Roberto Policiano

5 de fev. de 2014

Eco




Caminhava em direção ao parque público quando sua atenção foi desviada para um cachorro que, com as patas dianteiras sobre o cume de um muro, latia por algum tempo e parava, para continuar logo em seguida. Á medida que o tempo corria ele ladrava mais alto e rosnava ameaçadora e insistentemente. O observador, intrigado com o que assistia, interrompeu sua caminhada e continuou a observar a cena. Olhou atentamente o entorno para descobrir a quem ou a que era dirigida a raiva do cão. Não conseguindo achar uma explicação para a ação do animal, que continuava mais furioso em seus latidos, aproximou-se gradativamente para perto dele, tomando o cuidado para não chamar a sua atenção. Foi então que ouviu o que o bicho ouvia, resultando em toda aquela raiva. Do ponto onde se encontrava aquele que dirigia seus desafios caninos, ouvia-se o eco do som emitido, de modo que, toda raiva e ferocidade emitida voltavam para ele mesmo. Depois de descoberto o que motivava a demonstração nada amistosa da fera, resolveu - como tinha tempo disponível - ficar e assistir aquele espetáculo até o seu final. Cerca de quarenta minutos depois, o cachorro, completamente rouco, deixou de latir e rosnar e, descendo do muro, foi em busca de um canto onde pudesse remoer todo seu ódio àquele que ousou desafiá-lo.

Tendo reiniciado sua caminhada o homem não conseguiu parar de pensar no que testemunhara. O que parecia uma coisa banal se tornou, de repente, num assunto para filosofar. “Quantas vezes”, concluiu então, “não cometemos o mesmo erro de esbravejar, espernear, gritar e ameaçar para, por fim, descobrir que a fonte de tanta irritação não está em outro, mas em nós mesmos!”.


Roberto Policiano

2 Comments:

At 8:33 AM, Blogger Cecilia Cardoso da Silva said...

Muito bom!

 
At 10:38 AM, Anonymous Roberto Policiano said...

Cecília, obrigado pelo incentivo e pela visita. Volte sempre. Abraços!

 

Postar um comentário

<< Home