Roberto Policiano

21 de out. de 2010

A faxineira



Logo pela manhã ela já pode ser vista em seu uniforme agilmente cumprindo suas obrigações. Varre o chão, tira o pó dos móveis, recolhe o lixo dos cestos, limpa o banheiro, arruma a cozinha. São tantos os seus afazeres que no decorrer do dia é vista trabalhando em vários ambientes diferentes. Vista sim, porém nunca notada, ou quase nunca, para não cometer injustiça com as raríssimas exceções de alguns que a vê como gente e não somente como “a faxineira”. Talvez ninguém nunca observou ainda qual a cor dos seus olhos e nem mesmo a de seus cabelos, sempre escondidos pelo boné que faz parte obrigatória de seu traje profissional. O mesmo pode ser dito de suas mãos encobertas por luvas sintéticas. Poucos sabem o seu nome, embora trabalhe no mesmo local, já por mais de três anos, de segunda a sexta feira, no período das sete horas às dezesseis horas e trinta minutos. Isso, porém, parece não incomodá-la. Após cumprir sua jornada diária, ela, com a sensação de dever cumprido, entra no vestiário e desaparece instantaneamente sem ninguém perceber.
Cerca de quarenta minutos depois naquele dia, Rita, uma mulher com um brilho singular nos olhos, exibindo um rosto de contornos suaves e delicados, cabelos volumosos com um caimento quase perfeito e uma expressão jovial e cativante, é notada por Amadeuzinho, o contador do escritório que, encantado com a visão, volta-se para o Nestor e pergunta:
- Quem é ela?
O outro, depois de examinar aquela que desconcentrou o profissional, respondeu:
- Não sei. Nunca a vi.
Eles não sabem, mas ela é Rita, o grande amor do Otelo que sempre a espera na saída do edifício comercial onde, depois de recepcioná-la com um sorriso apaixonado e um longo abraço, caminha de mãos dadas com ela em direção ao apartamento deles.
Para o Otelo ela é a Rita, a razão de seu existir, mas para o Amadeuzinho, o Nestor, e os demais trabalhadores e trabalhadoras do escritório ela é apenas “a faxineira”.


Roberto Policiano