Roberto Policiano

25 de jun. de 2007

História da Psicologia


Terça-feira feira, 22 horas. No dia seguinte começariam suas provas do curso de Psicologia'. Era necessário estudar muito, muito mesmo. Separou todos os textos que recebera via Internet, pegou os cadernos com as informações transmitida em sala de aula, bem como o caderno com os resumos que fizera do livro que fora adotado para uma das matérias. Suspirou desanimado ao contemplar o volume de informações que deveria saber se quisesse tirar notas razoáveis. Pegou um bloco de nota e uma caneta, buscou uma almofada para se acomodar melhor na cadeira, entrelaçou os dedos e, virando as duas mãos, esticou-as para frente estalando os dedos simultaneamente. Pegou um dos textos com a mão esquerda enquanto a direita segurou a caneta, pronto para anotar os pontos que fossem considerados importantes. Começou a ler:
'Breve História da Ciência' – É uma criação dos últimos 300 anos, foi feito no mundo e pelo mundo, que estabilizou sua forma por volta de 1660, quando a Europa sacudiu por fim o longo pesadelo das guerras religiosas e se estabeleceu zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz Hã! Hã! Numa vida de exploração comercial e industrial' zzzzzzzzzZZZZZZZ.
Percebeu que a batalha não ia ser fácil. Nem bem começara a ler e já dera dois cochilos. Ajeitou-se na cadeira. Esticou os braços para cima e para trás. Esticou as pernas também. Levantou e andou um pouco com o intuito de despertar. Sentou-se novamente e reiniciou a leitura:
' O mundo medieval era passivo e simbólico, via nas formas da natureza a assinatura do criador, desde os primeiros balbucios da ciência entre os mercadores aventureiros da Renascença, o mundo moderno tem sido uma ativa máquina. Tornou-se o mundo dia a dia comercial do século XVII' zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
Vinte minutos depois acordou. O bloco de notas estava molhado, ou melhor, babado. Foi até o banheiro, pegou um pouco de papel e tentou enxugá-lo. Não obtendo o resultado esperado, arrancou as primeiras páginas e jogou fora. Sentou-se novamente a fim de travar a batalha Hercúlea que tinha diante de si. . Pigarreou duas ou três vezes e tentou reiniciar a leitura:
' E os instrumentos da ciência foram se especializando, do campo da astronomia para o da navegação e, para, enfim, o mundo...zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
Foi assim a noite inteira. No dia seguinte, ainda dormindo, foi para a faculdade. Na prova a tarefa que fora lhe dada era uma só – Escrever sobre os primórdios da Psicologia. Depois de refletir sobre tudo que estudara nos últimos dois meses escreveu o seguinte:
Tudo começou na Ágora, em Neanderthal, lugar privado, frequentado pelos sábios e ociosos da época. Maquiavel, o benigno, ao encontrar Montaigne, o grande, convidou-o para ir com ele observar como estava a construção do Eu, pois ouvira dizer que a obra estava bem adiantada. No caminho os dois encontraram Descartes, que ouvia de Sócrates o relato de um acidente de carro que ele presenciara. Ao chegarem na Idade Média - mais conhecida como Idade Média Alta por situar numa região montanhosa – entraram numa feira, onde encontraram uma multidão barulhenta. No centro dela viram Cristóvão Colombo numa discussão acalorada com Copérnico, que insistia que a terra era plana e, se ele se aventurasse naquela viagem maluca, por certo cairia numa ribanceira como castigo dos deuses, argumento esse reforçado pelo testemunho de Galileu que, depois de perceber a presença do retrógrado Sir Isaac Newton, bateu na boca e retirou o que disse. Embora, enquanto saía de mansinho, cochichou para Colombo: 'Mas que você cai, cai'. Mais tarde, ao entrarem no bairro do Iluminismo, alcunha recebida pela variedade de luzes que havia ali, encontraram Lévi Strauss discutindo com Tylor sobre as razões que levaram nossos antepassados a deixarem suas vilas e imigrarem para a África. Segundo defendido por ele, haveria um congresso para convencerem a todos das vantagens de andar com as quatros patas, tendo em vista a maior estabilidade que aquela posição proporcionava. Sigmund Freud, que naquele momento conversava com Erasmo de Rotterdam, tentava convencer o companheiro de classe que uma criança de dois meses, se submetida aos exercícios espirituais propostos por ele, conseguiria, num prazo de quatro semanas, cantar a marchinha 'mamãe eu quero mamar', acabando de vez com o conflito de gerações, bem evidente nesse período crítico da vida da jovem mamãe. Enquanto isso Piaget, desiludido com o Heliocentrismo, defendido veementemente pela igreja e pelo um tal de senhor Feudal, retirou-se da vida pública, passando vinte anos em sua casa escrevendo sobre os Tentilhões das ilhas Galápagos, só saindo à convite de Hobbes para proferir, no parlamento inglês, o seu famoso 'Discurso do método', ocasião perdida por Kant, que no momento resolvia uma conflito interno, pois não sabia, diante de tantas Psicologias diferentes, se optava pela Organizacional, Clínica ou Educacional. Outro que perdeu o discurso foi Sebastian Bach, que naquele momento observava atentamente algumas crianças, na faixa etária dos dois aos doze anos, a fim de escrever mais uma de suas famosas fábulas. Uma delas, inclusive, serviu de inspiração para o estúdio Walt Disney produzir o famoso desenho 'A fuga das galinhas'. Enquanto isso Hamlet, depois de estudar sistematicamente o desenvolvimento humano e contribuir para um novo método de ensino, montou em seu cavalo Rocinante, e, atravessando o estreito de Bering, gritou confiante: 'Je pense, donc je suis!'.
Depois de ler atentamente seu texto algumas vezes, sorriu satisfeito. Nunca pensou que conseguiria aprender tantas coisas em tão pouco tempo! Confiante que tiraria uma boa nota, sentiu-se recompensado pelo esforço da noite anterior. Entregou a prova e, com o rosto iluminado por um sorriso, voltou para casa feliz da vida.



Roberto Policiano

18 de jun. de 2007

Drumondiando

O poema abaixo foi baseado em dois poemas do Carlos Drumond, assim, para entendê-lo, é necessário ler tais poemas, que estão transcritos nos comentários 1 e 2 deste texto. Leia-os antes de ler meu poema.

Drumondiando

Tentei seguir o conselho do Drumond
A fim de montar este hendecassílabo.
Portanto, vou rimando Drumond com carne,
Porque, disse ele, palavras não se amarram.

Assim, seguindo seu método - cidade,
Acontecimentos, Corpo, sentimentos -
Não terão vez neste singelo soneto.
Resta-me entrar no reino das palavras

E descobrir as suas mil faces secretas.
É necessário, nos ensina o poeta,
chegar bem perto para então contemplá-las.

Elas, ermas de melodia e de conceito,
Fez a mim aquela pergunta fatal.
Humildemente entendi – não tenho a chave!

Roberto Policiano

11 de jun. de 2007

Falta

No sofá, onde sentara há algum tempo, contemplava a festa. Várias pessoas, representando suas amizades de épocas diferentes de sua trajetória, estavam presentes. A casa cheia agradava-lhe, afinal ali se encontravam amigos e amigas que, de uma forma ou de outra, foram significativos em sua vida. A mão esquerda, descansada sobre o braço do estofado que ocupava, chamou sua atenção para a maciez do seu tecido. Olhou de relance os outros móveis da casa. Atentou para o belíssimo lustre. Observou cada um dos cinco quadros que adornavam o ambiente. Não havia dúvida que era uma pessoa bem sucedida. Ao pensar um pouco sobre esboçou um leve sorriu . Lutara muito, é verdade, mas vencera. Fixou sua atenção para o seu anel de doutorado. Não fora fácil adquirir o direito de colocá-lo no dedo, mas ali estava ele. Como dá trabalho ser alguém, pensou. Fez uma breve reflexão de sua vida. Tinha uma boa renda, o que lhe permitiu construir uma situação financeira confortável. No campo profissional tornara-se uma referência, pois os vários convites para palestras em eventos importantes, os inúmeros artigos publicados em periódicos especializados e os diversos livros lançados, confirmavam isso. A casa repleta indicava que suas amizades foram bem cultivadas. Tinha tudo para se considerar uma pessoa feliz. Então por que sentia aquele vazio? Levantou, caminhou lentamente por entre os amigos, cumprimentou com os olhos e um leve inclinar de cabeça a vários deles, pegou uma bebida que lhe fora oferecida pelo garçom, pediu que fossem colocadas duas pedras de gelo, dirigiu-se até o pequeno terraço para aproveitar a brisa que soprava agradavelmente, e, apoiando-se sobre um parapeito, fixou seus olhos por alguns momentos para o reflexo da luz da lua sobre a água da piscina enquanto girava a mão com o copo a fim de gelar a bebida. Embora tivesse tudo, sentia a falta de alguém. Tomou um pequeno gole da bebida. Olhou para a lua. Sentiu uma certa inquietação. 'De repente o 'tudo' pode significar 'nada'', filosofou. Deixou escapar um suspiro. Lembrou de um poema que vira numa moldura em cima de uma escrivaninha: 'Felicidade.../ Onde se esconde? / Como se obtém? / Na realidade, / Não busque onde / E sim com quem.' ‘Engraçado, nunca fui de importar-me com poesia; porque essa lembrança? questionou’. 'E sim com quem!', repetiu para si mesmo. Tomou mais um gole da bebida. Ficou de costa para o parapeito e observou a animação dos convidados. Sentiu uma certa satisfação ao lembrar que todos estavam presentes. A falta de alguém voltou a lhe incomodar. Sentia uma espécie de alegria triste, pois, embora os amigos estivessem presentes, havia aquela falta. Um dos convidados lhe acenou. Tomou o resto da bebida, forjou um sorriso, e foi ao encontro dos amigos.

Roberto Policiano

4 de jun. de 2007

Meu maior temor

Escapa-me depressa a juventude
Resultando nuns cabelos prateados.
E não há nada, nenhuma atitude,
Que me faça escapar desse legado.

Minhas forças e prazeres já morrem.
Toda agilidade se desvanece.
Por entre os dedos as euforias escorrem
E a vibração que me resta fenece.

Minhas pernas, já trêmulas, se arrastam.
A paciência, tão tímida, perece.
Meus nervos, hoje tão débeis, se agastam.

Mas, de tudo isso, o que mais me entristece,
Sim, o que causa em mim maior temor,
É ver que perco o meu senso de humor.

Roberto Policiano