Eco
Caminhava em direção ao parque público quando sua atenção foi
desviada para um cachorro que, com as patas dianteiras sobre o cume de um muro,
latia por algum tempo e parava, para continuar logo em seguida. Á medida que o
tempo corria ele ladrava mais alto e rosnava ameaçadora e insistentemente. O
observador, intrigado com o que assistia, interrompeu sua caminhada e continuou
a observar a cena. Olhou atentamente o entorno para descobrir a quem ou a que
era dirigida a raiva do cão. Não conseguindo achar uma explicação para a ação
do animal, que continuava mais furioso em seus latidos, aproximou-se
gradativamente para perto dele, tomando o cuidado para não chamar a sua
atenção. Foi então que ouviu o que o bicho ouvia, resultando em toda
aquela raiva. Do ponto onde se encontrava aquele que dirigia seus desafios
caninos, ouvia-se o eco do som emitido, de modo que, toda raiva e ferocidade
emitida voltavam para ele mesmo. Depois de descoberto o que motivava a
demonstração nada amistosa da fera, resolveu - como tinha tempo disponível -
ficar e assistir aquele espetáculo até o seu final. Cerca de quarenta minutos
depois, o cachorro, completamente rouco, deixou de latir e rosnar e, descendo
do muro, foi em busca de um canto onde pudesse remoer todo seu ódio àquele que
ousou desafiá-lo.
Tendo reiniciado sua caminhada o homem não conseguiu parar de
pensar no que testemunhara. O que parecia uma coisa banal se tornou, de
repente, num assunto para filosofar. “Quantas vezes”, concluiu então, “não
cometemos o mesmo erro de esbravejar, espernear, gritar e ameaçar para, por
fim, descobrir que a fonte de tanta irritação não está em outro, mas em nós
mesmos!”.
Roberto Policiano
2 Comments:
Muito bom!
Cecília, obrigado pelo incentivo e pela visita. Volte sempre. Abraços!
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