Aparição
O primeiro a vê-lo foi o seu Nenê, marido da dona Antônia. Deixou o regador que o mantinha ocupado naquele momento, entrou e casa, e saiu de mãos dadas com a mulher até a rua para visualizarem melhor. Logo um sorveteiro, que por acaso passava por ali, se juntou a eles. A seguir dona Matilde, que fora colocar o lixo na lixeira, ao perceber o que acontecia, aumentou o pequeno grupo de observadores. O grupo cresceu com a chegada de um grupo barulhento de alunos que voltava da escola. Dona Rosa, diferente destes primeiros, olhava de sua própria janela. Assim faziam também o seu Laércio, dona Gertrudes e o velho Antunes. O Dr. Lucas descobriu-o de sua própria escrivaninha e, deixando de lado o serviço por um tempo, contemplou-o com o rosto iluminado por um sorriso. Dona Ema deixou a granja com o intuito de dar uma olhadinha e por lá ficou. Seu Manoel, que dificilmente desencosta o umbigo do balcão de sua adega, também foi atraído pela novidade, e, para o espanto daqueles que o conheciam, apareceu na rua para testemunhar o fato. De repente chegaram pessoas de vários lugares diferentes para, junto com os outros, presenciar o espetáculo - A babá que passeava com o bebê; o idoso que, cumprindo meio à contra-gosto a recomendação médica, fazia sua caminhada diária; o gerente do banco; o dono da padaria; a florista; o engraxate; o menino que passeava com o cachorro. Em pouco tempo a praça estava coalhada de pessoas. Outras observavam de terraços, muros, portões, janelas, portas, carros, etc. O jovem Otelo, ao ver o que estava acontecendo quando foi levar a toalha para ser pendurada no varal, voltou para o quarto correndo e, pegando sua avó pelo braço, levou-a com cuidado até o elevador e, descendo os quinze andares que mantinham a velhinha afastada da rua já por mais de cinco anos, fez questão de desconsiderar as ordens estritas de sua mãe para compartilhar com a nona aquela raridade. Todos, como que hipnotizados, deixaram suas obrigações, suas dores, seus medos, seus aborrecimentos, seus serviços e suas pressas. O Bebê que estava no colo da babá, quando finalmente deu-se conta do que chamava a atenção de todos, sorriu um sorriso gostoso que terminou com um sonoro eeeeaaarriiiii e, meio desajeitado com os seus onze meses, tentou bater palminhas. O Rodrigo, menino de cinco anos que estava ao seu lado, ajudou-o por juntar suas batidas de palmas às do bebê. A nona do Otelo, que estava junto das crianças, como que voltando à infância, aplaudiu junto com elas. Outros que estavam por perto, reconhecendo que os aplausos eram merecidos, juntaram-se a eles. De repente todos, extasiados, aplaudiam aquela exuberante aparição do Arco-íris!
Roberto Policiano
2 Comments:
Não havia entrado no blog ainda, mas tinha certeza que seria surpreendente! A qualidade de seus textos aumenta a cada dia. No caso deste, gera expectativa, aguça a curiosidade e o final não desaponta. Mesmo de forma simples, não deixa de comentar os tipos humanos, o que particularmente me delicia. Sem nenhuma dúvida é um texto poético.
Cicy, obrigado por sua aparição no blog. Volte sempre. Um grande e apertado abraço.
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