Roberto Policiano

27 de nov. de 2009

Registrando um momento




Márcia segue em frente apressada. João vira à direita em direção ao colégio. José caminha tranqüilo para a praça. Enéas vira à esquerda, pois pretende ir ao banco. Mariana segue chorando levada por sua tia. Josefina vem em direção oposta, driblando a multidão, a fim de entrar na estação do metrô. Pedro está atrasado, como sempre. Adalzira caminha lentamente em direção à farmácia e quase é atropelada pelo Anacleto, que caminha distraído. Maria leva a filha ao médico. Paulo segue para o dentista. Antônia tenta pegar um táxi. Maurício corre para não perder o ônibus. Letícia pára na banca para comprar um jornal. Amadeu entra na lanchonete para tomar café. Mônica desvia da Vanda para não trombar com ela. Lucinda caminha conversando ao celular com o Marcelo. Jacinto espera na faixa de pedestre. Renato procura por um endereço. Ivan encosta-se numa árvore para amarrar o cadarço do tênis. Patrícia está absorta com a música que ouve em seu MP4. Rita desce as escadas correndo. Ana entra numa livraria. Marisa deixa o restaurante conversando com o Jair. Sílvio carrega uma pasta cheia de documentos. Daniela lê as manchetes numa banca de revistas. Cleonice pára na loja de doces para comprar balas. Norberto pula uma poça d'água. Sandra anuncia as mercadorias da loja onde trabalha. Vera empurra o carrinho de bebê com a fernandinha dentro. Rui atravessa a rua correndo. Carlos sai do magazine cheio de pacotes. Leonora espera a Conceição no barzinho. Waldomiro aguarda o Evandro na porta da estação. Miguel vende canetas na esquina. Roberto Policiano passa anotando tudo.
Roberto Policiano

4 Comments:

At 5:18 PM, Anonymous Luan said...

O psicólogo nota e anota, poucos notam que ele os percebe, e mesmo quando o fazem, estão ocupados percebendo a si mesmos e a outros enquanto andam. Aliás, falando sobre filosofia: Nietzsche diria que os pensamentos "andados" tem maior valor, ele acusa escritores como Flaubert de serem niilistas por anotarem pensamentos inspirados pelo sedentarismo; já Tolstói escrevia nas praças e se dizia inspirado pelos rostos das pessoas que passavam - críticos literários diziam que Deus falava através de sua caneta, e por isso ele não precisava de inspiração. Psicólogos & Filósofos, Romancistas & Poetas, o que os separa é somente o nome que atribuímos à eles.

 
At 10:59 AM, Anonymous Roberto Policiano said...

Luan, depois do seu comentário, o que é meu texto diante dele? Você puxou da manga do colete Nietzsche, Flaubert, Tolstói, como se lidasse com algo corriqueiro! Gostei das comparações finais! Abraço e volte sempre ao espaço virtual.

 
At 8:57 AM, Anonymous Ana said...

Deambular era para Cesário Verde e o heterónimo Caeiro a melhor forma de ver
O problema desta nossa sociedade é que todos passamos a correr, sem atentar no(s) que no(s) cerca(m).
Creio que já uma vez me referi ao conto "O Homem" de Sophia de Mello Breyner como a mais bela história de cegueira colectiva que já li. Vivemos com muros(criados por nós) a separarem-nos uns aos outros e mesmo quando o muro ainda não está cimentado e nos é dada ainda a liberdade de actuar... não sabemos como agir.
Gostei muito do seu texto que, facilmente, poderia ser transformado num quadro dado o seu carácter visualista.
Um abraço.

Nota: Tenho entrado pouco nesta sua casa porque fui contemplada com a gripe e respectiva quarentena.

 
At 11:03 AM, Anonymous Roberto Policiano said...

Obrigado. Ana, pelo comentário, como sempre, substancial e rico. É sempre bom ter a tua "visita". Faz com que o blog enriqueça. Que a tua recuperação da gripe seja plena e rápida. Um grande abraço de carinho e amizade.

 

Postar um comentário

<< Home