26 de nov. de 2012
21 de nov. de 2012
Libertação
Enquanto aguardava sua vez na sala de
espera de um consultório psicológico folheava sem muito interesse uma das revistas
disponíveis. Só queria observar as gravuras para passar o tempo. No entanto,
seus olhos acharam a palavra obsessão e arrastaram com eles toda a atenção
disponível. Foi então que leu uma informação intrigante. A obsessão pode ser
notada nos pequenos detalhes do dia a dia do sujeito. Tomar banho no horário
costumeiro, visitar o supermercado no mesmo dia da semana, comer os alimentos
preparados de um jeito só, viajar sempre por um único caminho, são alguns
sinais, dizia o artigo, que poderiam indicar uma sutil obsessão. Esqueceu as
gravuras e leu atentamente a reportagem, relendo-a a seguir e tornando a
fazê-lo, só interrompendo a leitura quando ouviu seu nome ser anunciado.
Assim que chegou a casa correu para o computador e só saiu dali horas depois com um maço de papéis que acabara de ser impresso. Segurava os documentos com a mão direita enquanto batia-os lentamente nas pontas dos dedos da mão esquerda. Seu rosto estava iluminado por um sorriso de libertação. Conseguira, depois de extenso raciocínio, planejar sua vida para os próximos cinco anos. Sua rotina estava devidamente tabulada para que nenhum ato seu se repetisse, seja no horário, itinerário, alimentação, passeio, pessoas. Ou seja, conseguira enquadrar a si mesmo a fim de não cair num modo obsessivo de ser!
Assim que chegou a casa correu para o computador e só saiu dali horas depois com um maço de papéis que acabara de ser impresso. Segurava os documentos com a mão direita enquanto batia-os lentamente nas pontas dos dedos da mão esquerda. Seu rosto estava iluminado por um sorriso de libertação. Conseguira, depois de extenso raciocínio, planejar sua vida para os próximos cinco anos. Sua rotina estava devidamente tabulada para que nenhum ato seu se repetisse, seja no horário, itinerário, alimentação, passeio, pessoas. Ou seja, conseguira enquadrar a si mesmo a fim de não cair num modo obsessivo de ser!
Roberto Policiano
12 de nov. de 2012
Cascalhos
As dificuldades da vida
são como cascalhossobre um terreno.
Podemos:
- Simplesmente deixá-los como estão
e permitir que o ambiente
continue com aspecto de imprestável;
- Removê-los para uma única área,
tornando o terreno parcialmente útil;
- Usá-los para construir muretas
em volta de canteiros;
- Organizá-los em mosaicos;
- Construir uma escultura com eles.
Os cascalhos acontecem.
Cabe a nós dar-lhes o destino final
ou tão somente
deixar que permaneçam intocáveis,
desvalorizando os espaços de nossas vidas.
Roberto Policiano
5 de nov. de 2012
VIDA
O menino passeava em sua bicicleta na ciclovia do parque quando deparou
com um ciclista que vinha em sentido oposto. Chamou-lhe a sua atenção os
seguintes dizeres que havia na camiseta dele:
"A vida é..."
Assim que o ciclista passou por ele, o garoto virou a cabeça imediatamente e percebeu que na parte de trás da camiseta estava a continuação da frase. O rapazinho desceu imediatamente da bicicleta, virou-a na direção oposta, montou-a novamente e pedalou o mais rápido que conseguiu. Depois de rodar por alguns minutos, desistiu de cansaço. Foi então que teve a ideia de virar-se outra vez, pois assim encontraria o outro mais rápido. funcionou, pois, cerca de três minutos depois os dois se cruzaram novamente. O menino só esqueceu que o encontro seria na mesma posição anterior, de modo que só pode ler o que já sabia. Antes de desanimar, no entanto, deu outra meia volta e continuou a pedalar normalmente.
- Quando ele passar de novo conseguirei ler os dizeres nas costas da camiseta, pensou.
O plano foi perfeito, mas o que ele não sabia é que aquela era a última volta do ciclista. Quando rodou na ciclovia sem encontrá-lo percebeu o que acontecera.
Aquela frase havia atiçado a curiosidade do garoto, de modo que, assim que chegou em casa, guardou sua bicicleta no lugar apropriado e informou a sua mãe que queria visitar o avô.
Depois de cumprimentar os avós com abraços e beijos, como sempre fazia, disse ao nono:
- Vovô Róbson, eu preciso da ajuda do senhor.
- Vamos até a sala onde poderemos conversar melhor.
Depois de se acomodar em sua poltrona preferida o ancião dirigiu-se ao neto:
- E então Paulo Henrique, em que posso ajudá-lo?
- Vovô o que é a vida?
O senhor se maravilhou com a pergunta. Como pode uma criança de apenas nove anos de idade se preocupar com isso?
- Uma pergunta muito interessante, Paulo Henrique. Desde quando você pensa nisso?
- Desde quando eu vi uma camiseta onde estava escrito: “A vida é...” na parte da frente, mas não consegui ler a resposta que estava na parte de trás. Fiquei curioso e pensei que o senhor poderia ter uma resposta.
- Compreendo. Vai até a escrivaninha, por favor, e me traga duas folhas de papel.
- Pois não.
De posse das folhas o ancião ficou com uma e deixou a outra com o neto.
- Peque a margem menor do papel e junte-a com a margem da outra ponta da folha.
- Pronto vovô. E agora, o que faço?
- Faça a mesma coisa, agora com a margem maior.
- Assim?
- Isso mesmo. Agora pega um dos cantos do papel e junte-o no canto na ponta oposta e também no canto oposto.
- Devo cruzar na diagonal?
- Muito bem, é isso que eu quero.
- Olha como ficou.
- Perfeito! Agora faça o mesmo com os outros dois cantos.
- Ficou parecido, vovô.
- Parecido, mas não idêntico.
- O que faço agora?
- Faça um canudo pelo lado mais comprido.
- Veja vovô; consigo ver o senhor pelo canudo!
- Parece com uma luneta. Agora faça um canudo mais curto.
- É só enrolar a folha pelo lado menor. Pronto. Continuou uma luneta, só que menor.
- Ótimo! Agora imagina alguma coisa diferente que pode ser feito com a folha.
- Já sei! Vou fazer um canudo enrolando a folha na diagonal. Olha vovô, ficou um canudo maior do que o primeiro.
- Percebeu quantas coisas diferentes foi possível fazer com a mesma folha de papel?
- Percebi sim, e foi muito divertido.
- Pois então, Paulo Henrique, isso ajuda a responder a sua pergunta.
- Como assim, vovô, não entendi nada.
- A vida, como a folha de papel, é bastante flexível. Podemos fazer dela o que bem entendemos.
- Continuo não entendendo, vovô.
- A vida será aquilo que fizermos dela, essa é a lição que podemos aprender da folha de papel. Por exemplo, quem encarar a vida como sendo uma droga, é exatamente isso que ela se tornará. Por outro lado, quem achar a vida uma aventura, a vida será, para essa pessoa, uma aventura. Se alguém encarar a vida como algo triste, ela será simplesmente isso – algo triste. Para os que encaram a vida como enfadonha, ela jamais será excitante. Assim, Paulo Henrique, a vida será exatamente como a enxergamos e não há nenhuma possibilidade de ela ser diferente a não ser que mudamos o nosso modo de encará-la. Onde está sua folha de papel?
- Está aqui, vovô.
- Amasse-a o tanto que você conseguir e depois a aperte-a bem.
- Ficou como uma bolinha.
- Abra a folha novamente e tente alisá-la.
- Não consigo, vovô. A folha ficou um lixo.
- Exatamente, Paulo Henrique, esta é a palavra certa – lixo. Assim, se encararmos a vida como lixo, ela não será algo diferente disso. Conseguiu entender o que pretendi te ensinar?
- Mais ou menos, vovô.
- Então vamos lá. Responda-me o que é a vida.
- Pelo que eu entendi, não existe uma resposta única. É isso?
- É isso mesmo. E quem vai definir se a vida será boa ou ruim?
- Pelo que o senhor falou é a própria pessoa.
- Muito bem! Podemos dizer então, sem sombra de dúvida, que cada um é responsável pelo resultado de sua própria vida.
- Será que era isso que estava escrito na camiseta daquele homem?
- Talvez ele volte lá amanhã.
- Boa ideia! Amanhã voltarei lá. Obrigado, vovô.
- Por nada, Paulo Henrique, por nada.
- O que faço com esta folha amassada, vovô?
- Faça com ela o que você quiser.
- Até mais, vovô.
- Só mais uma coisinha, por favor.
- Sim, vovô.
- Quero que leve essa folha de papel nova.
- O que o senhor quer que eu faça com ela?
- Quero que a guarde como recordação dessa nossa conversa. Nunca se
esqueça que o resultado da sua vida está em suas mãos."A vida é..."
Assim que o ciclista passou por ele, o garoto virou a cabeça imediatamente e percebeu que na parte de trás da camiseta estava a continuação da frase. O rapazinho desceu imediatamente da bicicleta, virou-a na direção oposta, montou-a novamente e pedalou o mais rápido que conseguiu. Depois de rodar por alguns minutos, desistiu de cansaço. Foi então que teve a ideia de virar-se outra vez, pois assim encontraria o outro mais rápido. funcionou, pois, cerca de três minutos depois os dois se cruzaram novamente. O menino só esqueceu que o encontro seria na mesma posição anterior, de modo que só pode ler o que já sabia. Antes de desanimar, no entanto, deu outra meia volta e continuou a pedalar normalmente.
- Quando ele passar de novo conseguirei ler os dizeres nas costas da camiseta, pensou.
O plano foi perfeito, mas o que ele não sabia é que aquela era a última volta do ciclista. Quando rodou na ciclovia sem encontrá-lo percebeu o que acontecera.
Aquela frase havia atiçado a curiosidade do garoto, de modo que, assim que chegou em casa, guardou sua bicicleta no lugar apropriado e informou a sua mãe que queria visitar o avô.
Depois de cumprimentar os avós com abraços e beijos, como sempre fazia, disse ao nono:
- Vovô Róbson, eu preciso da ajuda do senhor.
- Vamos até a sala onde poderemos conversar melhor.
Depois de se acomodar em sua poltrona preferida o ancião dirigiu-se ao neto:
- E então Paulo Henrique, em que posso ajudá-lo?
- Vovô o que é a vida?
O senhor se maravilhou com a pergunta. Como pode uma criança de apenas nove anos de idade se preocupar com isso?
- Uma pergunta muito interessante, Paulo Henrique. Desde quando você pensa nisso?
- Desde quando eu vi uma camiseta onde estava escrito: “A vida é...” na parte da frente, mas não consegui ler a resposta que estava na parte de trás. Fiquei curioso e pensei que o senhor poderia ter uma resposta.
- Compreendo. Vai até a escrivaninha, por favor, e me traga duas folhas de papel.
- Pois não.
De posse das folhas o ancião ficou com uma e deixou a outra com o neto.
- Peque a margem menor do papel e junte-a com a margem da outra ponta da folha.
- Pronto vovô. E agora, o que faço?
- Faça a mesma coisa, agora com a margem maior.
- Assim?
- Isso mesmo. Agora pega um dos cantos do papel e junte-o no canto na ponta oposta e também no canto oposto.
- Devo cruzar na diagonal?
- Muito bem, é isso que eu quero.
- Olha como ficou.
- Perfeito! Agora faça o mesmo com os outros dois cantos.
- Ficou parecido, vovô.
- Parecido, mas não idêntico.
- O que faço agora?
- Faça um canudo pelo lado mais comprido.
- Veja vovô; consigo ver o senhor pelo canudo!
- Parece com uma luneta. Agora faça um canudo mais curto.
- É só enrolar a folha pelo lado menor. Pronto. Continuou uma luneta, só que menor.
- Ótimo! Agora imagina alguma coisa diferente que pode ser feito com a folha.
- Já sei! Vou fazer um canudo enrolando a folha na diagonal. Olha vovô, ficou um canudo maior do que o primeiro.
- Percebeu quantas coisas diferentes foi possível fazer com a mesma folha de papel?
- Percebi sim, e foi muito divertido.
- Pois então, Paulo Henrique, isso ajuda a responder a sua pergunta.
- Como assim, vovô, não entendi nada.
- A vida, como a folha de papel, é bastante flexível. Podemos fazer dela o que bem entendemos.
- Continuo não entendendo, vovô.
- A vida será aquilo que fizermos dela, essa é a lição que podemos aprender da folha de papel. Por exemplo, quem encarar a vida como sendo uma droga, é exatamente isso que ela se tornará. Por outro lado, quem achar a vida uma aventura, a vida será, para essa pessoa, uma aventura. Se alguém encarar a vida como algo triste, ela será simplesmente isso – algo triste. Para os que encaram a vida como enfadonha, ela jamais será excitante. Assim, Paulo Henrique, a vida será exatamente como a enxergamos e não há nenhuma possibilidade de ela ser diferente a não ser que mudamos o nosso modo de encará-la. Onde está sua folha de papel?
- Está aqui, vovô.
- Amasse-a o tanto que você conseguir e depois a aperte-a bem.
- Ficou como uma bolinha.
- Abra a folha novamente e tente alisá-la.
- Não consigo, vovô. A folha ficou um lixo.
- Exatamente, Paulo Henrique, esta é a palavra certa – lixo. Assim, se encararmos a vida como lixo, ela não será algo diferente disso. Conseguiu entender o que pretendi te ensinar?
- Mais ou menos, vovô.
- Então vamos lá. Responda-me o que é a vida.
- Pelo que eu entendi, não existe uma resposta única. É isso?
- É isso mesmo. E quem vai definir se a vida será boa ou ruim?
- Pelo que o senhor falou é a própria pessoa.
- Muito bem! Podemos dizer então, sem sombra de dúvida, que cada um é responsável pelo resultado de sua própria vida.
- Será que era isso que estava escrito na camiseta daquele homem?
- Talvez ele volte lá amanhã.
- Boa ideia! Amanhã voltarei lá. Obrigado, vovô.
- Por nada, Paulo Henrique, por nada.
- O que faço com esta folha amassada, vovô?
- Faça com ela o que você quiser.
- Até mais, vovô.
- Só mais uma coisinha, por favor.
- Sim, vovô.
- Quero que leve essa folha de papel nova.
- O que o senhor quer que eu faça com ela?
Roberto Policiano