Roberto Policiano

20 de ago. de 2014

Direito de ir e vir




Seis horas da manhã, ao passar perto de um ponto de ônibus, viu uma mulher que, para ganhar tempo enquanto esperava a condução, segurava seu espelho e um pequeno estojo de maquiagem na mão esquerda e um pequeno pincel na mão direita. No momento em que a viu o instrumento roçava suavemente, num movimento de vai e vem, a testa da cidadã.

Passados dez minutos, quando voltava da padaria carregando um saco de pães ainda quentes, encontrou a mesma mulher dando os últimos retoques nos olhos com um lápis que lhe pareceu que deslizava no globo ocular dela.

Pouco de tempo depois, ao passar pelo mesmo local a fim de buscar açúcar, cuja falta só descobriu quando foi preparar o café, encontrou a mulher ainda na espera do transporte. Desta vez estava lixando as unhas das mãos.

No retorno, já de posse do açúcar, encontrou-a passando esmalte na unha do polegar da mão esquerda. “Como a condução está demorando hoje”, pensou enquanto caminhava sem tirar os olhos dela que, entretida com o que fazia, não percebeu a curiosidade do transeunte.

Após quase trinta minutos ele chegou com a sua mochila a fim de tomar a condução que o levaria ao seu local de trabalho. Ela continuava lá. Suas unhas já estavam pintadas e secas, mas nada do ônibus. Suas expressões delatavam o seu descontentamento com a demora, o que é perfeitamente compreensivo.

Passaram-se mais alguns minutos e, como o transporte teimava em não chegar, a mulher abriu a bolsa, retirou a lixa, sentou-se na calçada, tirou os sapatos, e começou a lixar a unha do dedo grande do pé esquerdo!
 
 
Roberto Policiano