Roberto Policiano

4 de ago. de 2008

O Resgate


Os dois meninos caminhavam tranqüilamente quando, ao passarem perto de uma viela, ouviram um garotinho que, chorando e suspirando, lamentava a perda do seu caminhãozinho que ganhara, havia duas semanas, de seu tio. A avó, a fim de consolar a criança, tentava de tudo, sem, no entanto, obter sucesso.
- Pega ela pra mim, vovó, pega ele pra mim.
- A vovó não consegue, Zizinho, o poço é muito fundo.
- Mas eu quero meu caminhão de volta, vovó, dizia ele entre um soluço e outro.
Nisso os dois transeuntes chegaram onde a avó e o neto conversavam.
- Onde está o seu caminhão? Perguntou um dos visitantes.
- Lá naquele poço, disse o garotinho apontando o lugar com a mão direita, enquanto usava o braço esquerdo para enxugar as lágrimas que banhavam seu rosto.
- Não cheguem muito perto que o poço é fundo, alertou a anciã.
No entanto, antes dela terminar a frase os dois meninos já estavam na beirada do poço esticando pescoço na tentativa de enxergar o fundo do poço.
- Parece fundo, disse um deles, não dá pra ver nada.
‘Espere um pouco’, disse o outro e, virando-se, saiu olhando atentamente para o chão, como que procurando por algo. A cerca de três metros de distância, agachou-se, pegou algo, e voltou rápido para junto do outro. Era uma pedra de tamanho significativo.
Os dois, quase que ao mesmo tempo, dirigiram um dos ouvidos em direção ao poço e, aquele que trouxe a pedra, largou-a dentro do buraco. Os dois ficaram com os ouvidos apurados por alguns segundos até ouvirem o baque do encontro da pedra com o solo.
- É fundo!
- Será que dá pra descer?
- Acho que dá. Quer tentar?
- Não, meus filhos, não façam isso, disse a avó que, a uma distância segura, assistia a tudo segurando firmemente a mão do seu netinho.
- Não se preocupe, senhora, estamos acostumados com isso.
E, para provar o que acabara de dizer, foi, junto com o outro, à procura de um tarugo que pudesse auxiliá-los na empreitada. Passados cerca de dois minutos um deles levantou um pedaço de madeira em uma das mãos e gritou:
- Achei um bom!
Imediatamente os dois correram até o poço e, aquele que achou a ferramenta de trabalho, deitou de bruço perto da boca do poço e, usando o pedaço de pau que achara, fez um buraco de cerca de dez centímetros de diâmetro por cinco centímetros de profundidade na parede interna do poço, a, aproximadamente, trinta centímetros da borda do poço, após o que passou a ferramenta para o companheiro, que já estava deitado na mesma posição que a do primeiro e, de posse do tarugo, fez um buraco semelhante no lado oposto.
A seguir, para o desespero da senhora que assista a tudo, o que cavara o primeiro buraco, entrou no poço e, com as costas apoiadas num dos lados da parede do poço e os dois pés fincados na parede oposta, desceu cerca de meio metro e fez um buraco na mesma medida que os primeiros a cerca de quarenta centímetros abaixo do que fizera antes. Desceu mais um pouco e fez um terceiro, deixando o mesmo espaço entre eles. Como a posição era incômoda e cansativa, saiu do poço e entregou o tarugo ao outro que, descendo do lado oposto, cavou dois buracos mais ou menos no mesmo nível que os anteriores.
Depois de cerca de quarenta minutos de trabalho, sempre em revezamento, havia duas trilhas de buracos, uma em frente à outra, que os aventureiros usaram como escada. Com as pernas abertas colocaram um pé em cada buraco e, à medida que desciam, abriram os braços e usaram os buracos que ficavam para trás como apoio para as mãos. Foi assim que os dois, para a angustia da senhora e a alegria da criança que, entendendo a manobra, esboçou um largo sorriso, enquanto seus olhos brilhavam de contentamento.
Alguns minutos depois os meninos ressurgiram trazendo o brinquedo, objeto de todo o empreendimento, amarrado às costas de um deles, que, como tinham que usar as mãos e os pés na subida, tiraram suas camisas enquanto estavam em baixo do poço e uniram-nas com um nó e, com essa corda improvisada, amarraram o caminhãozinho contra o corpo de um deles.
Era um caminhãozinho vermelho e branco de carregar combustível. A cabine era articulada e o tanque podia ser engatado e desengatado ao bel prazer da criança que porventura brincasse com ele.
A euforia do menino ao receber seu brinquedo de volta e a fisionomia de incredulidade da avó é indescritível, assim, não ousarei a isso.
A senhora, depois de agradecer uma infinidade de vezes aos dois meninos, saiu levando seu netinho seguro pela mão que, enquanto apertava desajeitadamente o brinquedo no peito com o braço, cuja mão era segura pela avó, andou por alguns momentos com a cabeça virada em direção aos meninos e, enquanto sorria um sorriso de agradecimento, acenava com a mão livre para despedir-se dos dois heróis, tudo isso, evidentemente, atrasava a marcha da avó.
Os dois meninos, depois de assistirem a retirada daqueles, desceram novamente até o fundo do poço a fim de explorarem melhor o ambiente na esperança de achar algo interessante que porventura tivesse caído por lá. Como não obtiveram sucesso, saíram depois de alguns minutos e, depois de baterem levemente um nos outros para tirar a terra que ficara com a aventura, continuaram sua caminhada à cata de mais um desafio.

Roberto Policiano

7 Comments:

At 2:27 PM, Anonymous Anônimo said...

Olá Rui Roberto!
Muito bom o texto "O Resgate" aguardo o próximo.
Abraços,
Ricardo

 
At 10:25 AM, Anonymous Anônimo said...

Oi Rui
Bom dia
Voltei uns 40 anos.
Obrigado
Walter

 
At 5:29 PM, Anonymous Anônimo said...

Taí, dessa aventura eu gostei. Totalmente radical!

 
At 1:21 PM, Anonymous Anônimo said...

Fiquei com medo dos dois meninos cairem no poço. Felizmente tudo acabou bem!
bjs
Kika

 
At 3:02 PM, Anonymous Anônimo said...

Olá amigos!
Obrigado pelas visitas e comentários. Voltem sempre. Um grande abraços a todos.

 
At 6:07 PM, Blogger Camis said...

Que lindo!

Isso aconteceu de verdade??

 
At 5:22 PM, Anonymous Anônimo said...

Camis, por incrível que pareça, aconteceu. Embora alguns detalhes não são reais, a descida realmente aconteceu e, creia-me, foi emocionante!
Um grande Abraço

 

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