suburbano
Minha primeira poesia concreta.
barra funda dez e trinta
aguardo o trem na plataforma
quando chega levo um susto
encosta um treco e não um trem
correm todos procurando
pelo banco preferido
parte o treco trepidando
pelos trilhos barulhentos
treco
treco treco
treco treco treco
treco treco treco treco
treco treco treco treco
passa a vila na janela
na cadência desse treco
prédios carros ponte postes
pista vale passarela
treeeco treeeeeco treeeeeeecoooo
desce gente sobe gente
desce gente sobe gente
um pedinte solicita
apelando à caridade
troco passe moedinha
que não venha a fazer falta
treco
treco treco
treco treco treco
treco treco treco treco
treco treco treco treco
passa a vila na janela
na cadência desse treco
grades casas luminárias
torre muros parabólicas
treeeco; treeeeeco; treeeeeeecoooo.
sobe gente desce gente
sobe junto um moço loiro
e anda o trem de ponta a ponta
ele vende seus produtos
no compasso desse treco
beba água beba Fanta
beba Coca beba Brahma
ele guarda sua carteira
junto ao filho da galinha
todo o troco feito às pressas
bole o filho da coitada
eu queria tanto a água
mas desisto vendo a cena
treco
treco treco
treco treco treco
treco treco treco treco
treco treco treco treco
passa a vila na janela
na cadência desse treco
kombi fusca bananeira
cercas picos caixa d’água
treeeco treeeeeco treeeeeeecoooo
desce gente sobe gente
moço loiro desce junto
corre e pega um treco oposto
treco
treco treco
treco treco treco
treco treco treco treco
treco treco treco treco
passa a vila na janela
na cadência desse treco
morro brejo mata vila
pedras barro vaca trilhas
treeeco treeeeeco treeeeeeecoooo
desce todos em desespero
correm à outra plataforma
onde passa outro treco
muito tempo de espera
finaliza num suspiro
quando o treco chega perto
nem é treco e sim um caco
desce gente sobe gente
sobem juntos vendedores
corre-corre para os bancos
uma mãe carrega a filha
e ocupa o banco ao meu lado
a menina pede tudo
que se vende nesse caco
quero bala quero doce
quero suco e salgadinho
menininha quero-quero
só sossega quando ganha
tudo aquilo que deseja
parte o caco tremulante
sobre os trilhos rangedores
caco
caco caco
caco caco caco
caco caco caco caco
caco caco caco caco
vejo o bairro da janela
no balanço desse caco
pasto gado mato poço
sítios prados fazendinha
pilhas podres de dormentes
esquecidas no caminho
delatando o abandono
desse meio de transporte
treze e trinta finalmente
chego torto ao meu destino
cacooo cacooooo cacooooooo
Roberto Policiano
9 Comments:
Põ, meu, isso foi uma viagem! Pensa nesse treco, ou caco(caco é mais real) às 7:00 da manhã!
Rs
Muito Bom!!!
Oiê! Voltei. Tb gostei da viagem. Foi muito divertida.
bjs
Viagem muito longa. Fiquei cansado lá pela metade.
Que bonitinho! Só não entendi o que a galinha tem com isso.
bjs
Não é a galinha, Kika, é o filho dela. Quem é o filho da galinha?
bjs
Pai,
Muuuuito legal este poema!!! Verdadeira poesia concreta, mas, tem algo que as poesias concretas, em minha humilde opinião, dificilmente apresentam: sensibilidade. Está ótimo!!!
Beijão
hihihihi! Entendi.
bjs
Turma, desculpa pela demora da resposta. Estava enfiado nos livros por causas das provas. obrigado pelas visitas e pelo carinho. Cicy, obrigado pelo incentivo e pela generosidade do seu comentário.
Abraços
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