Encontros com o mar
Depois de tanto tempo lá estava eu a encará-lo frente a frente. Ainda era cedo, cerca de oito horas da manhã. A praia estava praticamente deserta. Dei alguns passos em direção ao mar e parei. As ondas morriam em meus pés. Há muito esperava por este novo encontro. Os dias anteriores foram de expectativas. Agora era eu e ele. Caminhei mais alguns passos. As águas alcançavam os meus joelhos. Parei. Estranhei o mar. Parecia diferente. Seu murmúrio, tantas vezes mencionado pelos poetas, parecia me irritar. Soava-me mais como um ralhar rabugento. Não sei se foi impressão minha, mas acho que ele pressentiu meus sentimentos, pois tive a sensação que ele se incomodava com a minha presença. Alguns siris, talvez a mando dele, começaram a mordiscar meus pés numa tentativa de me intimidar. Revidei imediatamente por caminhar ainda mais em sua direção. Suas águas atingiram a altura dos meus peitos. Ele, mostrando que não estava para brincadeira e não iria aceitar nenhuma afronta, criou uma onda e lançou-a em minha cabeça. “Traiçoeiro!”, pensei. “Pensas que me metes medo? Qual o quê! És grande, mas não és dois! Tudo bem que tens outros irmãos, mas Atlântico é só você”. O mar, como que adivinhando meu insulto, criou uma onda maior ainda e despejou-a sobre mim que, como não esperava por isso, me desequilibrei e fui arrastado até suas margens. Ele, atrevido, encharcou os meus ouvidos! Levantei furioso e caminhei com destemor até o lugar do confronto. Uma nova onda quebrou violentamente em minhas costas. Senti como se tivesse levado uma bofetada do mar.
Como uma semana passa depressa! Em apenas algumas horas retornaria para casa. Cheguei cedo – sete horas da manhã. Queria passar estes últimos momentos junto do meu grande amigo – o mar. Assim que pisei em suas águas, senti os siris roçar meus pés, numa gentil demonstração de boas vindas. Seu marulho era tão calmante que, ao ouvi-lo, apoderou-me uma sensação de paz. Caminhei lentamente em sua direção. Quando suas águas atingiram a altura dos meus peitos, o mar, numa atitude amigável, criou uma onda para massagear minhas costas. Mergulhei em suas águas. Após minha emersão uma seqüência de ondas rebentou em minhas costas. Era como se ele me acariciasse.
Depois deste encontro de despedida, saí dele sentindo a alma lavada!
É... Eu precisava destas férias!
Depois deste encontro de despedida, saí dele sentindo a alma lavada!
É... Eu precisava destas férias!
Roberto Policiano
1 Comments:
Gostei do que li, como sempre. Pena que o frio me deu uma impressão de sofrimento na água gelada do mar.
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