Roberto Policiano

24 de set. de 2014

Erros e acertos




Meu maior erro –  Ter nascido;


Meu maior acerto – Ter nascido;

Porque a vida é feita de erros e acertos.


Roberto Policiano



17 de set. de 2014

Chuva Territorial




A pressa fez com que ele saísse em disparada, pois tinha à sua disposição cerca de trinta minutos para chegar ao cartório a fim de dar entrada no pedido de lavratura do documento. Assim que chegou à porta de saída do prédio onde trabalhava notou que o céu estava carregado e não tardaria a chover. Como não dispunha de tempo para voltar ao escritório e buscar o guarda-chuva, não havia alternativa a não ser sair à rua e torcer para que a chuva esperasse sua chegada ao seu destino, que ficava a oito quadras dali e, portanto, faria o percurso a pé. As nuvens só conseguiram reter a água por cerca de dois quarteirões. Em menos de cinco segundos ficou com a roupa encharcada. Os cabelos grudaram em sua testa, rosto, orelhas, causando uma sensação irritante, mas não havia tempo de consertos. Ainda bem que os documentos estavam bem protegidos numa pasta impermeável. Entrou na terceira rua à sua esquerda, pois pretendia chegar à uma praça arborizada. Sabia que ali receberia relativa proteção, facilitando assim o cumprimento de seu dever. Assim que chegou àquele logradouro teve uma surpresa – O sol brilhava maravilhosamente! Nas ruas nenhuma poça, ou melhor, nenhum pingo de chuva. Olhou para cima e visualizou a abóbada celeste a exibir um magnífico azul. Descrente, virou-se para trás a fim de se certificar que não tivera um pesadelo. Pode rever a nuvem pesada despejando seu conteúdo em apenas um pequeno perímetro da cidade, justamente no bairro onde trabalhava! Voltou a caminhar apressadamente, pois o tempo não parara para analisar as discrepâncias da natureza. Só então percebeu que todos pararam o que estavam fazendo a fim de entender como aquela criatura, naquela tarde radiante, calorenta e abafada, conseguiu se encharcar. Tentou uma explicação gestual ao voltar-se para a nuvem negra que o regou, mas ninguém entendeu sua intenção, portanto todos os pares de olhos continuaram fixos naquela aberração factual. Com um motivo a mais para se apressar, acelerou a marcha e desapareceu entre as árvores que enfeitavam e ofereciam refúgio aos transeuntes locais. Oferta esta muito bem aceita por aquela alma que se tornara guardiã fiel daqueles valiosos papéis.


Roberto Policiano

10 de set. de 2014

Redes sociais




Carminha comprou um pente;

O Carlos bateu o carro;

João faltou ao serviço;

Dolores foi ao dentista;

Leninha perdeu os grampos;

Amélia feriu o calo;

Fabinho escorregou na sala;

Antônia ganhou um galo;

Claudinha não quer salada;

Pereira arrumou emprego;

A Ju terminou o namoro;

A Tina quebrou a sandália;

Serginho vendeu seu cachorro;

O gatinho da Zizi é uma gata;

Dona Naná trocou de moto;

Mariana vai descer a serra;

O canário da Bianca escapou da gaiola...

Três horas da madrugada;

Boceja, espreguiça,

Quase baba no teclado,

Mas vai dormir informado.

E a droga da torneira da pia

Insiste em gotejar!
 
 
 
Roberto Policiano

3 de set. de 2014

O quase nada




Ele era baixo e um pouco acima do peso – para não chamá-lo de gordo, pois, de fato, não chegava a sê-lo. Usava camiseta de mangas curtas, porém, como ela era muito maior do que o número do seu manequim, seus braços eram quase que completamente cobertos, deixando à mostra apenas cinco centímetros acima de seus pulsos. Além do mais, a barra da cintura cobria suas pernas quase na altura dos joelhos. Como ele usava bermuda feita para pessoas com o dobro do seu tamanho, as barras dela chegavam perto de seus tornozelos, mostrando apenas uma pequena parte de suas pernas. Os sapatos escolhidos por ele faziam parecer que seus pés dançassem dentro deles. Para completar seu visual o indivíduo usava um enorme boné cuja aba escondia quase que totalmente o seu rosto. Este era o seu traje, não importa qual fosse a estação do ano ou o clima do momento. De fato, pouco se via do usuário debaixo daqueles panos, o que fez com que ele ganhasse o apelido de “O quase nada”. Não se sabe quem criou tal alcunha, mas, como lhe caiu bem – diferente de suas roupas – o título ‘pegou’ imediatamente.


Roberto Policiano