Roberto Policiano

6 de ago. de 2014

Enganos




Braulênio era um sujeito metódico que antes de usar o banheiro fazia questão de encharcar uma folha de papel toalha com sabonete líquido e limpar toda a borda do vaso sanitário, forrando-o antes de sentar-se. Certa vez, sentido que chegara a hora de ‘ocupar o trono’, executou o ritual de iniciação e esperou pelo resultado. Não aconteceu nada! “enganei-me, pensou ele”. Desolado saiu da ‘casinha’ e lavou as mãos demoradamente, após o que, desinfetou-as com álcool em gel que sempre levava consigo. Não passou nem vinte minutos e novo aviso – agora bastante convincente – convocou-o para o sanitário. Feitos os procedimentos preparatórios, ocupou o seu lugar, e aguardou. Novo alarme falso. Após cumprir nos mínimos detalhes as etapas de higienização de pós-uso privativo, retornou à sua sala. Menos de uma hora mais tarde foi convidado pela natureza a ocupar o recinto onde se costuma atuar sem ser observado. Limpeza – forração – ocupação - espera inútil. ‘Devo ter comido ou bebido alguma coisa que alterou meus intestinos’, pensava ele enquanto usava o lavatório. Para não alongar o assunto, o alarme falso o fez deslocar de sua mesa por mais três vezes.
Já passava das dezesseis horas quando seu organismo o intimidou novamente. Daquela vez, no entanto, resistiu. Um movimento intestinal barulhento o alertou que o alarme era verdadeiro, mas ele, ofendido com tantas trapaças, ignorou. Quando a insistência nos sinais gerou certo desconforto, concluiu que não passava de gazes que pediam liberdade. Correu para o banheiro e atendeu à pretensa solicitação interna. Franziu a testa, arregalou os olhos, levantou as sobrancelhas e, enquanto corria para o vaso sanitário, pensou:
- Enganei-me novamente!



Roberto Policiano