Enganos
Braulênio era um sujeito
metódico que antes de usar o banheiro fazia questão de encharcar uma folha de
papel toalha com sabonete líquido e limpar toda a borda do vaso sanitário,
forrando-o antes de sentar-se. Certa vez, sentido que chegara a hora de ‘ocupar
o trono’, executou o ritual de iniciação e esperou pelo resultado. Não
aconteceu nada! “enganei-me, pensou ele”. Desolado saiu da ‘casinha’ e lavou as
mãos demoradamente, após o que, desinfetou-as com álcool em gel que sempre levava
consigo. Não passou nem vinte minutos e novo aviso – agora bastante convincente
– convocou-o para o sanitário. Feitos os procedimentos preparatórios, ocupou o
seu lugar, e aguardou. Novo alarme falso. Após cumprir nos mínimos detalhes as
etapas de higienização de pós-uso privativo, retornou à sua sala. Menos de uma
hora mais tarde foi convidado pela natureza a ocupar o recinto onde se costuma
atuar sem ser observado. Limpeza – forração – ocupação - espera inútil. ‘Devo
ter comido ou bebido alguma coisa que alterou meus intestinos’, pensava ele
enquanto usava o lavatório. Para não alongar o assunto, o alarme falso o fez
deslocar de sua mesa por mais três vezes.
Já passava das dezesseis
horas quando seu organismo o intimidou novamente. Daquela vez, no entanto,
resistiu. Um movimento intestinal barulhento o alertou que o alarme era
verdadeiro, mas ele, ofendido com tantas trapaças, ignorou. Quando a
insistência nos sinais gerou certo desconforto, concluiu que não passava de
gazes que pediam liberdade. Correu para o banheiro e atendeu à pretensa
solicitação interna. Franziu a testa, arregalou os olhos, levantou as sobrancelhas e, enquanto corria para o vaso sanitário, pensou:
- Enganei-me novamente!
- Enganei-me novamente!
Roberto Policiano
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home