24 de set. de 2014
17 de set. de 2014
Chuva Territorial
A pressa fez com
que ele saísse em disparada, pois tinha à sua disposição cerca de trinta minutos
para chegar ao cartório a fim de dar entrada no pedido de lavratura do
documento. Assim que chegou à porta de saída do prédio onde trabalhava notou
que o céu estava carregado e não tardaria a chover. Como não dispunha de tempo
para voltar ao escritório e buscar o guarda-chuva, não havia alternativa a não
ser sair à rua e torcer para que a chuva esperasse sua chegada ao seu destino,
que ficava a oito quadras dali e, portanto, faria o percurso a pé. As nuvens só
conseguiram reter a água por cerca de dois quarteirões. Em menos de cinco
segundos ficou com a roupa encharcada. Os cabelos grudaram em sua testa, rosto,
orelhas, causando uma sensação irritante, mas não havia tempo de consertos.
Ainda bem que os documentos estavam bem protegidos numa pasta impermeável.
Entrou na terceira rua à sua esquerda, pois pretendia chegar à uma praça
arborizada. Sabia que ali receberia relativa proteção, facilitando assim o
cumprimento de seu dever. Assim que chegou àquele logradouro teve uma surpresa
– O sol brilhava maravilhosamente! Nas ruas nenhuma poça, ou melhor, nenhum
pingo de chuva. Olhou para cima e visualizou a abóbada celeste a exibir um
magnífico azul. Descrente, virou-se para trás a fim de se certificar que não
tivera um pesadelo. Pode rever a nuvem pesada despejando seu conteúdo em apenas
um pequeno perímetro da cidade, justamente no bairro onde trabalhava! Voltou a caminhar apressadamente, pois o tempo não
parara para analisar as discrepâncias da natureza. Só então percebeu que todos
pararam o que estavam fazendo a fim de entender como aquela criatura, naquela
tarde radiante, calorenta e abafada, conseguiu se encharcar. Tentou uma
explicação gestual ao voltar-se para a nuvem negra que o regou, mas ninguém
entendeu sua intenção, portanto todos os pares de olhos continuaram fixos
naquela aberração factual. Com um motivo a mais para se apressar, acelerou a
marcha e desapareceu entre as árvores que enfeitavam e ofereciam refúgio aos
transeuntes locais. Oferta esta muito bem aceita por aquela alma que se tornara
guardiã fiel daqueles valiosos papéis.
Roberto Policiano
10 de set. de 2014
Redes sociais
Carminha comprou um
pente;
O Carlos bateu o
carro;
João faltou ao
serviço;
Dolores foi ao
dentista;
Leninha perdeu os
grampos;
Amélia feriu o calo;
Fabinho escorregou na
sala;
Antônia ganhou um
galo;
Claudinha não quer
salada;
Pereira arrumou
emprego;
A Ju terminou o
namoro;
A Tina quebrou a
sandália;
Serginho vendeu seu
cachorro;
O gatinho da Zizi é
uma gata;
Dona Naná trocou de
moto;
Mariana vai descer a
serra;
O canário da Bianca
escapou da gaiola...
Três horas da
madrugada;
Boceja, espreguiça,
Quase baba no
teclado,
Mas vai dormir
informado.
E a droga da
torneira da pia
Insiste em gotejar!
Roberto Policiano
3 de set. de 2014
O quase nada
Ele
era baixo e um pouco acima do peso – para não chamá-lo de gordo, pois, de fato,
não chegava a sê-lo. Usava camiseta de mangas curtas, porém, como ela era
muito maior do que o número do seu manequim, seus braços eram quase que
completamente cobertos, deixando à mostra apenas cinco centímetros acima de
seus pulsos. Além do mais, a barra da cintura cobria suas pernas quase na
altura dos joelhos. Como ele usava bermuda feita para pessoas com o dobro do
seu tamanho, as barras dela chegavam perto de seus tornozelos, mostrando
apenas uma pequena parte de suas pernas. Os sapatos escolhidos por ele faziam
parecer que seus pés dançassem dentro deles. Para completar seu visual o
indivíduo usava um enorme boné cuja aba escondia quase que totalmente o seu
rosto. Este era o seu traje, não importa qual fosse a estação do ano ou o
clima do momento. De fato, pouco se via do usuário debaixo daqueles panos, o
que fez com que ele ganhasse o apelido de “O quase nada”. Não se sabe quem
criou tal alcunha, mas, como lhe caiu bem – diferente de suas roupas – o título
‘pegou’ imediatamente.
Roberto Policiano