Roberto Policiano

26 de nov. de 2014

Como conseguiu?


No final da entrevista, o jornalista, cumprindo o ritual, fez a contumaz pergunta:

-          Ser ou ter?

-          Como conseguiu!

-          O que você quer dizer com isso?

-          Muito simples, meu caro amigo. Mais importante do que ter ou ser é como a pessoa conseguiu este ou aquele.

-          Explique isso, meu caro.

-          Uma pessoa mostra quem realmente é a partir do método usado para conseguir ter ou ser. Creio que não há nada de errado em ter ou ser e, ao mesmo tempo, é possível haver tudo de errado em se alcançar esta ou aquela situação.

-          O argumento pareceu-me interessante. Prossiga, por favor.

-          Pois não! Alguém que conseguiu um império, por exemplo. Saber os métodos reais que ele usou para alcançar tal sucesso indicará, sem qualquer sombra de dúvida, quem ele de fato é. Se a conquista foi através de trabalho, dedicação e honestidade. Se aqueles que trabalharam com ele e o apoiaram na jornada foram tratados com dignidade e respeito sem serem explorados, mas recompensados à altura de sua dedicação, neste caso, não a nada de errado em ter. Além do mais, foi estabelecido um modelo a ser seguido.

-          Isso faz todo o sentido!

-          É o que eu acredito. Por outro lado, se o possuidor do império o conseguiu por meio de engano, suborno, negociata, subterfúgio, desonestidade, exploração de seus colaboradores, extorsão, entre outras coisas vis, há tudo de errado em ter. Eis aqui um modelo de conquista a ser repudiado veementemente!

-          Este argumento é incontestável! Que dizer do ser?

-          Segue a mesma lógica.

-          Poderia nos esclarecer, por favor?

-          Sem dúvida que sim! A questão de ser pode ter dois enfoque: 1) Ser pessoa: envolve personalidade, ponto de vista, reação ao ambiente e às pessoas em sua volta, entre outras coisas; 2) Ser posição: presidente, diretor, gerente, agente político, apresentador, e qualquer atividade que confere poder. Nas duas situações o “como conseguiu” vai apontar o tipo de pessoa que ela se tornou.

-          Poderia nos exemplificar, por gentileza?

-          Alguém que alcançou uma posição pode ter conseguido por dedicação, estudo, pesquisa, competência – algo a ser imitado; ou por chantagem, camaradagem, amizade, negociata, traição – atitudes que, sem dúvida, devem ser repelidas! Quanto a ser pessoa é imperativo perguntar: Que tipo de ser ela se tornou? Sentimentos diversos constroem pessoas distintas. Algumas devem ser imitadas, outras jamais!

-          Bastante esclarecedor! Mais alguma observação?

-          Parodiando e, ao mesmo tempo, ousando um novo enfoque, digo: Como conseguiu - eis a questão!
Roberto Policiano