Roberto Policiano

26 de fev. de 2014

Semeadura II





                         Somente

                         Semeie

                         Sementes

                         Sem meias

                         Verdades.


              Roberto Policiano

19 de fev. de 2014

Predadores




Assistia a um programa que mostrava os animais no habitat natural de cada um. As feras  faziam parte dos predadores. Numa das cenas um bando de cervos pastava sossegado numa campina quando, de repente, umas quatro leoas chegaram para buscar a refeição da família. Os herbívoros, assim que perceberam os felinos, saíram em disparadas para salvarem suas vidas, mas sempre tem aquele que não consegue acompanhar os demais, e, consequentemente, torna-se o alvo dos caçadores. Por mais que se fique na torcida pelo mais fraco a lógica prevalece, e, como os leões também precisam de se alimentar, o final é previsível. Numa outra tomada do documentário a família dos felinos é mostrada deitada sossegada ao lado dos veados que, recuperados do susto, voltam a devorar as gramíneas como se nada tivesse acontecido. Quem assistia o documentário se perturbou e achou uma injustiça que as coisas aconteciam do modo como foi mostrado. No entanto, ao entrar o horário comercial, a primeira propaganda era sobre uma churrascaria e, para ativar o apetite dos telespectadores, vários roletes, exibindo uma grande variedade de carnes, apareceram na tela da TV, cada um deles com a superfície tostada no ponto certo! Imediatamente a revolta inicial foi substituída pela reflexão. Existe algum predador pior do que os humanos? Ficou claro que nós, como os leões, também cuidados de nossos rebanhos para, no momento certo, abatê-los sem qualquer dor na consciência. Conclusão: os ditos cuidados dispensados aos animais, nada mais são do que um engodo, pois, no final, eles acabam em panelas, frigideiras, espetos ou roletes, como os mostrados na na televisão.

Roberto Policiano

12 de fev. de 2014

Farrapos



Findaram

Anseios

Desejos

Carícias

Abraços

E beijos.

Restaram

Cobranças

Carências

Momentos

Medonhos.

Da nuvem

De sonho

Ficou

Um fiapo

Gasoso

Sem cor...

Sem vida...

Sem gozo.
 
 
Roberto Policiano

5 de fev. de 2014

Eco




Caminhava em direção ao parque público quando sua atenção foi desviada para um cachorro que, com as patas dianteiras sobre o cume de um muro, latia por algum tempo e parava, para continuar logo em seguida. Á medida que o tempo corria ele ladrava mais alto e rosnava ameaçadora e insistentemente. O observador, intrigado com o que assistia, interrompeu sua caminhada e continuou a observar a cena. Olhou atentamente o entorno para descobrir a quem ou a que era dirigida a raiva do cão. Não conseguindo achar uma explicação para a ação do animal, que continuava mais furioso em seus latidos, aproximou-se gradativamente para perto dele, tomando o cuidado para não chamar a sua atenção. Foi então que ouviu o que o bicho ouvia, resultando em toda aquela raiva. Do ponto onde se encontrava aquele que dirigia seus desafios caninos, ouvia-se o eco do som emitido, de modo que, toda raiva e ferocidade emitida voltavam para ele mesmo. Depois de descoberto o que motivava a demonstração nada amistosa da fera, resolveu - como tinha tempo disponível - ficar e assistir aquele espetáculo até o seu final. Cerca de quarenta minutos depois, o cachorro, completamente rouco, deixou de latir e rosnar e, descendo do muro, foi em busca de um canto onde pudesse remoer todo seu ódio àquele que ousou desafiá-lo.

Tendo reiniciado sua caminhada o homem não conseguiu parar de pensar no que testemunhara. O que parecia uma coisa banal se tornou, de repente, num assunto para filosofar. “Quantas vezes”, concluiu então, “não cometemos o mesmo erro de esbravejar, espernear, gritar e ameaçar para, por fim, descobrir que a fonte de tanta irritação não está em outro, mas em nós mesmos!”.


Roberto Policiano