho.
- E o que foi que ele ensinou a vocês? insistem eles.
- Que não adianta ter pressa, responde Damasceno com sua voz macia e sossegada.
- E como foi que o Bitura ensinou isso a vocês? querem saber.
- Fez isso sem muito esforço, respondeu o ancião, aliás, sem esforço nenhum, consertou imediatamente.
- Esse jabuti, completou Marianinha enquanto permitia que o marido tomasse fôlego, foi do pai do bisavô do Ceno - jeito carinhoso e econômico de chamar o marido evitando a fadiga - e, pelo que parece, será o bicho de estimação do neto do nosso bisneto!
- Desde quando eu era desse tamainho assim, ó, retomou Damasceno a fim de permitir que a Marianinha descansasse um pouco, tive, além do Bitura, vários animais de estimação. Já tive o coelho Joca, o marreco Cororó, meu bode Rapapé, a égua Nina e Raspim, um ratinho da índia, para não contar de todos que cansa. Pois então, todos eles eu vi nascer, vi crescer e vi morrer. Cada um deles era ligeiro e esperto, mas cadê? Enquanto o jabuti, que eu nem não vi nascer, pois, como já disse a Inha – jeito de chamar a mulher pelo mesmo motivo que ela o chamava de Ceno – acompanha a minha família há muito tempo, continua vivinho, vivinho. Assim, pergunto, ter pressa para quê?
Dizendo isso o Ceno virou os olhos para o lado da Inha, a Inha vira os olhos para o lado do Ceno, ele pousa levemente sua mão sobre a mão dela, os dois sorriem um sorriso sereno, apóiam as costas no encosto da cadeira, fecham os olhos e balançam a cadeira lentamente enquanto esperam, sem pressa, a vida passar sossegada e tranqüilamente.

13 de set. de 2009

Quem é você?





Quem é você?

É o aconchego num dia de inverno;

A brisa fresca nas madrugadas de verão;

O abraço numa noite de outono;

O perfume das flores numa tarde de primavera;

Você é a companhia que eu anseio

Seja qual for a estação.


Roberto Policiano

6 de set. de 2009

Declaração de nascimento



Nasceu em agosto de 2009, na cidade de São Paulo, meu primeiro livro com o título: "Álbum de Fotografias"

O livro é uma coletânea de Crônicas já publicadas neste blog e em outros sítios virtuais.

Editora: Vurtual Books, Pará de Minas - MG

São 49 textos distribuídos em 105 páginas.
Agradeço a todos pelo apoio.

Um grande abraço

Roberto Policiano