Balão Murcho
Foi numa tarde de sábado. O sol estava abrasador, mas uma brisa agradável
temperava o ar. Caminhava ao lado de uma avenida movimentada. Sua atenção foi
voltada para uma bexiga de borracha colorida que rodopiava na calçada, mas não
levantava voo. Diminuiu o passo e parou a fim de examinar melhor o caso.
Percebeu que o balão de ar não estava sozinho, mas preso por um barbante a outro
que murchara. Este último impedia que o primeiro ganhasse altura embora se
sacudisse para lá e para cá em rodopio, numa tentativa de escapar daquele que o
mantinha preso ao chão. No entanto, rejeitando aquela posição de estagnação,
continuou a tentar a alcançar a liberdade até que estourou quando sua pele frágil
foi arranhada por uma pequenina pedra. E o outro, murcho, sem se dar conta de
ter se tornado um empecilho para seu companheiro alçar a liberdade, continuou
inerte e sustentando em si os farrapos do que sobrara do outro! O transeunte
ficou em pé por alguns minutos observando o barbante que prendia as duas
bexigas. De um lado, fiapos daquele que pretendia alcançar os céus, do outro
uma borracha murcha que não tinha pretensão de sair do chão e cujo peso
impediu seu companheiro de viajar nas asas da brisa.
Roberto Policiano
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