Roberto Policiano

22 de jan. de 2014

Equívoco




Naquele dia dera sorte, pois conseguiu sentar para a viagem matinal até o seu local de emprego. Mal comemorava seu achado, no entanto, chegou uma mulher que aparentava uma gravidez já no terceiro mês. Assim que a avistou levantou-se imediatamente e ofereceu-lhe o lugar, mas a oferta foi polidamente rejeitado. No entanto ele insistiu que ela sentasse e, mais uma vez, ela declinou do convite. Cumprindo seu papel de cavalheiro ele não aceitou um não como resposta e insistiu até que, por fim, ela aceitou o lugar com um sorriso forçado de agradecimento. Para deixá-la à vontade ele, depois de disfarçar por alguns segundos, se retirou do lugar, ocupando um espaço no corredor cerca de quatro metros longe da senhora. Sentiu-se bem consigo mesmo por ter notado o estado da passageira, embora o ventre dela estivesse apenas sutilmente aumentado. Aquela sensação de dever cumprido o acompanhou até a estação onde desembarcara. Caminhava feliz da vida. “Como uma boa ação tem um efeito agradável!”, pensou. Pouco depois percebeu que a senhora também descera naquela estação. Como estava com mais pressa do que ele, a distância entre os dois aumentou gradativamente até ela desaparecer de sua vista no meio da multidão que seguia apressada para seu destino.
              Desde então a tem visto na condução com certa regularidade. Percebe que ela fica sem graça quando o vê, portanto, procura ser o mais discreto possível.
              Tudo aconteceu dentro da normalidade, com exceção de um pequeno e sutil detalhe – quatro semestres depois ela ainda continuava aparentando uma gravidez de três meses!
 

Roberto Policiano