Promoção imperdível
Quinta-feira, seis horas da
manhã. A escuridão da noite ainda não se dissipara completamente. Estava um frio
intenso. Os passageiros do ônibus que estavam sentados encolhiam contra os
bancos numa tentativa inútil de se aquecer. Os que viajavam em pé usufruíam o
calor do ambiente repleto de pessoas. Não se ouvia vozes, mas um silêncio
gélido dominava o interior da condução. De repente, como que para quebrar
aquela languidez, um telefone celular começou a tocar estridentemente. Um rapaz,
que parecia que levava toda a roupa do armário em si, passou a bater as mãos
nos bolsos laterais do blazer; no peito em direção ao bolso da camisa de
flanela; nos bolsos da frente e de trás das calças; mas não achou o aparelho. A
seguir ele retirou o agasalho e olhou nos seus bolsos internos, porém não
obteve sucesso. Revirou o suéter e não encontrou nada. Abriu o zíper central da
bolsa que levava consigo; depois o compartimento esquerdo, a seguir o direito,
a parte da frente, do lado esquerdo, depois do direito até que, finalmente,
encontrou o que tanto procurava, justamente quando a ligação caía. Colocou
todas as roupas novamente e deixou o telefone na parte de dentro da jaqueta.
Três minutos depois o mesmo sinal sonoro se fez ouvir. O som irritante fez com
que todos se virassem automaticamente para o jovem, como que exigindo uma ação
imediata. Como era sabido o paradeiro do aparelho não houve apalpadelas, porém,
ao descer o fecho do blazer, o mesmo entalou no meio e, por mais que o moço
tentasse, não conseguiu deslizá-lo. Uma senhora, embora irritada com o som
estridente, resolveu ajudá-lo e pediu para tentar abri-lo. Quando estava
empenhada nisso o ônibus deu uma freada brusca que a jogou para cima do dono do
incômodo instrumento de comunicação, desequilibrando-o a ponto de fazê-lo
tombar em direção a outro ocupante do veículo. O rapaz e a bondosa senhora
foram salvos do tombo, não sem resmungos daquele que os escorara, e pelo seu
semblante, pareceu não aceitar os pedidos de desculpas dos dois. Com o ocorrido
a boa samaritana desistiu de auxiliar o pobre homem. Felizmente para ele - e
para os demais passageiros - o miserável instrumento cessou de gritar. Mesmo
assim o seu dono, agora sem a pressão da situação, continuou em sua tentativa
até conseguir destravar o zíper e retirar o aparelhinho infernal do local onde
se encontrava e colocá-lo em lugar mais acessível. Não demorou muitos minutos e
novamente o som insuportável tomou conta do veículo. Desta vez o moço foi
rápido e conseguiu interromper aquele som insuportável.
- Alô!
Depois de ouvir por alguns
segundos, fechou a cara e desligou o telefone. Era só um comercial de um novo produto
de telefonia que fora lançado no mercado e que era - tentavam convencê-lo - uma
promoção imperdível!
Roberto Policiano
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