Sem tempo a perder
Cinco e meia da manhã. O barulho estridente do relógio a desperta. Levanta, ainda dormindo, e inicia mais um dia atarefado. Boceja enquanto prepara a primeira alimentação da família. Meia hora depois o marido beija-a em despedida e sai para o trabalho. Está na hora de acordar o filho e prepará-lo para o colégio. Veste-o enquanto ele nem terminou de acordar. Deixa-o se alimentando e apressa em se vestir. Enquanto faz isso relembra dos detalhes que transmitirá à equipe de trabalho. Certifica se o relatório e as planilhas estão em sua bolsa. Faz isso uma três vezes enquanto se arruma. Alimenta-se às pressas enquanto prepara o material que o filho usará na escola.
Às seis horas e quarenta e cinco minutos sai com o filho em direção ao colégio. Antes de trancar a porta abre a bolsa e certifica-se, pela quarta vez, se os documentos que usará na reunião com sua equipe estão realmente lá. Tranca a porta, segura na mão do filho e sai apressada. Precisa levá-lo ao colégio e apressar os passos para não perder a condução. Os minutos são preciosos, por isso seus passos são rápidos, obrigando seu filho a correr para acompanhá-la.
Enquanto passam por uma praça, na mesma velocidade que saíram de casa, a atenção do menino é desviada para alguns pombos.
- Olha que pombos bonitos, mamãe!
- Depressa, Felipe, a mamãe está atrasada.
Logo mais à frente o menino tenta diminuir o passo para observar melhor uma borboleta que acabara de pousar em uma flor, mas o toque decidido da mãe faz com que ele acelere o passo, sobrando-lhe a alternativa de virar o rosto em direção à borboleta e vê-la ficar cada vez mais distante.
Assim que os dois chegam em frente ao colégio, a mãe o abraça, acaricia seus cabelos, beija-o na testa, entrega-o à servente, e sai apressada.
Enquanto espera pela condução vê dois pombos pousarem no canteiro central da avenida. Lembra do seu tempo de criança, quando a vida não era tão corrida. Vê a si mesma correndo atrás dos pombos enquanto eles saiam em revoada apenas para pousarem a alguns metros à frente. Compara sua infância com a do filho. Tem pena dele, coitado. Mas, justifica, que alternativa ela tinha? O mundo não era o mesmo, e todo esse sacrifício era feito pensando apenas no futuro dele. Não consegue convencer a si mesma. Uma lágrima ainda tenta escapar de seus olhos, mas a condução chega trazendo-a a realidade. Entra, senta-se, e, como não tem tempo a perder, tira os relatórios da bolsa e segue viagem estudando os argumentos que usará para convencer sua equipe do seu novo projeto.
Roberto Policiano
- Olha que pombos bonitos, mamãe!
- Depressa, Felipe, a mamãe está atrasada.
Logo mais à frente o menino tenta diminuir o passo para observar melhor uma borboleta que acabara de pousar em uma flor, mas o toque decidido da mãe faz com que ele acelere o passo, sobrando-lhe a alternativa de virar o rosto em direção à borboleta e vê-la ficar cada vez mais distante.
Assim que os dois chegam em frente ao colégio, a mãe o abraça, acaricia seus cabelos, beija-o na testa, entrega-o à servente, e sai apressada.
Enquanto espera pela condução vê dois pombos pousarem no canteiro central da avenida. Lembra do seu tempo de criança, quando a vida não era tão corrida. Vê a si mesma correndo atrás dos pombos enquanto eles saiam em revoada apenas para pousarem a alguns metros à frente. Compara sua infância com a do filho. Tem pena dele, coitado. Mas, justifica, que alternativa ela tinha? O mundo não era o mesmo, e todo esse sacrifício era feito pensando apenas no futuro dele. Não consegue convencer a si mesma. Uma lágrima ainda tenta escapar de seus olhos, mas a condução chega trazendo-a a realidade. Entra, senta-se, e, como não tem tempo a perder, tira os relatórios da bolsa e segue viagem estudando os argumentos que usará para convencer sua equipe do seu novo projeto.
Roberto Policiano