De ponta cabeça
É madrugada. Precisamente três horas da manhã. Ainda não conseguira
dormir. O calor incomodava. Rolava na cama. Já havia levantado umas cinco
vezes. Resolveu sair até a sacada do apartamento a fim tentar se refrescar com
alguma brisa. Lá fora o ar estava estagnado e morno. Olhou em direção ao céu na
intenção de perscrutar o infinito. Não entendia muito de estrelas, mas resolveu
admirá-las. Espantou-se com as poucas que encontrara. Para onde foram? Olhou
para baixo e não pode deixar de perceber o contraste. Milhares de luzes
enfeitavam a escuridão da noite. De várias cores e intensidades, ofertavam
brilhos à abóboda celeste. “Estranho”, pensou, “é como se a Cidade
estivesse de cabeça para baixo”. “Sim”, continuou, “parece que as estrelas
foram parar no chão”. Lembrou-se então das várias fotos noturnas de lugares de
várias partes do planeta que vira. Em todas elas aparecia o mesmo fenômeno.
“Pelo jeito”, concluiu, “ O mundo inteiro ficou de ponta cabeça”. Percebendo
que ali estava mais agradável de estar, entrou em casa e, depois de tomar um
copo de água gelada, voltou à sacada carregando uma cadeira de praia. Resolvera
passar o resto da noite admirando as raras estrelas que estavam visíveis.
Ajeitou-se confortavelmente, encostou a cabeça sobre uma almofada que trouxera
junto e passou a observar o céu. Dentro de cinco minutos estava em poder de um
sono profundo. Imagino que tivera os sonhos mais iluminados de toda sua vida.
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