Equívoco
Naquele dia dera sorte, pois conseguiu sentar para a viagem matinal até
o seu local de emprego. Mal comemorava seu achado, no entanto, chegou uma
mulher que aparentava uma gravidez já no terceiro mês. Assim que a avistou
levantou-se imediatamente e ofereceu-lhe o lugar, mas a oferta foi polidamente
rejeitado. No entanto ele insistiu que ela sentasse e, mais uma vez, ela
declinou do convite. Cumprindo seu papel de cavalheiro ele não aceitou um não
como resposta e insistiu até que, por fim, ela aceitou o lugar com um sorriso
forçado de agradecimento. Para deixá-la à vontade ele, depois de disfarçar por
alguns segundos, se retirou do lugar, ocupando um espaço no corredor cerca de
quatro metros longe da senhora. Sentiu-se bem consigo mesmo por ter notado o estado da passageira, embora o ventre dela estivesse apenas sutilmente
aumentado. Aquela sensação de dever cumprido o acompanhou até a estação onde
desembarcara. Caminhava feliz da vida. “Como uma boa ação tem um efeito
agradável!”, pensou. Pouco depois percebeu que a senhora também descera naquela
estação. Como estava com mais pressa do que ele, a distância entre os dois
aumentou gradativamente até ela desaparecer de sua vista no meio da multidão que seguia
apressada para seu destino.
Desde então a tem visto na condução com certa regularidade. Percebe que
ela fica sem graça quando o vê, portanto, procura ser o mais discreto possível.Tudo aconteceu dentro da normalidade, com exceção de um pequeno e sutil detalhe – quatro semestres depois ela ainda continuava aparentando uma gravidez de três meses!
Roberto Policiano
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