Roberto Policiano

27 de nov. de 2013

Passeio na praia




Manhã de um dia qualquer;

O Mar Desdobrava suas águas até a areia.

Banhistas, ainda poucos em número,

Faziam algazarras

Entre ondas espumantes.

Pescadores amadores torciam por uma boa presa.

Roupas multicoloridas de banho esvoaçavam

Em bancas improvisadas nas praias

E seduziam muitos turistas.

A forte brisa desgrenhava cabelos

E amenizava a tepidez morna do sol,

Embora o astro rei ainda não ardesse

Em sua plenitude.

Um dos visitantes vagava pela areia molhada

Enquanto as ondas, já fracas, lambiam seus pés.

Caminhando contra o vento

Que acariciava o seu rosto.

Seguindo em passos lentos

Observava atentamente

A interação entre os humanos e a natureza.

Sorria e usufruía com gozo,

Cada prazer daqueles momentos.
 
 
Roberto Policiano


20 de nov. de 2013

O craque



Nove horas da manhã. Ele chegou ao campinho, que nada mais era do que um terreno baldio, com a bola embaixo do braço, se bem que, tecnicamente falando, não se podia chamá-la assim. O que sobrara de uma pelota de couro fora apenas a parte de fora. A câmara, responsável para mantê-la cheia de ar, há muito não existia, tendo sido substituída por trapos que foram introduzidos a fim de mantê-la arredondada. Em resultado da “manutenção” improvisada, mais conhecida no Brasil como gambiarra, ele possuía algo com que jogar futebol. O lugar estava vazio. Não havia nenhum companheiro para brincar com ele. Nada disso o incomodou, pois, de fato, ela já sabia que seria assim. Vestido com apenas um calção e com os pés descalços, chegou ao centro do terreno, onde depositou a redonda na marca que indicava o centro - feita na hora ao girar o calcanhar contra o solo. Deu uma volta sem pressa por toda a extensão do campinho a fim de livrá-lo de qualquer pedra ou madeira que pudesse atrapalhar a partida. Quis achar quatro objetos idênticos para montar as “traves”, mas, como era comum, não os encontrou, de modo que se contentando com o que estava à disposição. Preparou o cenário para o espetáculo e foi para o círculo central da arena. Esperou o trilhar imaginário do apito do juiz e, dando um passe para si mesmo, deu início a partida que definiria o campeão do torneio. Assim que recebeu a gorduchinha avançou alguns metros e driblou um jogador do time adversário. A torcida em sua mente, que agora superlotava as arquibancadas do estádio, gritou o seu nome ao mesmo tempo em que aplaudia e fazia as bandeiras de seu time tremular, colorindo o lugar. Aquela foi a primeira vítima de suas jogadas, pois, empolgado com o agito de todos, ziguezagueou pelo território inimigo, passando por todos os adversários e, matando a bola do peito, deu uma guinada, deixou o goleiro estatelado no chão e estufou a rede com o poder do seu chute. 1 X 0! Rojões riscaram o céu com fogo, seguido de um barulho ensurdecedor que durou vários minutos, resultando, ainda, numa nuvem de fumaça que invadiu o espaço imaginário do maior craque de futebol de todos os tempos do seu bairro.

A bola foi recolocada no centro do campo novamente, e agora, o mesmo jogador, então no lado oposto e com outro nome, esperava atentamente o reinício da partida para descontar o tento que levara. Assim que o apito foi ouvido o craque, procurando superar o adversário, saiu em disparada e, em menos de um minuto empatou o jogo, o que resultou na mudança instantaneamente da cor do estádio com as bandeiras do outro time praticamente cobrir o local da disputa. Nova queima de fogos, barulhos e fumaças, agora da torcida rival, animava os espectadores. 1 X 1 - estava empatada a partida! A emoção aflorava, pois ali estavam os melhores times decidindo o título daquele torneio.

A festa ainda acontecia quando o placar - com jogadas tão espetaculares quando as primeiras - foi mudado para 2 X 1.

Depois de muitos dribles, gingadas, bicicletas, lençóis, cabeçadas, pedaladas, peixinhos, pontes, e muitas correrias e comemorações, o jogador estava com o corpo molhado de suor e respirava com dificuldades por causa do cansaço e pelo esforço empreendido a fim de garantir a vitória do jogo que, naquele momento, estava em 200 X 199, faltando apenas um minuto para ser encerrado. O centroavante foi empurrado na área e o juiz sinalizou penalidade máxima. Era a chance - a única - de empatar a partida. O craque, embora exausto, colocou a bola na marca do pênalti, apoio as mãos na cintura e encarou o goleiro, que abriu bem os braços a fim de diminuir o espaço entre ele e os travessões, dificultando assim seu adversário. Ao ouvir o apito soar o atacante deu três passos para trás, correu, e, girando o corpo para confundir o goleiro, chutou a redonda do canto esquerdo, que passou raspando na trave. Estava empatada a partida!  Não se contendo em si de tão contente o campeão, ovacionado pela torcida, foi até o fundo da rede, pegou a bola, sustentou-a com as duas mãos acima da cabeça, e correu por várias vezes a extensão do campo comemorando com a torcida enlouquecida, que não parava de tremular as bandeiras e gritar pelo nome do herói. E a partida do século terminou empatada em duzentos a duzentos. Num jogo daquele não havia vencedor nem derrotado. Debaixo dos mais efusivos aplausos o menino, exaurido com tanto esforço, saiu correndo com a gorduchinha debaixo do braço, atravessou a rua, jogou a pelota perto do tanque de roupas, , e entrou no banheiro a fim de tomar banho para ir à escola.
 
Roberto Policiano
 

13 de nov. de 2013

Teimosia



Linda mulher

De olhar lânguido;

Pedi-te um beijo,

Deste-me um abraço;

Dei-te um cravo

E uma rosa

Fizeste-me de escravo

Sem muita prosa;

Cantei-te um samba,

Danças-te valsa;

Quero-te perto,

Manténs-me longe;

Eu sou aberto,

Mas tu te escondes;

Grito teu nome,

Tu não respondes.

E, em minha teimosia,

Fiz-te esta poesia!


Roberto Policiano

6 de nov. de 2013

Comunicações



Entrou no vagão do trem do metrô correndo, e, por muito pouco, não perde a condução. Escolheu um lugar onde haveria poucos movimentos dos passageiros entrando ou saindo do veículo. Depois de se acomodar olhou no entorno. Tudo igual, como sempre. Passageiros sentados, outros em pé; monitores mostrando imagens e legendas de notícias, propagandas e informações; muitos conversando entre si; outros usando os telefones celulares para conversar, enviar ou receber mensagens de textos; pessoas lendo; outras cochilando; várias ouvindo músicas através de fones de ouvido. De repente sua atenção foi desviada para duas colegas que estavam sentadas num dos assentos. Ambas estavam usando fones de ouvido. Uma delas conversa com a outra que tinha em suas mãos um telefone celular e estava enviando uma mensagem de texto. Enquanto a última ouvia música e a amiga ao lado ao mesmo tempo, escrevia o texto que pretendia enviar. Como será que ela consegue fazer as três coisas ao mesmo tempo? perguntou para si. Num exercício de imaginação infiltrou-se no cérebro da moça e imaginou as três mensagens chegando mais ou menos assim:

“Amiga, nem Bia, naum te vai Vem na conto dá preu t  o rolo crista desta onda que aconteceu encontra, comigo blz? ontem / não faça feio, na To ensn a ãc>olopa. ressaum, Eu me responda. estava meu, tranquila ce com Fica comigo a Paty e naum a Malu que tá legal / tomando um sabe refri sua na presença lanchonete kconteceu.  é genial. quan Aquele do o Du O sol du chegou barato até a do krinha?  gente ardendo e pe no céu azul/ diu pra tro Morreu. car nós umas L numa ideias to comigo. moto Antes ruma mt ndo que eu res maus. pondes ao Sul. se Kra,  alguma Fiquei coisa Subindo as naum duas e deram uma sabia desculpa descendo qualquer q e me deixaram doía na maior montes/  fria tnt. com o cara. Foi cum quando ele nosso destino me convidou é o horizonte. raiva a ficar * ~~~*.  com ele, principalmente Tua presença me alucina / na Mas eu festa da naum Gabi, O teu sorriso  vo no clube Espla perder me faz feliz / nada, tá a chance Meu bem ligada? Eu de da o troco. falei para você ele que To bolando uns precisava lances com pensar nem imagina/ no umas amigas.  assunto. Ele como Mas tem uma que me pra tê-la intimou, coisa legalTb entendendo. Aí J. eu fiquei tipo comigo o que assim, Ta ligada no meio krinha indecisa, eu fiz. Sabia? daquele Eu queria Vamos no dar a dia no shopping? resposta depois, mas rabo ele insistia Aconteceu 1 em querer deste que eu respondesse coisa ali, na foguete/  hora. Meu, que me nunca surfar na fiquei numa deixou situação crista de parecida de :0.  com essa, uma brisa / sabia? Eu ainda O babado tentei enrolar, mudar se você quer de assunto, desconversar, foi assim... mas ele não caiu na que eu te minha. Aí eu promete / fui obrigada a dizer que tal não e dar amor o maior fora não se nele, que não gostou nada, reprisa. nada.

Você entendeu?
 
 
Roberto Policiano