Descoberta arqueológica
Um garoto fazia
um passeio exótico no ano 4352 EC quando acidentalmente caiu dentro de uma caverna
ao apoiar o corpo no que achava ser uma encosta a fim de recuperar o fôlego após
encarar uma subida longa. Como estava de posse de seu capacete equipado com
luzes para perscrutar lugares escuros, resolveu explorar o ambiente. Antes,
porém, acionou seu localizador de pulso com uma versão atualizada em vinte
gerações do que conhecemos hoje como GPS, que não só indicava onde se
encontrava, mas avisava o monitor do grupo da excursão por onde ele se enfiara - neste caso literalmente. Além de indicar posições e em que direção dos pontos
cardeais ele se dirigia, mostrava possíveis saídas de ambientes fechados, se as
mesmas estavam bloqueadas ou não, e opções de rotas de fuga. O Sistema apontava
também a localização de objetos inusitados que poderiam interessar caçadores de
novidades. Tendo sua integridade protegida por tal parafernália tecnológica,
nosso jovem curioso saiu em busca de novidades e, como o sinal de seu aparelho
foi captado pelo chefe do grupo, levou com ele o responsável e a garotada
acompanhante a fim de resgatar, ou melhor, juntar-se ao escrutinador de lugares
subterrâneos. Aquele que descobriu o ambiente continuou em sua busca sempre de
olho nas indicações do tataraneto do GPS. Não demorou muito e ele recebeu
informação do aparelho que algo que pudesse ser de interesse se encontrava a
noroeste. Seguindo a seta mostrada no visor nosso herói descobriu em pouco
tempo que não estava em uma caverna, como pensara no início, mas em um
edifício antigo soterrado pelo tempo, descaso, inutilidade... Deparou-se com
uma porta de vidro, empurrou-a, entrou, e, em pouco tempo, encontrou uma
estante repleto de objetos retangulares, de várias cores e espessuras. Curioso,
retirou um deles, colocou sobre uma mesa que havia no ambiente e direcionou seu
aparelho de pulso sobre o que achara. Este, depois de direcionar um feixe de
luz de neon sobre o mesmo, percorreu-o por toda a sua extensão, além de nos
quatro lados de sua lombada. Poucos segundos depois uma mensagem foi projetada:
"Não há registro". O menino resolveu acessar o seu achado e, usando o
dedo indicador de sua mão direita, passou-o sobre a superfície do mesmo. Não
aconteceu nada! Repetiu o gesto algumas vezes, ora no sentido vertical, outras
vezes na horizontal e também na diagonal, mas não conseguiu nenhum resultado.
Pegou a sua descoberta e girou-a a fim de examiná-las por todos os lados, pois
se lembrara de algumas das aulas sobre antiguidades que no passado alguns
aparelhos funcionavam quando pressionados numa de suas partes salientes
conhecidas então como teclas. Seu exame minucioso não encontrou nenhuma delas.
Foi neste ponto que os demais membros da atividade escolar daquele dia chegaram. Aproveitando a presença do mestre, estendeu sua descoberta à ele e
perguntou:
- O que é isto?
O Educador,
depois de examinar cuidadosamente o que recebera do aluno, demonstrou, através
de suas expressões faciais, que não fazia a melhor ideia do que tinha em suas
mãos, mas, aproveitando o achado, resolveu levá-lo a fim de fazer uma pesquisa
no laboratório da academia.
Várias
autoridades acadêmicas foram abordadas para dar seu parecer sobre a antiguidade
encontrada, mas passou-se um mês e ninguém fora capaz de identificar o objeto
encontrado naquela excursão. Como haveria uma visitação pública naquele
estabelecimento de ensino num evento que ocorreria em duas semanas,
determinou-se que aquela curiosidade fosse colocada numa vitrine e exposta com outros objetos interessantes.
No dia do evento
o mestre, querendo saber mais sobre o que fora achado, ficou de plantão num
local de onde poderia observar se alguns dos visitantes se interessaria por
ele. Sua espera foi recompensada duas horas depois, quando uma senhora,
acompanhada de sua neta, parou diante da vitrina e indicando o objeto para a
criança, teceu alguns comentários. imediatamente o professor se aproximou e
iniciou uma conversa.
- Bom dia
senhora! Percebo que se interessou por este objeto. Já teve a oportunidade de
ver algo parecido antes?
- Bom dia
professor! Sim, pois eu tenho alguns deles em casa, herança de família que foi
passada de geração em geração e agora eu tenho o privilégio de ser a guardiã
deles.
- E a senhora
sabe como acessar suas informações?
- Certamente que
sim!
- Poderia
demonstrar isso, por favor?
- Com todo o
prazer. Posso pegá-lo?
- Se não for
muito incômodo gostaria que a senhora demonstrasse isso na sala de reuniões
para nossa equipe acadêmica. É possível nos fazer este grande favor?
- Estou à
disposição da academia.
Imediatamente a
relíquia foi retirada cuidadosamente do lugar onde se encontrava. O acadêmico
pegou gentilmente no braço da senhora que, acompanhada da neta, fora conduzida
para uma ampla sala. Trinta minutos depois um grupo considerável de
intelectuais estavam reunidos e sentados ao redor de uma mesa a fim de aprender
como se acessava as informações daquele objeto, que - com uma cerimônia solene -
foi entregue à senhora pelo reitor da academia. Antes da anciã efetuar o ato
nobre, no entanto, sua neta perguntou:
- Posso abrir,
vovó?
Antes de
responder à pergunta da neta a mulher correu seu olhar para os olhares dos
doutores presentes a fim de descobrir o que eles pensavam sobre o pedido.
Depois de alguns segundos de reflexão um deles respondeu:
- Pode deixá-la.
A garotinha
esboçou um largo sorriso, pegou o objeto com cuidado das mãos da avó, colocou-o
gentilmente sobre a mesa, esticou os braços em direção ao chão e ao lado das
pernas, evidenciando certa ansiedade, gesto este que levou apenas alguns
segundos, e, depois de um suspiro, levou sua mão direita até a base do objeto,
pegou em sua borda, mais ou menos no centro, e girou-a para o lado esquerdo.
Para a surpresa de todas as autoridades escolásticas presentes, algumas
palavras grafadas surgiram no topo superior esquerdo da área exposta. Logo
abaixo, centralizado, havia uma gravura.
- Como Chama
isso? perguntou o mestre.
- Livro -
respondeu a netinha!
Roberto Policiano