Estação Pinheiros
O trem encosta na plataforma
e assim que suas portas são abertas multidões de pessoas saem das trinta e duas
aberturas da composição e se misturam, tecendo uma trança viva. Para um
observador de cima é uma visão interessante; para os passageiros uma corrida
contra o tempo, pois tem que percorrer um espaço significativo, subindo e
descendo escadas rolantes ou fixas, driblando aqueles com menos pressa ou com
dificuldade de locomoção, a fim de alcançar a próxima etapa da viagem, na linha
amarela do metrô; é, também, para aqueles que pela primeira vez depara com este
frenesi, um momento de desespero, pois não tem a mínima ideia do trajeto a
seguir e todos em sua volta estão apressados demais para parar e orientar, sem
contar o fato do perigo de ser atropelado pela multidão apressada.
Entre os milhares de
passageiros – milhares não é uma expressão vazia, mas a contagem real das
pessoas – um deles chamou minha atenção. O rapaz, embora carregasse uma mochila
nas costas, uma pasta na mão direita e um canudo de mais ou menos um metro de
comprimento - daqueles que carregam desenhos cuidadosamente enrolados e
protegidos - andava como a mesma pressa, ou pelo menos tentava andar, do que
aqueles que não carregavam nada nas mãos. Apesar das bagagens que levava
ziquezagueava entre as pessoas, indicando que seu horário estava no limite. Em
seu caminho encontrou com uma senhora, tão carregada quando ele, mas com um
diferencial – não tinha absolutamente nenhuma intenção de correr, pois, pelo
seu caminhar, tinha todo o tempo do mundo para chegar ao seu destino. Como os dois se encontraram num bloco
compacto de pessoas, não foi possível qualquer manobra de ultrapassagem de modo
que ele seguiu no passo dela. Em determinado momento o jovem, adiantando o
passo um milionésimo de segundo mais rápido do que a passageira à sua frente,
esbarrou seu pé do calcanhar dela, que olhou para trás com uma expressão
fulminante para o moço, que se desculpou pelo ocorrido. Procurando sair dali a
fim de não repetir o incidente, ele deu uma guinada à esquerda, num ângulo de
cento e trinta e sete graus, à moda de caranguejo, andando meio de lado, e
tentou contornar a multidão. Esbarrões, cutucões, pisadelas, pedidos de
desculpas, impropérios, foram alguns dos resultados conseguidos por ele, menos
o avanço do espaço, pois todos se afunilavam para a escada rolante que dava
acesso para os pisos inferiores da estação do metrô. Como não havia alternativa
andou pacientemente a passo de pinguim – apelido dado pelos próprios usuários
do sistema, pois as pessoas andam arrastando os pés centímetros a centímetros
enquanto o corpo balança como um pêndulo, lembrando tais pássaros. Para um
observador que avistasse a cena de cima a multidão lembraria ainda a areia de
uma ampulheta acumulada no gargalo enquanto flui lentamente para a base de
baixo.
Alguns minutos depois,
quando nosso passageiro já chegava perto
da escada rolante, deparou-se com uma senhora carregada de bagagens que lhe
cortou a frente. Ele não podia acreditar, pois lhe pareceu ser a mesma mulher
que o fez contornar aquelas pessoas a fim de ganhar alguns segundos. Sua
suspeita foi confirmada quando ela, depois de ganhar a posição naquela corrida
matinal olhou para ele e, depois de medi-lo de alto a baixo, alertou-o num tom
rouco:
- Você de novo? Vê se não
encosta!
Roberto Policiano
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