29 de mar. de 2010
22 de mar. de 2010
Alternativas
Dirigia seu carro enquanto pensava nos últimos acontecimentos de sua vida. De repente percebeu que passou da entrada da rua por onde deveria seguir. Não se aborreceu, no entanto, pois sabia que a próxima rua também levaria ao seu destino. Surpreendeu-se assim que rodou alguns metros pela rota alternativa. Como aquela rua havia mudado! Foi só então que percebeu que fazia anos que não passava por ali. Comparou a sim mesmo com as formigas que vão e vêm sempre pela mesma trilha. Algumas casas permaneciam como antes, mas muitas delas tiveram alterações significativas. A própria rua ganhara um “ar” diferente. Havia árvores em ambos os lados que forneciam uma sombra agradável. E saber que tudo aquilo esteve ali há muito tempo! Que dizer das outras ruas? Teriam sofrido as mesmas transformações ou continuavam como antes? Só havia um jeito de descobrir: daquele dia em diante procurou fazer um caminho diferente, não só naquele trajeto, mas em todos os demais. Obteve surpresas atrás de surpresas, algumas desagradáveis, mas muitas agradáveis. Seus trajetos ganharam novas imagens, novos odores, novos sons, o que as tornaram muito mais significativas. Além de viajar por ruas diferentes, passou a cruzar com outros carros e a ver novas pessoas andando por calçadas diversas. Tornou-se, digamos assim, um turista em sua própria cidade. Além do mais, ganhou um jogo diferente. Ao sair de casa, do trabalho, da academia, do shopping, ou de qualquer outro lugar, deveria definir um trajeto diferente do anterior. Continuou morando na mesma casa, trabalhando no mesmo local e tendo o mesmo nome, mas sua vida, com este simples gesto, nunca foi a mesma. Desde então deixou de buscar apenas o caminho mais curto e mais rápido, mas também o mais bonito, mais arborizado, mais agradável.
Roberto Policiano
15 de mar. de 2010
8 de mar. de 2010
Crise existencial
Sentou-se na cadeira da copa, estendeu a mão direita e alcançou uma das bananas expostas na fruteira que se encontrava no centro da mesa. Descascou parcialmente a fruta e deu a primeira mordida. Seus dedos sustentavam a fruta seminua diante de si e seus molares amassavam a porção da fruta levada à boca. Enquanto isso deu de refletir sobre a vida. Lembrou-se da seguinte frase que lera:
- Você é o que você come.
Imediatamente parou de mastigar e seus olhos se fixaram na fruta que sua mão, agora trêmula, sustentava.
Imediatamente parou de mastigar e seus olhos se fixaram na fruta que sua mão, agora trêmula, sustentava.
- Então quer dizer que eu sou uma banana? pensou.
Imediatamente, como que solucionando um problema de vida ou morte, argumentou para si:
- Mas eu não como apenas bananas, eu como também... abacaxi! Espere, espere, eu também como goiaba. E também laranja. E mamão e...
Achou prudente escapar das espécies frutíferas e, raciocinando rápido, disse, sim, quase gritou, embora estivesse só:
Imediatamente, como que solucionando um problema de vida ou morte, argumentou para si:
- Mas eu não como apenas bananas, eu como também... abacaxi! Espere, espere, eu também como goiaba. E também laranja. E mamão e...
Achou prudente escapar das espécies frutíferas e, raciocinando rápido, disse, sim, quase gritou, embora estivesse só:
- Também como repolho!
Imediatamente acrescentou:
- Abobrinha!
Imediatamente acrescentou:
- Abobrinha!
- Batata!
- Cenoura!
- Pepino!
Percebendo que a situação ficava cada vez mais crítica, lembrou que também era carnívoro e mudou novamente de espécies comestíveis. Num ímpeto, levantou-se abruptamente da cadeira a ponto de deixar a cair banana no chão e, apontando para o centro da mesa, gritou:
- Cenoura!
- Pepino!
Percebendo que a situação ficava cada vez mais crítica, lembrou que também era carnívoro e mudou novamente de espécies comestíveis. Num ímpeto, levantou-se abruptamente da cadeira a ponto de deixar a cair banana no chão e, apontando para o centro da mesa, gritou:
- Galinha!
- Pato!
- Marreco!
- Ganso!
- Peru!
Resolveu, por razões óbvias, abandonar a família dos bípedes e, migrando em direção à família dos quadrúpedes, subiu na cadeira e berrou:
- Porco!
Suando de desespero desceu da cadeira e, ao dar um passo em direção à escada, escorregou na banana que deixara cair e só não sofreu uma terrível queda porque projetou seu corpo para frente e, estirando os braços, agarrou firmemente o corrimão. Nesta posição humilhante balbuciou para si:
- O que sou eu, afinal?
- Pato!
- Marreco!
- Ganso!
- Peru!
Resolveu, por razões óbvias, abandonar a família dos bípedes e, migrando em direção à família dos quadrúpedes, subiu na cadeira e berrou:
- Porco!
Suando de desespero desceu da cadeira e, ao dar um passo em direção à escada, escorregou na banana que deixara cair e só não sofreu uma terrível queda porque projetou seu corpo para frente e, estirando os braços, agarrou firmemente o corrimão. Nesta posição humilhante balbuciou para si:
- O que sou eu, afinal?
Roberto Policiano
1 de mar. de 2010
Flor do campo
Percebo-te ressequida e abatida
tal qual uma flor do deserto,
mas pressinto a chama da vida
aprisionada em teu interior.
Quisera eu ter acesso a ti!
Eu te apoiaria em minhas mãos;
afagaria delicadamente tua folhagem;
roçaria meus lábios suavemente
em cada uma das tuas pétalas
até umedecê-las com os meus beijos.
Eu saciaria tua sede
ao entardecer
e ao anoitecer
até que a seiva da vida
que revolve em tuas entranhas
explodisse num êxtase intermitente.
Então ressurgirias exuberante
em todo o teu esplendor,
qual linda flor do campo,
qual rainha da primavera!
que revolve em tuas entranhas
explodisse num êxtase intermitente.
Então ressurgirias exuberante
em todo o teu esplendor,
qual linda flor do campo,
qual rainha da primavera!
Roberto Policiano