Ecologicamente correto
Ao fazer sua caminhada matinal deparou-se com um sapo e imaginou que o anfíbio estava em apuros. Pegou-o com cuidado e colocou-o por entre as grades num lugar arborizado. O sapo coaxou, o que foi interpretado como agradecimento. Logo em seguida, porém, foi abocanhado por uma cobra. O anfíbio olhou-o e coaxou novamente, só que agora pareceu mais um xingo dirigido ao seu pretenso salvador que o jogou na boca da víbora. Esta, por sua vez, num movimento preciso, engoliu a refeição sem dó.
O rapaz saiu cabisbaixo e aborrecido por ter sido o responsável de levar o pobre sapo à morte, até que uma borboleta pousou em seu ombro. Que lindas cores havia em suas asas! Logo o caminhante interpretou que a borboleta foi até ele para agradecê-lo por tê-la livrada do seu algoz e feroz inimigo. Segundos depois a borboleta alçou vôo e, numa manobra graciosa, pousou numa planta com lindas flores. Contente de ter sido o responsável por salvar aquela bela espécie, ficou um tempo a apreciar sua beleza. Logo após a borboleta depositou alguns ovos numa parte tenra na planta. Então o observador começou a examinar a planta com mais cuidado e, para sua surpresa, dois galhos abaixo havia um emaranhado de lagartas se deliciando sofregamente das folhas da planta. Ele teve a impressão de que a planta tremeu e, logo depois, uma de suas flores caiu murcha no chão.
O caminhante continuou o seu passeio enquanto refletia sobre o assunto. Como pode uma criatura tão bela produzir tanto estrago? Começou a ficar em dúvida se fora uma boa idéia eliminar o sapo. Menos de vinte passos depois deparou com uma aranha que corria no gramado para se esconder. Seu primeiro ímpeto foi esmagá-la, mas se conteve ao lembrar dos incidentes anteriores. Desviou seu pé que já estava para eliminar o inseto e seguiu andando satisfeito por não ter cometido aquele assassinato.
Tendo a atenção desviada pela natureza que pululava à sua frente, continuou sua caminhada examinando cuidadosamente os galhos das árvores da praça a fim de descobrir a vida acontecendo. Foi quando viu, numa das forquilhas de uma das árvores, uma imensa teia de aranha com uma libélula que se debatia tentando, em vão, se libertar. Logo uma aranha, parecidíssima com a que ele deixou de eliminar, aplicou seu ferrão na vítima que, assim que teve o veneno injetado em si, ficou paralisada. Com uma habilidade e rapidez incrível a dona da teia envolveu o inseto intruso com finíssimo fio de seda e levou-o, agora feito em refeição, para o centro da teia, onde, observou o rapaz, já havia vários alimentos enrolados para serem apreciados mais tarde pela família dos aracnídeos.
- Ali deve ser a dispensa dela, pensou o admirador da natureza.
Ao reiniciar sua caminhada, decidiu:
- Quer saber de uma coisa? Que os sapos escapem com suas próprias pernas! Quanto menos eu mexer na natureza, melhor faço a ela. Nem sempre uma boa intenção é suficiente para se fazer o bem.E, concluindo que a natureza era suficientemente competente para cuidar de si, tratou de, daquele momento em diante, admirá-la sim, mas de longe.
O rapaz saiu cabisbaixo e aborrecido por ter sido o responsável de levar o pobre sapo à morte, até que uma borboleta pousou em seu ombro. Que lindas cores havia em suas asas! Logo o caminhante interpretou que a borboleta foi até ele para agradecê-lo por tê-la livrada do seu algoz e feroz inimigo. Segundos depois a borboleta alçou vôo e, numa manobra graciosa, pousou numa planta com lindas flores. Contente de ter sido o responsável por salvar aquela bela espécie, ficou um tempo a apreciar sua beleza. Logo após a borboleta depositou alguns ovos numa parte tenra na planta. Então o observador começou a examinar a planta com mais cuidado e, para sua surpresa, dois galhos abaixo havia um emaranhado de lagartas se deliciando sofregamente das folhas da planta. Ele teve a impressão de que a planta tremeu e, logo depois, uma de suas flores caiu murcha no chão.
O caminhante continuou o seu passeio enquanto refletia sobre o assunto. Como pode uma criatura tão bela produzir tanto estrago? Começou a ficar em dúvida se fora uma boa idéia eliminar o sapo. Menos de vinte passos depois deparou com uma aranha que corria no gramado para se esconder. Seu primeiro ímpeto foi esmagá-la, mas se conteve ao lembrar dos incidentes anteriores. Desviou seu pé que já estava para eliminar o inseto e seguiu andando satisfeito por não ter cometido aquele assassinato.
Tendo a atenção desviada pela natureza que pululava à sua frente, continuou sua caminhada examinando cuidadosamente os galhos das árvores da praça a fim de descobrir a vida acontecendo. Foi quando viu, numa das forquilhas de uma das árvores, uma imensa teia de aranha com uma libélula que se debatia tentando, em vão, se libertar. Logo uma aranha, parecidíssima com a que ele deixou de eliminar, aplicou seu ferrão na vítima que, assim que teve o veneno injetado em si, ficou paralisada. Com uma habilidade e rapidez incrível a dona da teia envolveu o inseto intruso com finíssimo fio de seda e levou-o, agora feito em refeição, para o centro da teia, onde, observou o rapaz, já havia vários alimentos enrolados para serem apreciados mais tarde pela família dos aracnídeos.
- Ali deve ser a dispensa dela, pensou o admirador da natureza.
Ao reiniciar sua caminhada, decidiu:
- Quer saber de uma coisa? Que os sapos escapem com suas próprias pernas! Quanto menos eu mexer na natureza, melhor faço a ela. Nem sempre uma boa intenção é suficiente para se fazer o bem.E, concluindo que a natureza era suficientemente competente para cuidar de si, tratou de, daquele momento em diante, admirá-la sim, mas de longe.
Roberto Policiano
2 Comments:
Concordo em parte com a conclusão a que chegou o rapaz. Como em tudo, o bom senso deve predominar. Estou, porém, de acordo com o facto de, às vezes, com a intenção de ajudar só piorarmos as coisas.
Preso por ter cão, preso por não ter... :)
O Roberto sempre surpreende o leitor com as suas narrativas.
Abraço.
É verdade, Ana, embora a intenção seja boa, podemos atrapalhar. Se eu coneguir surpreender o leitor e levá-lo à reflexão, ou à emoção, sentirei recompensado. Obrigado, amiga. Um grande abraço
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