Roberto Policiano

30 de dez. de 2010

Escalada



Ele viajava com um grupo de amigos quando o veículo passou perto de uma montanha. Imediatamente teve sua atenção atraída para ela. Nunca praticou alpinismo, mas sentiu uma vontade incomum de alcançar aquele topo. Desligou-se dos amigos e fixou seus olhos na montanha que, com a velocidade em que viajava, ficava cada vez mais distante. Foi atração à primeira vista, pensou consigo. À medida que a viagem prosseguia, no entanto, esqueceu o assunto e voltou ao grupo de amigos que, aparentemente, nem notou o acontecimento.
Oito anos depois ele viajou até a montanha para “vencê-la”. Estacionou o carro em frente a uma pequena casa do interior a fim de conversar com seu proprietário. Um rapaz atendeu ao chamado. Explicou-lhe o motivo de estar ali e pediu permissão para passar pelo terreno da propriedade a fim de alcançar seu objetivo. O moço, muito solícito, apesar do pedido estranho, informou que o caminho inicial não era muito fácil, mas poderia ser percorrido e, querendo contribuir para a realização daquele desejo incomum – talvez achasse graça consigo e pensasse que fosse esquisitice de morador de cidade grande – se dispôs a servir de guia no primeiro trecho da aventura, o que foi muito apreciado pelo aventureiro.
A caminhada se deu num emaranhado de plantas de vários tamanhos e formato até chegar a um rio que, embora não fosse muito profundo nem tão largo, suas águas desciam com velocidade razoável e seu leito era coberto de pedras e galhos, de modo que qualquer descuido, embora não fosse fatal, terminaria num batismo forçado. A ponte para atravessá-lo nada mais era do que uma árvore tombada cujo tronco alcançava as duas margens. Era uma travessia curta de aproximadamente quatro metros de comprimento. A altura também não assustava, pois não chegava a três metros. Mas o barulho da água correndo entre os obstáculos que se encontravam no leito do rio causava certa apreensão. Bem, raciocinou, quem vai atrás de aventura acha, e partiu para o desafio. A empreitada foi realizada sem nenhum acidente. Quinze minutos depois o guia cumpriu o seu papel e voltou imediatamente, aconselhando, antes, cuidado no trajeto tanto na ida quanto na volta.
O caminho que levaria ao seu objetivo não assustou em nenhum momento. A subida foi realizada sem nenhuma dificuldade e não demorou nem duas horas. Ao atingir o topo da montanha, no entanto, uma sensação de vitória invadiu suas entranhas e um contentamento tomou conta de seu ser. Havia uma pedra imensa que, evidentemente, fez questão de subir. Lá do alto fez um giro vagaroso de 360 graus examinando cada palmo do horizonte. Era uma região montanhosa. Quase todas as montanhas estavam cobertas de vegetação. A sensação de paz que sentiu é indescritível. Depois do impacto inicial, abriu os braços para o alto e para os lados e, fechando os olhos, sentiu o vento batendo em seu rosto e esvoaçando seus cabelos, dando-lhe a sensação de que voava. Talvez induzido por isso desceu da pedra num salto de vitória. Porém, assim que seus pés alcançaram o solo sentiu uma sensação estranha. Um cheiro acre invadiu imediatamente suas narinas. Olhou imediatamente para os pés e os encontrou enterrado num monte enorme e fresco de esterco bovino! Como? Olhou mais detidamente o entorno, não mais no horizonte, e sim para o chão e percebeu que, do lado oposto da encosta por onde subira, havia, a menos de um quilômetro, uma chácara. Viu a boiada pastando ao longe. Uma estradinha de terra batida e de fácil acesso permitia que os bois chegassem ali sossegados. Olhou novamente para os pés carimbados. De repente uma sensação de riso tomou conta de si. Teve que se escorar na pedra para se manter de pé. Aquela aventura, que teve que esperar oito anos para acontecer, nem era uma aventura. Que me importa? Perguntou a si mesmo. Do meu ponto de vista eu escalei a montanha, e isso é o que importa.Bateu o pé para se livrar do excesso de esterco e permaneceu no local por cerca de meia hora contemplando aquela visão magnífica. Depois, com a alma extasiada pelo seu grande feito, iniciou a descida com quem deixa para traz o Monte Everest.

2 Comments:

At 8:01 PM, Anonymous Ana said...

Eis uma aventura quase ao jeito das de Indiana Jones. :)

 
At 10:06 AM, Anonymous Roberto Policiano said...

Pelo menos a montanha da imagem lembra o grande aventureiro! Abraços

 

Postar um comentário

<< Home