Roberto Policiano

21 de jul. de 2008

Cara a Cara


Acordou com uma sensação estranha. Parecia que lhe faltava alguma coisa, embora não soubesse precisar o quê. Enquanto a água morna do banho percorria seu corpo, sentiu um vazio incomum. O que é isso? pensou. À mesa, enquanto comia apressadamente, como fazia todos os dias, percebera que levara consigo aquele sentimento estranho. Antes de sair foi até o espelho do quarto para inspecionar sua aparência. Assustou-se com o que viu. Sua imagem estava com os braços cruzados e uma cara desse tamanho. Antes de recuperar-se da surpresa ouviu sua imagem dizer:
- Sabe o que é essa sensação de vazio?
Olhou para trás a fim de encontrar quem lhe dirigia a palavra.
- Sou eu mesmo que estou falando - a sua própria imagem.
- Mas... como?
- Como isso aconteceu não importa nada aqui, mas, sim, por que isso aconteceu.
- O que você, ou eu, sei lá, quer dizer com isso? O que está acontecendo comigo? Estou falando com minha própria imagem.
Examinou cuidadosamente em volta do espelho pensando tratar-se de um truque.
- Como sempre você não quer acreditar, não é verdade?
- Mas o que está acontecendo aqui? perguntou num tom que evidenciava pavor.
- Se tiver um pouco de paciência posso lhe explicar.
- Que paciência que nada, preciso correr senão me atraso.
- Esse é o seu problema. Vive correndo tanto que nem tem mais tempo para você. Esse vazio que lhe incomoda é saudade. E sabe de quem? De você! Pare e pense um pouco, só um pouco, por favor. Aonde chegará com essa pressa? Faça uma reflexão e contabilize, se conseguir, quanto tempo tem reservado para você. Sua ocupação é tanta, seus compromissos são tantos, tem corrido tanto para...
- Sinto muito, mas não posso esperar mais. Outro dia a gente conversa.
Saiu correndo para não perder a hora. Nem reparou nas lágrimas que rolaram no rosto de sua própria imagem.
Roberto Policiano

10 Comments:

At 12:23 PM, Anonymous Anônimo said...

É isso mesmo, os dias passam, os meses sucedem-se, as estações giram e, um dia, quando reparamos em nós, não nos reconhecemos.
Tem aqui um belo texto, amigo Roberto.

 
At 4:20 PM, Anonymous Anônimo said...

Ana, Obrigado pela visita e comentário. Eles são muito importantes para mim. Um grande abraço

 
At 6:18 PM, Anonymous Anônimo said...

Este texto me fez pensar. Muito bom.

 
At 9:00 AM, Anonymous Anônimo said...

Olá Roberto( me desculpe, mas para mim ainda você é o Rui)!
Parabéns pelos textos do blog, estão excelentes! Continue assim...
Você merece ter seu material publicado, continuarei acompanhando o seu blog. Do admirador do escritor Roberto e do amigo do Rui. Um grande abraço!
Ricardo

 
At 2:22 PM, Anonymous Anônimo said...

Ai, ai. Dá até medo de olhar no espelho, não dá?
bjs
Kika

 
At 7:13 PM, Blogger Camis said...

Oi rui...

Muito Bom!

Me fez refletir (tbm)rs

Mas sabe uma coisa que eu reparei agora, você nunca escreve nada na primeira pessoa..rs.. Gosto do jeito como vc escreve, não é uma critica, só um comentario, como diz o nome desse "campo"

Um abraço!

Saudades!

 
At 3:41 PM, Anonymous Anônimo said...

Roberto, este texto assusta, principalmente porque aponta uma verdade que incomoda. Mas como fugir dessa rotina maluca?
bjs

 
At 6:22 PM, Anonymous Anônimo said...

Esse negócio de falar consigo mesmo no espelho é loucura. Tô fora!

 
At 4:23 PM, Anonymous Anônimo said...

Cara a cara mexeu comigo! Gostei muito do texto, Roberto, parabéns.
bjs
Tathy

 
At 2:54 PM, Anonymous Anônimo said...

Caros amigos e amigas, obrigado pelas visitas e comentários, pois, sem eles, o blog não teria sentido. Obrigado pelos elogios e incentivos. Um grande abraços a todos.
Roberto Policiano

 

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