Roberto Policiano

31 de jul. de 2006

Que vontade de um abraço

Ah! Que vontade de um abraço!
Sentir o meu corpo esmagado
Pela força dos seus braços!

Ah! Que bom que seria
Se eu sentisse em minhas costas
A força das suas mãos macias!

Ah! Se seus braços me enlaçassem
E com a força desse abraço
Seus seios me sufocassem!

Ah! Se eu pudesse em seu abraço
Quedar-me sereno e tranqüilo
Tal quando se encontra um regaço!

Ah! Se os afagos das suas mãos
Pudessem fazer reviver
O amor em meu coração!

Ah! Se meu corpo pudesse sentir
O calor que flui do seu corpo
Fazendo-me então ressurgir!

Ah! Que falta que me faz
O aconchego do seu abraço
Onde minha alma se refaz!

Ah! Se suas mãos em minha nuca
Injetassem em mim um novo alento
Deixando minha alma maluca!

Ah! Se você me esmagasse inteiro
Deixando-me asfixiado
Com a doçura do seu cheiro!

Ah! Se eu pudesse sentir
A maciez dos seus braços
Lentamente me comprimir!

Ah! Se tal qual a um laço
Você me aprisionasse
Com a força do seu abraço!

Ah! Como eu me desfaço
Com a falta que eu sinto
Do aperto dos seus braços!

Roberto Policiano

24 de jul. de 2006

Tiquico

Como posso esquecê-lo? Tinha seus oito anos de idade. Cabeça pequena, corpo coberto apenas por um calção, deixando à mostra o corpo raquítico, e pés encardidos pela poeira das ruas descalças. Dia após dia era assim que ele andava. Seu nome? Não sei. Tiquico era o seu apelido, talvez em razão de seu pequeno tamanho. Mas naquele dia ele teve uma idéia. Não, não era uma idéia qualquer. Era a melhor e a mais importante idéia que aquele garoto já tivera, e ele sabia disso. Seu rosto, coberto por uma camada fina do pó das ruas, iluminou com um sorriso. Até isso era singular nele, pois ela sorria puxando os lábios para cima sem mostrar os dentes, ao mesmo tempo em que franzia a testa e arregalava os olhos. Aquela grande idéia fez com que o brilho do seu olhar tornasse mais intenso do que o costumeiro. Não é qualquer um que, à idade de oito anos, já sabe o que quer da vida, e ele, Tiquico, acabara de descobrir qual seria a sua profissão - escultor. Esfregando as mãos de contente, saiu em disparada para por em execução a idéia que tivera. Tudo o que ele precisava era de uma madeira para esculpir. Depois de procurar por cerca de dez minutos, encontrou um pedaço de peroba rosa de aproximadamente trinta centímetros de comprimento. Mirou por alguns instantes aquela peça de madeira deitada em suas pequenas mãos e anteviu a sua primeira obra de arte. Aquela cor, bonita e brilhante, enriqueceria ainda mais o seu trabalho. Só lhe faltava a ferramenta, pois o resto era com ele. Vinte minutos se passaram e, não obstante o seu empenho, não encontrou o que procurava. Desolado, sentou-se num dos degraus da porta da cozinha. Colocou o pedaço de madeira no chão, entre os seus pés; apoiou os cotovelos em seus joelhos; deitou as faces em cada uma das palmas de suas mãos, e quedou-se pensativo. Alguns segundos de meditação foram suficientes para ajudá-lo a achar a solução para o seu problema. Ficou em pé num pulo e entrou na cozinha. Logo depois estava de volta carregando uma faca que tirara do faqueiro que era guardado para ser usado em ocasiões especiais. Com a ferramenta e a matéria prima à mão, ocupou o seu atelier, que nada mais era do que o degrau da cozinha, e iniciou a sua primeira obra de arte. Quinze minutos depois concluiu que não nascera para aquilo. Como é difícil ser escultor, pensava ele, enquanto encarava os míseros fiapos que conseguira arrancar da madeira após tanto esforço. Seu corpo estava molhado de suor. A mão que segurava a faca tremia, em vista da força que fizera e da ardência proveniente das três bolhas de água que a fricção da ferramenta causara. Levantou; foi até a pia, lavou, secou e guardou a faca no lugar de onde tirara; jogou a madeira, quase uma obra de arte, no lixo e, batendo a parte de trás do calção para livrá-lo do pó do degrau da escada, disse para si mesmo:
- Esse negócio de ser escultor não é comigo.
E, ganhando a rua, foi em busca de uma atividade mais fácil e menos dolorosa.

Roberto Policiano

17 de jul. de 2006

FORTUITO

Uma rua movimentada;
Pessoas passam apressadas;
Mormaço de uma tarde de verão;
Uma poça d’água na rua;
Som estridente de uma buzina;
Vendedor oferecendo seus produtos;
Gotas de chuva caindo de um toldo;
Olhares que se cruzam incidentalmente;
Rostos iluminados em discretos sorrisos;
Início de uma conversa;
Convite para um encontro;
Repentinas emoções;
Sangue em ebulição;
Coração pulsando acelerado;
Sorriso que não se apaga;
Um certo brilho no olhar;
Vontade de rodopiar;
Um não sei quê de felicidade;
Um lugar aconchegante;
Barulho ruidoso do mar;
Luz da lua sobre as ondas;
Uma brisa refrescante;
Uma mesa à meia-luz;
Uma conversa agradável;
Tantas coisas em comum;
Uma bebida;
Boa comida;
Um esbarrar de dedos;
Mãos que se tocam;
Olhos que se miram;
Troca de sorrisos;
Rosto acariciado;
Cabelos afagados;
Lábios que se roçam;
A magia do amor!

Roberto Policiano

10 de jul. de 2006

Fotografias

Entrou no escritório. Estava muito diferente desde a última vez que o vira, há cinco anos atrás. Foi até a estante. Já estudara muitos livros daqueles. Olhou as pastas de arquivo. Os assuntos eram os mesmos, mas as pastas eram novas. Em matéria de organização, poucas mudanças. Numa outra estante, uma moldura de mesa com uma foto sua. Pegou-a. Comparou a foto consigo. Fora tirada há cerca de quinze anos. O tempo fizera seu trabalho! Tirou a foto da moldura, pois tivera uma vontade inexplicável de apalpar o cartão que retratava seu passado. Virou-a. Para sua surpresa havia um poema seu escrito no verso. Nem se lembrava mais dele! Leu. Releu. Leu novamente. Tornou a ler. Emocionou-se com o que lera, como se aquele poema fosse escrito por outra pessoa. Sentira realmente tudo aquilo? Mentira? Não, não mentira. Sentira realmente o que escrevera. Os sentimentos externados ali foram reais, muito reais. Sentiu saudades. Uma emoção estranha veio acompanhada com ela. Não sabia precisar o que era, mas sentiu-a. Engraçado, pensou, é como rever uma emoção! Sim, era isso. Os versos fizeram com que ele sentisse novamente o que sentira no passado. Descobriu então que um poema nada mais é do que uma fotografia das emoções. Aquelas palavras descreviam exatamente as emoções que experimentara quando as escreveu. Não tivesse escrito aqueles versos, jamais sentiria o que acabara de sentir. Sorriu. Não foi um sorriso de alegria. Nem tampouco um sorriso de tristeza. Saudade? Talvez. “É, filosofou, acabei de ver uma fotografia do meu interior, daquilo que sentira há quinze anos atrás”. Colocou a foto na moldura. Saiu. Na mesa, no canto esquerdo, uma flor solitária, num pequeno vaso, implorava, através de suas pétalas murchas, um pouco de água fresca.
Roberto Policiano

2 de jul. de 2006

Simplicidade



Às vezes corremos atrás de algo complexo, mas a felicidade pode estar na simplicidade:

Tudo começou assim:
Meu pé bateu no pé dela.
Então eu olhei para ela
E ela olhou para mim.

Eu - Venha cá minha camélia.
Ela - Venha cá meu jasmim.
Hoje eu me encontro nela
E ela se encontra em mim.

Roberto Policiano