Passageiros
A composição estaciona na plataforma da estação. Massa difusa de pessoas se entrecruza no movimento de entrada e saída nos vagões dos trens do metrô. O som da campainha informa a partida da máquina. E lá vai o trem deslizando sobre os trilhos rumo ao seu próximo destino, levando em suas entranhas centenas de passageiros. É assim que aquela multidão - composta de idosos, crianças, jovens, mulheres e homens - é nomeada - passageiros. Tânia, gerente de uma loja num dos shoppings da cidade; Hugo, recém formado e pequeno empreendedor que joga todas as suas fichas num novo negócio; Matheus, estudante do segundo ano do ensino básico, acompanhado de Márcia, sua mãe, funcionária administrativa de uma transportadora de médio porte; João, desempregado, a caminho de uma entrevista para possível recolocação no mercado de trabalho; Yoshiro, dono de uma tinturaria; Maria, empregada de uma padaria; Margareth, bebê de oito meses que, pela primeira vez, vai sentir a dor de separação de sua mãe, Glória, que a deixará na creche a fim de assumir seu posto como secretária de uma escola estadual. Ninguém percebe, mas os seus olhos estão mareados e o sentimento de culpa povoa seu peito por ter que transferir para outras mãos o cuidado de sua filhinha. Estes, e os demais ocupantes dos espaços disputados do trem perdem suas identidades, deixam de ser o que são para se transformarem em meros passageiros que são engolidos e despejados nas estações do metrô de uma cidade qualquer.
Roberto Policiano
2 Comments:
E é assim mesmo que (eles) nos querem: sem identidade, sem história, sem genuidade, sem marca, sem rosto.
Gostei muito desta viagem ao interior das pessoas.
Abraço amigo.
Tens razão, Ana, é assim que eles nos querem. Um grande abraço
Postar um comentário
<< Home