Roberto Policiano

2 de abr. de 2014

Promoção imperdível




Quinta-feira, seis horas da manhã. A escuridão da noite ainda não se dissipara completamente. Estava um frio intenso. Os passageiros do ônibus que estavam sentados encolhiam contra os bancos numa tentativa inútil de se aquecer. Os que viajavam em pé usufruíam o calor do ambiente repleto de pessoas. Não se ouvia vozes, mas um silêncio gélido dominava o interior da condução. De repente, como que para quebrar aquela languidez, um telefone celular começou a tocar estridentemente. Um rapaz, que parecia que levava toda a roupa do armário em si, passou a bater as mãos nos bolsos laterais do blazer; no peito em direção ao bolso da camisa de flanela; nos bolsos da frente e de trás das calças; mas não achou o aparelho. A seguir ele retirou o agasalho e olhou nos seus bolsos internos, porém não obteve sucesso. Revirou o suéter e não encontrou nada. Abriu o zíper central da bolsa que levava consigo; depois o compartimento esquerdo, a seguir o direito, a parte da frente, do lado esquerdo, depois do direito até que, finalmente, encontrou o que tanto procurava, justamente quando a ligação caía. Colocou todas as roupas novamente e deixou o telefone na parte de dentro da jaqueta. Três minutos depois o mesmo sinal sonoro se fez ouvir. O som irritante fez com que todos se virassem automaticamente para o jovem, como que exigindo uma ação imediata. Como era sabido o paradeiro do aparelho não houve apalpadelas, porém, ao descer o fecho do blazer, o mesmo entalou no meio e, por mais que o moço tentasse, não conseguiu deslizá-lo. Uma senhora, embora irritada com o som estridente, resolveu ajudá-lo e pediu para tentar abri-lo. Quando estava empenhada nisso o ônibus deu uma freada brusca que a jogou para cima do dono do incômodo instrumento de comunicação, desequilibrando-o a ponto de fazê-lo tombar em direção a outro ocupante do veículo. O rapaz e a bondosa senhora foram salvos do tombo, não sem resmungos daquele que os escorara, e pelo seu semblante, pareceu não aceitar os pedidos de desculpas dos dois. Com o ocorrido a boa samaritana desistiu de auxiliar o pobre homem. Felizmente para ele - e para os demais passageiros - o miserável instrumento cessou de gritar. Mesmo assim o seu dono, agora sem a pressão da situação, continuou em sua tentativa até conseguir destravar o zíper e retirar o aparelhinho infernal do local onde se encontrava e colocá-lo em lugar mais acessível. Não demorou muitos minutos e novamente o som insuportável tomou conta do veículo. Desta vez o moço foi rápido e conseguiu interromper aquele som insuportável.

- Alô!

Depois de ouvir por alguns segundos, fechou a cara e desligou o telefone. Era só um comercial de um novo produto de telefonia que fora lançado no mercado e que era - tentavam convencê-lo - uma promoção imperdível!


Roberto Policiano