Goma de mascar
Terça-feira, aproximadamente
onze horas e quarenta e cinco minutos. Ele andava apressado a fim de não perder
a condução. Era verão e a temperatura estava condizente com a estação, de modo
que sua camisa estava tão suada que grudava em seu corpo. De repente deu-se
conta de que a goma de mascar que levava à boca há muito havia perdido seu
sabor. Visto que a mascava em compasso com a velocidade com que caminhava,
sentiu o impacto da mastigação em sua mandíbula. Sem pensar duas vezes cuspiu a
borracha na palma da mão e livrou-se dela na lixeira de uma casa na esquina da
avenida onde caminhada e uma pequena rua que iniciava exatamente ali. Na
residência acontecia uma movimentação incomum e um falatório em volume acima do
normal, mas o transeunte não se atentou a este detalhe.
À noite daquele mesmo dia, ao
assistir o telejornal em sua casa, nosso caminhante ouviu uma notícia de um
crime que acontecera no período da manhã. Para sua surpresa a casa onde passara em frente
apareceu na tela da televisão. Comentou com a esposa que ele estivera na região da residência mais ou menos no horário do almoço.
O acontecimento ganhou
gradativamente proporção significativa a ponto de chamar a atenção dos
repórteres e dos munícipes. O atentado foi reconhecido como praticado por
profissionais do crime, visto que nenhum vestígio fora encontrado. Isso fez com
que a notícia se repetisse durante duas semanas, agora no horário nobre da
programação televisiva, deixando de ser uma notícia local por alcançar o
interesse da nação. Peritos em criminologia foram convocados para desvendar o
caso.
Na quinta semana uma
informação intrigante foi dada pela equipe que investigava o ocorrido - que já
havia ultrapassado a barreira nacional e entrado em algumas nações vizinhas - que mostraram alguns lances do acontecimento. Um dos integrantes do crime - comentou
um dos detetives - cometeu um pequeno deslize e deixou uma goma de mascar na
lixeira da casa. Esse detalhe animaram os técnicos envolvidos no caso, pois o
material fora encaminhado para um laboratório que faria exames no DNA da saliva
da borracha a fim de identificar um dos membros da quadrilha e, por meio dele,
chegar aos demais elementos criminosos.
Três semanas depois o
caminhante foi visitado por dois agentes policiais e levado à delegacia que investigava o crime. O pobre homem tentou convencer as
autoridades de que apenas passava no local, que fazia parte de seu trajeto diário,
e jogara a goma de mascar na primeira lixeira que encontrara, mas sua
explicação foi considerada inverossímil. O infeliz foi bombardeado de perguntas
como: “Por que especificamente naquela lixeira?”; “Por que não na anterior?”; “Não
poderia ser na posterior?”; “Não percebeu ali acontecera um crime?”; “Como não
se dera conta da movimentação incomum?”; “Como não ouvira nada do que se dizia
no interior da casa?”. O rapaz suava copiosamente, pois não sabia responder a
nenhuma das perguntas acima e percebeu que a cada resposta não convincente se
complicava cada vez mais.
Os telespectadores do país
inteiro, bem como das nações fronteiriças, conheceram naquela noite um dos
criminosos do caso intrigante até então. Os peritos informaram que ele não
estava cooperando com as investigações, pois insistia em dizer que era inocente
e de que não conhecia os outros autores do crime.
Um ano e meio depois a nação
sentiu-se sossegada e tranquila ao saber que o réu fora condenado por um júri
popular a vinte anos de prisão em regime fechado pelo seu delito e a outros
dezoitos anos por acobertar os demais integrantes da quadrilha.
Em uma sala qualquer da
nação um grupo, escondido por fumaças dos apreciados e famosos charutos de
Havana, comemorava o veredicto com requintado e genuíno vinho francês, apreciado
no mundo inteiro, inclusive ali. Após efusiva e barulhenta algazarra o grupo se
preparou para planejar a próxima ação criminosa.
Roberto Policiano
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