Salmões do pacífico
Chega a hora de partir.
A viagem é longa, cansativa e perigosa.
O êxodo é iniciado.
O imenso cardume sai do Oceano Pacífico.
Seu destino é a água doce e gelada.
Os salmões são esperados por orcas,
Leões marinhos,
Tubarões
E aves de rapina.
Todos estão famintos.
O encontro torna-se, para muitos, o fim da viagem,
Mas a maioria segue nadando.
O primeiro ponto de espera é um riacho pedregoso e raso.
É preciso vir a chuva para prosseguir.
Quando ela finalmente chega a viagem é retomada.
O barulho das corredeiras indica que a parte penosa do
trajeto está perto;
Além de nadar é preciso pular para escalar cachoeiras,
Mas os viajantes não desistem.
Novamente se deparam com águas rasas.
Um bando de ursos espera para recepcioná-los.
Novo banquete acontece.
Poços mais profundos os protegem dos predadores,
Mas podem tornar-se armadilhas onde muitos são vitimados por
bactérias.
Novas chuvas incentivam a retomada da jornada.
O cardume, reduzido, mas ainda imenso, segue na trajetória.
Novas cachoeiras precisam ser escaladas, onde os ursos,
ladeando-as, esperam pela refeição.
Os salmões seguem em frente, uns pulando para a vida, outros
para a morte,
Pois é imperioso continuar.
Três mil quilômetros depois os migrantes chegam ao destino
exaustos e famintos,
Mas o lugar não está solitário;
Dezenas de ursos os aguardam.
É preciso acumular gordura para o próximo período de
hibernação!
Na situação em que se encontram os peixes quase não oferecem
resistência.
Aves de várias espécies chegam para a festa;
Há comida em abundância para todos.
Os sobreviventes podem finalmente cumprir a missão de procriar.
Milhões de ovos serão fecundados,
Mas os pais não conhecerão sua prole;
Todos, machos e fêmeas, morrerão de exaustão.
A missão não termina com a morte.
Suas carnes alimentarão muitas espécies – cerca de duzentas.
Além do Mais, os nutrientes de seus corpos servirão para
alimentar animais e plantas,
Muitos deles vivendo a quilômetros de distância.
Os ovos fecundados tornam-se iguarias apreciadas
Por outras espécies de peixes e bandos de aves migratórias;
Outro banquete dizima os salmões mesmo antes de eles
nascerem.
Finalmente os alevinos aparecem,
A maioria deles para ser devorada por predadores famintos.
Os sobreviventes, terminado o período de berçário,
Iniciam a viagem em direção ao Oceano Pacífico.
A maior parte deles sucumbirá no trajeto longo e perigoso.
Apenas quatro por cento deles chegarão sãos e salvos.
Passarão a vida no Oceano Pacífico.
No momento propício eles tentarão retornar às águas doces e
geladas para, talvez, deixarem descendentes.
Roberto Policiano
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