26 de fev. de 2014
19 de fev. de 2014
Predadores
Assistia a um programa que mostrava os animais no habitat natural de cada
um. As feras faziam parte dos predadores. Numa das cenas um bando de cervos
pastava sossegado numa campina quando, de repente, umas quatro leoas chegaram
para buscar a refeição da família. Os herbívoros, assim que perceberam os felinos,
saíram em disparadas para salvarem suas vidas, mas sempre tem aquele que não
consegue acompanhar os demais, e, consequentemente, torna-se o alvo dos
caçadores. Por mais que se fique na torcida pelo mais fraco a lógica prevalece, e,
como os leões também precisam de se alimentar, o final é previsível. Numa outra
tomada do documentário a família dos felinos é mostrada deitada sossegada ao
lado dos veados que, recuperados do susto, voltam a devorar as gramíneas
como se nada tivesse acontecido. Quem assistia o documentário se perturbou e achou uma
injustiça que as coisas aconteciam do modo como foi mostrado. No entanto, ao
entrar o horário comercial, a primeira propaganda era sobre uma churrascaria e,
para ativar o apetite dos telespectadores, vários roletes, exibindo uma grande
variedade de carnes, apareceram na tela da TV, cada um deles com a superfície
tostada no ponto certo! Imediatamente a revolta inicial foi substituída pela
reflexão. Existe algum predador pior do que os humanos? Ficou claro que nós,
como os leões, também cuidados de nossos rebanhos para, no momento certo,
abatê-los sem qualquer dor na consciência. Conclusão: os ditos
cuidados dispensados aos animais, nada mais são do que um engodo, pois, no
final, eles acabam em panelas, frigideiras, espetos ou roletes, como os
mostrados na na televisão.
Roberto Policiano
12 de fev. de 2014
5 de fev. de 2014
Eco
Caminhava em direção ao parque público quando sua atenção foi
desviada para um cachorro que, com as patas dianteiras sobre o cume de um muro,
latia por algum tempo e parava, para continuar logo em seguida. Á medida que o
tempo corria ele ladrava mais alto e rosnava ameaçadora e insistentemente. O
observador, intrigado com o que assistia, interrompeu sua caminhada e continuou
a observar a cena. Olhou atentamente o entorno para descobrir a quem ou a que
era dirigida a raiva do cão. Não conseguindo achar uma explicação para a ação
do animal, que continuava mais furioso em seus latidos, aproximou-se
gradativamente para perto dele, tomando o cuidado para não chamar a sua
atenção. Foi então que ouviu o que o bicho ouvia, resultando em toda
aquela raiva. Do ponto onde se encontrava aquele que dirigia seus desafios
caninos, ouvia-se o eco do som emitido, de modo que, toda raiva e ferocidade
emitida voltavam para ele mesmo. Depois de descoberto o que motivava a
demonstração nada amistosa da fera, resolveu - como tinha tempo disponível -
ficar e assistir aquele espetáculo até o seu final. Cerca de quarenta minutos
depois, o cachorro, completamente rouco, deixou de latir e rosnar e, descendo
do muro, foi em busca de um canto onde pudesse remoer todo seu ódio àquele que
ousou desafiá-lo.
Tendo reiniciado sua caminhada o homem não conseguiu parar de
pensar no que testemunhara. O que parecia uma coisa banal se tornou, de
repente, num assunto para filosofar. “Quantas vezes”, concluiu então, “não
cometemos o mesmo erro de esbravejar, espernear, gritar e ameaçar para, por
fim, descobrir que a fonte de tanta irritação não está em outro, mas em nós
mesmos!”.
Roberto Policiano