Roberto Policiano

30 de ago. de 2009

Pomar



Caminhava tranquilamente por entre os arvoredos quando, de repente, teve sua atenção atraída por um aroma doce. Aflou a narina, aspirou fundo, e deixou-se conduzir pela percepção. Logo à frente, ao lado de uma árvore robusta, encontrou um caminho que levaria à fonte do cheiro agradável. Depois de contornar um pequeno barranco num caminho íngreme tomado por raízes expostas das árvores, chegou a um bosque amplo. Porém, ao reparar melhor no lugar, percebeu que se travava de um imenso pomar. Uma parreira sustentando cachos de uvas rosadas apareceu à sua direita, dando-lhe a dica de onde se encontrava. Escolheu um cacho e, encanto saboreava a fruta, andou à toa pelo lugar. Várias árvores frutíferas expunham sua produção, como que num festival agrícola. Era difícil dizer qual delas era a mais bonita e a mais convidativa. Provou várias delas, saboreando vagarosamente cada bocado, a fim de tentar julgar qual seria a mais saborosa. Difícil decidir. Resolveu terminar a degustação com uma maravilhosa pêra tentadoramente exibida em um galho de uma das pereiras do lugar. Foi até lá. O galho era alto, mas não tanto. Se ficasse nas pontas dos pés talvez pudesse alcançá-la. Faltaram alguns centímetros para alcançar a fruta. Não se deixou abater. Procurou uma pedra relativamente grande para fazê-la de degrau. Achou-a perto de caquizeiro. Carregou-a até a pereira e tentou novamente. Quanto segurou a pêra firmemente a fim de colhê-la, acordou. Foi um daqueles sonhos que dão água na boca. Teve vontade de comer uma fruta. Mas a geladeira estava tão distante e, além do mais, fruta gelada àquela hora da madrugada, no friozinho que estava fazendo, não cairia bem. Desistiu, depois de um suspiro profundo e, virando de lado, tentou dormir e voltar ao pomar.


Roberto Policiano

21 de ago. de 2009

Canção de amor



Eu queria poder te compor
Uma linda canção de amor.
Narrar tudo que em mim despertas,
Porém não acho as palavras certas.


Se te ofertar o mundo inteiro
Isso não soaria verdadeiro.
Prometer dar-te o universo
Seria só a criação de um verso.


Portanto, vou ser bem sincero
Para poder te transmitir
Somente o que deve ser dito.


Usando um só verso singelo,
Garanto-te: depois de ti
Meu mundo ficou mais bonito.


Roberto Policiano

9 de ago. de 2009

Rotina



Levantou e caminhou com passos lentos até o chuveiro. Com os olhos ainda embaçados pelo sono da noite, tateou até achar o registro da água. Os primeiros jatos de água fizeram com que sua pele arrepiasse quase que imediatamente. Um calafrio percorreu todo o seu corpo.
Colocou sua melhor roupa. Depois de tomar o desjejum, revestiu-se de um humor agradável e, após dar uma averiguada no visual, saiu para o trabalho.
O transito estava carregado naquela manhã chuvosa. Lentidão, buzinas tocando, caras amarradas, motociclistas costurando entre os carros, caminhão carregado se arrastando na pista, tudo isso fez com que se atrasasse alguns minutos. Por sorte as principais ‘peças’ também ficaram enroscadas no trânsito, de modo que não houve prejuízo com o atraso.
A reunião foi um sucesso. Bons negócios foram fechados e, como recompensa, a equipe foi contemplada com um almoço especial.
A tarde correu tranquilamente. Resolveu algumas coisas pendentes e realizou alguns serviços de rotinas apenas.
A volta para casa foi sem incidente. A manhã chuvosa e fria cedera lugar a uma tarde agradável. O trânsito fluiu normalmente e, à hora costumeira, chegou a casa.
Foi até o quarto, colocou uma roupa agradável, um chinelo macio, e, deixando o seu humor agradável na gaveta do armário, revestiu-se de seu costumeiro mau humor. Foi até a copa, serviu-se de uma dose de bebida e, acomodando-se em sua poltrona, assistiu, sem interesse, até altas horas da noite, a tudo o que a Televisão vomitou.


Roberto Policiano

2 de ago. de 2009

Aridez





Tal qual um arbusto da Caatinga
Castigado pelo vento cálido
E pelo sol causticante,
Assim me sinto,
Prisioneiro duma terra árida,
Onde quase não há orvalho.
Meus ramos ressequidos
Ameaçam se romper num estalido
E ser arrastado pelo vento,
Juntando-se ao pó e às carcaças
Desta Caatinga inóspita.
Porém, a paciente resistência
Do Mandacaru faz parte do cerne
Que teimosamente me mantém em pé.
O fio da seiva que ainda me resta
grita desesperado:
Ainda há vida!
Há vida ainda!
Anseio de ti o orvalho que me refrigerará.
Necessito da tua umidade.
Careço do teu frescor.
Preciso da tua seiva.
Quem me dera acordar cada manhã
Regado com o teu orvalho!
Meu lenho se umedeceria
E eu reviveria, meu amor.
Meu amor, eu reviveria!
Mais do que isso, meu amor,
Eu rejuvenesceria!

Roberto Policiano